sábado, 23 de janeiro de 2010

Texto em construção

Tornou-se já um lugar-comum verdadeiramente incontornável e até um pouco maçador pela constante repetição deparar na imprensa com referências [que são praticamente diárias] à "crise" aguda, profunda, das economias ditas, em geral, eufemisticamente "ocidentais".
Para os mídia do "Ocidente", a "crise" em causa é basicamente uma crise de competitividade do próprio sistema tecnocapitalista como todo---uma crise no imediato induzida pela desmesurada e descontrolada "financeirarização" da economia---tratando-se de uma situação que poderá supostamente ser "resolvida", pois, com o aumento substantivo daquela competitividade, por sua vez alcançado com medidas mais ou menos "estratégicas" e sistémicas [investimento na Educação e quejandos---todos conhecemos o discurso oficial dos advogados do 'regime'...] a meias com outras "de emergência" que alegadamente manteriam o sistema "a respirar" até que as primeiras, as tais miríficas medidas "de fundo" viessem a prazo resgatá-lo "definitivamente".
Todos os dias, repito, ouvimos este discurso com pequenmas alterações de conveniência---e/ou 'estilo'.
Vêm, ainda, os tais "advogados" do sistema massacrar-nos reiteradamente os ouvidos e o espírito com elogios [e incitamentos formais] à contenção na despesa envolvida com o funcionamento global do sistema [resumidamente referida apenas como "despesa"] e, cumulativamente [é o tal motivo que envolve a competitividade e o seu aumento] a outros incitamentos ao aumento da "receita".
Ora, primeiro do que tudo há que perceber muito claramente uma coisa: quando falamos de "despesa" aquilo de que efectivamente estamos a falar é das despesas com o funcionamento do próprio sistema, i.e. dos fundos "estrategicamente" investidos no próprio sistema a fim de que ele não mude.
Dos 'custos da conservação', do "preço" a pagar pelo conjunto da sociedade coma manutenção primariamente imutável do sistema.
Apenas a "fé" dos que o defendem permite sustentar e fundamentar na base este posicionamento teórico e especificamente ideológico: a fé de que o sistema possui meios para regenerar-se continuamente---desiderato no contexto do qual a utilização verdadeiramente sistémica do Estado [impropriamente] chamado "Social" desempenha, por sua vez, um papel primordial.
Crucial.
De facto, como adiante veremos com mais pormenor, com este conceito de "Estado Social" passa-se algo de singular---e característico, geralmente ignorado por quantos reflectem ou dizem reflectir sobre o funcionamento do próprio sistema como tal e que é a sua utilização, volto a dizer: sistémica mas também disfuncional, alienada---secundária e alienada---como ferramenta do próprio sistema, como um dispositivo de segurança deste e não, como muitos se obstinam, porém, candidamente em pensar como um meio de huimanizá-lo e de proteger "generosamente" as suas vítimas.
Este ponto é muito importante porque permite evidenciar os dispositivos e expedientes astuciosos que o sistema utiliza para "se agarrar" firmemente à História fingindo mudar e evoluir com ela e como ele utiliza, justamente, em seu proveito aquilo que, na origem, constituía um projecto de civilização politicamente autónomo [i.e. não estruturalmente refém de um sistema económico e da necessidade primária de "argumentá-lo" e "justificá-lo" em todos os casos, sendo, pois, utilizado o projecto de civilização em causa e as instituições que permitiam dar-lhe corpo não já como uma via teórica aberta e livre para a mudança da própria História a novas formas e modelos de si mesma basicamente orientados para o bem estar das sociedades mas, exactamente ao invés, como um meio de evitar que a História---com o referido modelo económico político imutável no seu interior mude]

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