Não simpatizo intelectualmente lá muito [para não dizer simplesmente: não simpatizo rigorosamente nada e rejeito-as sem hesitar!] todas as generalizações e as tipificações por definição, abusivas com que uma certa subfilosofia comum adora 'substanciar' as suas invariavelmente fragéis e insubstantivas formulações.-
O tipo de "discurso analítico" que passa a "vida argumentativa e teórica" a dizera dizer: "os portugueses são", "os americanos gostam", etc. etc.
Fazem-me sempre lembrar aquela "semântica repulsivamente analfabruta" do discurso colonialiozante-tipo de há quarenta/cinquenta anos quando perorava do alto da sua erudução adquirida nas páginas do "Novidades" ou nas berças de uma província "interior e sem electricidade ou saneamento [também cultural ou sobretudo cultural...] básico" qualquer: "o preto é", "o branco pensa" e por aí fora num discurso tipificador a arruimador da realidade que era, afinal, a muralha de defesa argumentativa única da sociedade colonial para permanecer colonial quanto tempo fosse podendo e a deixassem...
Tenho, pois, razão, acho eu, para detestar qualquer discurso categorializxante e tipificador, sobretudo se emitido a partir da maior parte dos 'mídia pop' de hoje que é onde a tal interioridade física mas sobretudo mental e crítica faslha de saneamento básico se alojou nos tempos que correm.
É, por isso, com natural reserva de princípio que leio textos como o de Pedro Lomba no "Público" de ontem, 25, sobre "A América e a Europa".
Deu até concordo genericamente, reparem, com a análise histórica e antropológica---histórica e antroplogicamente sustentada---que Lomba faz da "América".
Concordo com aquela ideia de uns quantos europeus de [forçada] exportação vagamente reorganizados em país ou da absoluta inexistência mental e cultu(r)al habilmente pretextuada por uma constituição a que muitos se obstinam, contra toda a lógica, em chamar "país".
Isso é História, isso é [solidamente] antropológico.
Já discordo [e muito! E por completo!] daquela ideia têm uma "democracia" que não-sei-quê enquanto que uins tais "eutropeus" já possuem uma outra que não-sei-que-mais.
Que existe um "ethos americano" que "coiso, mas, exactamente ao contrário, não um europeu que... "coise", num sentido qualquer.
Essa do "ethos americano" e do "ethos zero" "europeu" que, pelo contrário, não "coisa" [nem sairá de cima?---pergunto eu] faz-me lembrar aquele soberbo poema do Dylan [quando o Dylan ainda era Dylan e não lhe tinha ainda dado para querer ser outra vez o Sr. Zimmermann] que eu já aqui recordei e que dizia qualquer coisa como: "I don' want to categorize you, simplify you or quality you".
É que o Dylan, nessa altura, sabia bem onde conduzem---a que "devious states of [human and political] mind" conduzem invariavelmente as "categorizations", "simplifications e qualifications"---sabia-o quando elas constituiam um património cultu(r)al e político da interioridade histórica, mental e física ainda sem jornais e televisões, muito antes, pois, de ela poder chegar às cabecinhas "livres" dos leitores de jornais e espectadores de televisão apanhados [ou "apanháveis"...] desprevenidos entre duas telenovelas e um concurso foleiro qualquer.
Entendamo-nos: o ethos de uma certa "americanidade" persistente e imperfeitamente reconvertida das suas origens genocidas e [forçadamente, convenho] assilvestradas é o "ethos" da pradaria convertido em "ethos".
É o "Buffalo Bill ao poder" erigido em ideologia de um vago Estado construído em labirinto, como o palácio do 'outro', para não entrar lá muita gente e, sobretudo, certa gente que roube as pistolas ao Buffalo ou meta o Custer onde ele devia há muito estar, apesar dos "esfotrços" do Fonda e até do Flynn para "branquear" a selvajaria sem nome e sem elevação---sem perdão!---que ele corporiza e configura.
A América "au jour le jour", como escrevia a Beauvoir, já tinha descoberto há muito no tal ethos supostamente assente num código por sua vez substanciado numa "cultura" [numa "cultura", "of all things"!] de "trabalho, responsabilidade individual" onde "a liberdade" não-sei-quê o fim da História de que chegou a falar o Fukuyama antes de fazer marcha atrás quando deu de caras com o Bush, o Iraque e esse "charabã", essa palinódia toda de iniquidades e abjecções "em fila indiana" ["Indiana"?! Oh!" Diabo!... "Native American", talvez...] atrás umas das outras à espera para entrarem finalmente em triunfo na História pela porta da frente desta e por fim com direito a serem recebidas como... chefes de estado, na linguagem chilra e sonsa dos clichés.
Com a terra roubada e a cobertura tranquilizante de um puritanismo de sentido único os "pioneers" fizeram um ethos de que ninguém ["et pour cause"...] os convence a largar mão!
De onde ninguém os arranca nem a tiro!
E têm boas razões para isso, como país que não são mas enfim: fingem, às vezes convincentemente ser.
O espírito Buffalo Bill dá-lhes força para mandarem uns índios abaixo e lhes ficarem com as terras.
Alguns, aliás, já traziam experiência da Europa de onde os correram por isso mesmo.
Já o puritanismo os abastece da culpa necessária para simularem uma humanidade que o reral raramente confirma e a existência de Reagans, Bushes e Bushes não ajuda nada a credibilizar.
"Acabar a História" e a percepção ou a consciência subjectiva e cultu(r)al dela, isto é, "fechar-lhe a porta à chave" do lado de dentro dela com os outros todos à porta ["Draussen Vor Dem Tur", como titulava um autor alemão conhecido dá um jeitão do caraças e um "ethos" giríssimo.
Sempre?
Para sempre?
Para sempre não mas enquanto a gente for podendo, é uma festa.
Para sempre não mas enquanto a gente for podendo, é uma festa.
Enquanto há dinheiro, tudo são rosas---até o que o não é nem se parece, como dizia o meu avô.
Com dinheiro, parece!
Assim, como digo, é fácil acabar a História e ir por ela fora exibindo o "ethos": abrindo o sobretudo e exibindo o ethos às senhoras...
... que são os comentadores crédulos e generosos para com certas abjecções muito bem disfarçadas de "cultura"...
A Europa?
A Europa não tem um "ethos" como o dos Estasdos Unidos ['o meu "ethos" é maior que o teu e essas coisas todas']?
Errado!
A Europa [não a das aspas, cozinhada em laboratório; não essa Europa "de síntese" dos Blairs, dos Barrosos e dessa "tropa fandanga" entravatada toda; desses "Doktor Caligari" que, dos seus "Kabinette" guardados a sete chaves, nos cortam a Europa toda aos bocados fingindo uni-la e a metem, depois, em latas como as de sardinha, para exportação]; a Europa, não a a indústria que a usa como matéria prima de neo-imperialismo refundado possui um ethos, sim senhor!
Ou possuía, até há pouco!
Era a diversidade cultural e era a longa História que havia dialectizado e, de algum modo, civilizado uma não menos longa tradição de exacções e abjecções que aqui acabaram por se ir educando e genericamente cultuivando e na "América" acharam terreno fértil patra, exactamente ao invés, se consolidarem e confirmarem na luta pelas terras dos índios e, logo a seguir, pelas dos que as vinham roubado aos índios que passaram a disputá-las, naturalmente, entre si...
A democracia europeias vinha de Aristóteles e de Platão na forma abstracta de um consciência e de uma ética que a Grécia, quando... "teve de se ir embora dela", entregou à História para que esta a convertesse, então, numa civilização, num ideal político e, claro, num ethos.
E ela esteve, aqui e ali, quase a consegui-lo, aliás.
Só falhou por pouco.
Num certo sentido, conseguiu-o mesmo, não falhou: na formação de uma consciência de "educada e estratégica, organizada" senão mesmo "orgânica"] persistente dissenção ou "dissensionalidade" [lembram-se dos Zolas e dos Dreyffus? Dos Sartres e das "questions algériennes"? Pois, aí têm! É isso! É esse o ethos europeu onde a Europa sem aspas , a Europa boa, a Europa, apesar de tudo---dos Blairs, dos Barrosos, agora até dos Sócrates e dos Sarkozys---viva tem ido [agora, se calhar, já perdeu em grande parte o jeito mas enfim...] consistentemente buscar energias para se revitalizar continuamente e mesmo reinventar regularmente "malgré tout", "malgré", às vezes, "elle même"...
Mas é justamente esse fermento de "educada dissenção" que ela aprendeu---que as suas elites, as verdadeiras, as fecundas, as dos Zolas e dos Sartres aprenderam---a interiorizar e a reprojectar conmtínua e, sobretudo, pluralmente sobre o conjunto da europeicidade a toda a volta, na forma de uma não menos educada insatisfação cultu(r)al e civilizacional orgânica, ínsita, aberta permanentemente à mudança e ao futuro que, ao menos na forma de uma [nada hegeliana, não confundam] Ideia a Europa tem por ethos e eu espero ardentemente como europeu que ela nunca perca nem ceda a deixar que se funda e uniformize, homogenize, num ethos de sinal único onde a História fique eternamente agarrada e condenada a não mais se mexer...
[Na imagem, edifício de Filip Dujardin, arq. belga, extraído de bozar.be]
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