sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"Gary Cooper e Grace Kelly 'leading couple' do clássico «High Noon» de Fred Zinnemann" [Texto em construção]

Falo deste clássico absoluto de Fred Zinnemann, de passagem, noutro lugar recente, do "Quisto".

A ele me refiro dizendo que é, entre outras coisas, um amargo repositório contra o maccarthyismo ao qual se refere oblíqua, mas ainda assim reconhecivelmente, no modo como equaciona a absoluta solidão de um homem abandonado pela cobardia de todos quantos o rodeiam, por um lado, e por outro, a dramática necessidade por ele sentida relativamente à assunção de um posicionamento pessoal, de algum modo, moral, ético---posicionamento esse profundamente ingrato e particularmente difícil de assumir devido precisamente ao preço que, por ele, é, em última instância, necessário pagar.
Volto a referir-me aqui a "High Noon" partindo para o efeito de um fotograma que me parece, aliás, particularmente eloquente e feliz de uma perspectiva, chamemos-lhe 'estrutural' e/ou semiótica.

Alguns aspectos desta possível abordagem:

a) a direcção e o sentido radicalmente divergentes dos olhares na imagem: tal como a sequência foi encenada [e, se encontra, no fotograma, 'cristalizada'] os olhares das personagens de 'Coop'/'Will Kane' e de Grace Kelly/'Amy Fowler' expressam, na sua divergência física, espacial, a tensão e a relativa ruptura resultantes, em termos especificadamente narrativos, da 'distância subjectiva' que separa circunstancialmente ambas, potenciando a sugestão/ideia da absoluta solidão de 'Kane'.

b) O sentido particular do olhar de Kelly concitando o nosso próprio olhar [e, no limite, a nossa adesão de público à sua 'causa'] algo que é potenciado, adicionalmente, pela sua colocação em primeiro plano, com o rosto virado para «nós»;

c) O posicionamento do corpo de Kelly relativamente ao de 'Coop': Kelly está hirta expressando a postura do seu corpo assim como a sua colocação no espaço cénico [bem definidas ambas relativamente a este último: ela está, como disse, bem dentro do espaço, dominando-o no sentido em que é figura central e constituindo, de algum modo, a referência em termos do próprio 'espírito' que se desprende---do que, imitando um título célebre de Butor, poderíamos chamar o "génie"---da cena] determinação e firmeza enquanto que a postura de 'Will' transmite, exactamente ao invés, falta delas pelo posicionamento oblíquo ou 'obliquado' do corpo [algo que subjectivamente induz a sugestão de instabilidade e indefinição] sugestão que é adicionalmente potenciada pelo facto de ele se encontrar ainda não completamente dentro do compartimento numa postura que transmite, portanto, a impressão, sobretudo, de insegurança e de transitoriedade [o movimento do seu corpo exprime, de facto, um movimento imperfeito no sentido em que está, como disse, incompletamente definido---o corpo "surpreendido" a meio de qualquer coisa---sugerindo ainda possivelmente um pedido de assistência para a sua própria 'causa'.

d) As mãos de Kelly: ela tem uma posição de firmeza, como disse, mas há nesta matizes.
Há drama no sentido em que ama 'Will' e achando, embora que ele não deve enfrentar os 'Millers', não o abandona: as mãos expressam, assim, a angústia, o dilema que ela vive.

e) A roupa escura, 'sombria', de 'Will' [a dúvida, a hesitação, o problema] e o vestido branco de Kelly: o dia e a noite, a luz e a sombra em tensão/presença.

A escuridão, a sugestão de negro e de sombra vêm ao encontro dessa 'linha sugestional' genérica que aponta sempre no sentido da angústia terrível de ter de fazer opções dolorosas [o não estar, de algum modo, 'nem cá nem lá' na imagem, no espaço, na Terra---a morte impendente, a sombra ou a sombras dela].


Estas algumas possibilidades de abordagem e leitura ou 'leituração' semiótica de um fotograma extraído de um filme onde o medo e a amarga solidão mas, também, a coragem dramaticamente solitária e são, de facto, os motivos dominantes, todos eles, de algum modo, directa ou indirectamente representados na imagem.


Anexo:

"Do Not Forsake Me, O My Darling"/Ned Washington-Frankie Laine
[Canção tema do filme "High Noon"]

High Noon (Do Not Forsake Me)

Artist: Frankie Laine as sung on "Frankie Laine's Greatest Hits"

Columbia CS 8636,
peak Billboard position # 5 in 1952

Academy Award-winning title song
sung by Tex Ritter
in the film starring Gary -Cooper and Grace Kelly

Words and Music by Ned Washington and Dmitri Tiomkin

Do not forsake me, oh my darlin'
On this, our weddin' day
Do not forsake me, oh my darlin'
Wait, wait along

I do not know what fate awaits me
I only know I must be brave
And I must face a man who hates me
Or lie a coward, a craven coward
Or lie a coward in my grave

Oh, to be torn 'tweenst love and duty
S'posin' I lose my fair-haired beauty
Look at that big hand move along
Nearin' high noon

He made a vow while in state prison
Vowed it would be my life
or his'n I'm not afraid of death
but oh
What will I do if you leave me?

Do not forsake me, oh my darlin'
You made that promise as a bride
Do not forsake me, oh my darlin'
Although you're grievin',
don't think of leavin'
Now that I need you by my side

Wait along,
Wait along
Wait along,
Wait along
Wait along,
wait along,
wait along,
wait along.

[Transcribed by Robin Hood in lyricskeeper.com]

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