Hoje, quando... "folheava" algumas memórias pessoais [bruscamente acordadas pela escrita de um 'post' para o blogue de uma Amiga especial em cujo blogue, de que sou 'visita' habitual, falava justamente de saudade] dei comigo a recordar os 'dias de chumbo'---e de algum medo para além de uma imensa e, também, para mim, completamente imprevista saudade---da minha já distante 'étapa de vida' bruxelense.
É um período que, por diversas razões, não me apetece especialmente recordar.
Há nele, todavia, instantes mais ligeiros, chamemos-lhes assim---alguns francamente divertidos como o das limpezas a que tive de me dedicar sem ter a menor ideia de como fazê-lo ou o do meu interrogatório na polícia conduzido [em inglês] por um grupo de agentes que, felizmente, da língua de Shakespeare sabia ainda menos do que eu de como usar uma esfregona e aquela inimaginável bateria de líquidos de todas as cores [que me informaram serem produtos de limpeza e que eu, mal cheguei, comecei, de imediato, a verter escrupulosamente, um após outro---num estilo muito... "um-dó-li-tá" e pessoal---no chão, sem ter a mínima noção do que iria acontecer a seguir...]; há nele, então, dizia, instantes mais ligeiros através dos quais gostaria de deixar fixada, sobretudo, na minha própria memória, esse período tão difícil mas, ao mesmo tempo, tão fecundo envolvendo uma forçada descoberta de mim que, desde aí, nunca mais cessou de ser feita ou, no mínimo, tentada, mas, agora, de modo mais espontâneo, voluntário, reflectido e [pelo menos, um pouco mais] organizado.
Houve, também, os acidentes com o eléctrico [ah! O eléctrico! As "estórias" que podia contar sempre com referência a este 'brinquedo' bilioso de várias toneladas com o qual decidi, um dia--um sábado de tarde, para ser mais preciso, com a leviandade verdadeiramente única e 'perfeita' da juventude aliada a um incurável desespero e a um temperamento naturalmente irreverente: tudo somado, uma mistura explosiva!...--- que havia de bater o record mundial de velocidade em eléctrico pelas ruas brumosas e tão característicamente solenes de Anderlecht, tentativa essa que acabou com a pesada "criatura" toda fora da linha e um "controlleur" irado e atarantado a tentar perceber o que acontecera...] ou outro de que resultou uma carrinha praticamente destruída, num dos poucos acidentes por mim protagonizados em que a culpa não terá sido [apenas?...] minha...
Essas são as coisas que pretendo recordar e que me vieram, de súbito e em caótico tropel ao espírito, no momento de deixar registado no blogue da minha Amiga algumas memórias que, com elas, de um modo ou de outro, se prendiam---coisas que retomo [no fundo, um pouco saudosamente] aqui, deixando-as adequadamente ilustradas com uma imagem do Polifemo com o qual eu e outros jovens portugueses, semeámos alegremente, com a ruidosa e descuidada irresponsabilidade dos vinte-e-poucos anos e a dificilmente reprimível fúria de gente do Sul forçada pela vida a exilar-se num país sem sol, o 'terror rodoviário' numa cidade que foi, por seu turno, durante muitos meses ou anos, no fundo, também, até por isso---por essa latina e "solar" cumplicidade que com ela, por via das nossas juvenis travessuras, estabelecemos---'a nossa'.
1 comentário:
Obrigado pela partilha desta aventura. Sinceramente fiquei sem palavras para a comentar, e tudo que posso dizer, é que há momentos e momentos na vida de uma pessoa, e que parece-me que este foi um deles.
Gostei muito da viagem que me proporcionou nas suas palavras.
Um abraço.
Enviar um comentário