terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Morreu Eric Ronhmer! Não Vou Nunca Perdoar Isto A... «Vocês-Sabem-De-Quem-É-Que-Eu-Estou-A-Falar-Ham»?!..."


Morreu Rohmer!

Não me apetece dizer mais nada!

Levei, de repente, um soco no estômago, um pontapé nos "coisos"!...

Não estou em maré de dizer o que quer que seja que tenha mais de um ponto de exclamação, duas vírgulas pequenas [mas enfezadinhas! Mais curtas e "marrequinhas" que as outras, ham?] e [vá lá!] dois substantivos...

Dois substantivos comuns, ham!...

Bem comuns!...

Polir textos!

Maquinar frasezinhas redondas, floridas, abauladas ao peso dos louvores, irrepreensivelmente alinhadas e bem-postinhas, isso não!

Hoje não!

Apetece-me mas é embirrar com alguém ou alguma coisa!

"Deus levou-o", diz, de repente, ao meu lado alguém obviamente mais dado às coisas a que chamam 'pias' e 'devotas' do que eu---lamentoso.

Desato imediatamente a esbracejar, a refilar, tipo Jardim mas completamente sóbrio e com menos palavrões .

Agarro-me, com unhas e dentes [com verdadeira ferocidade!] ao discurso azedíssimo que começo, de imediato, a proferir, ávido de uns momentos de alívio e distensão [assim tipo "sound-and-fury-and-signifying-nothing", estão a ver...]:

"E que queres tu que eu faça?

Que querem vocês que eu faça?!

Que meta por ele uma cunha ou duas ao Criador?

O Criador quer lá saber de mim ou das minhas cunhas!...

Liga lá ao que eu digo!

Eu e o Criador temos tido pegas danadas!

O homem mal me fala desde aquela vez em que eu chamei à água benta, água... sebenta!

Mal nos falamos, pronto!...

Se calhar, ainda ia ser pior!

Aliás, Deus, já com o próprio Rohmer não deve andar muito satisfeito...

"Deus é mais bolos", como diz uma ex-amiga minha do "Facebook", citando um cómico que antigamente havia.

"É mais tipo "Música no Coração" et al...

[Dizem-me que o menino Jesus gostou muito do "Sozinho em Casa-I" mas não pude confirmar: quando telefonei para... "", não estava ninguém: Deus tinha ido às compras com o S.Tiago e com o S. Janício, que era quase hora de almoço] e ninguém atendeu...

[São Janício? Terei ouvido bem? Não seria São Cachapimba ou São Perrumpumpum, São Banoiabão-Anacoreta-e-Mártir, sei lá! Um daqueles santos novos que andam sempre a fazer e que têm os nomes todos parecidos?...]

Agora do Rohmer!

Nem pó!

Se lá vou eu 'mexer na ferida' e digo: "Oh! Deus! Vê-me lá isso deste fulano que faz---fazia, pronto!...---uns filmes bestialmente inteligentes e cinematograficamente únicos, irrepetíveis, pessoalíssimos, quase perfeitos, sempre, de um modo ou de outro, irreverentes, incrivelmente estimulantes, sempre fantasticamente imprevisíveis e desconcertantes, alguns [como "Ma Nuit Chez Maud"] de uma inimitável "insolência plástica", todos eles de puro fascínio pelo imenso rigor, pela elegância ascética, quase provocatoriamente reflexiva, séria, fria e distante; que era, no fundo [sempre foi!] um "nouvelle-vaguista" do piorio; que desconcertava o pessoal todo [daquele tipo do São Judas Tadeu e da Santa Rita que se pelam pelos filmes americanos; do São Zebedeu que só vê filmes de "cóbóis" ou do São Crisóstomo que "é mais telenovelas"...
Esses, então, passavam uma fona com ele!];
ora, se eu vou lá e digo isso, Zac-zac-Sarapantão!
O Tipo [com maiúscula!] ainda "me" enfia o bom do Rohmer... Não! Não é onde toda a gente pensou logo! O que eu ia dizer era: numa arrecadação qualquer "Lá-do-Sítio" [tudo com maiúsculas!] e o pobre nunca mais de lá sai, à espera de transferência para outro serviço!...

Foi o que fizeram ao Sade e ao Burroughs---dois tipos fantásticos e grandes amigos meus---e olhem que não era do "Facebook", heim?!... e hão-de fazer, um dia, ao Saramago, não tarda nada, mal o apanhem a jeito que "Eles"---com maiúscula!---são como aquele "sectário de estrado" do Santana Lopes com uns bigodes que pareciam um guiador de bicicleta: perdoam tudo menos o génio, como dizia "o outro"!
Não desculpam o mais pequeno sinal de esclarecimento, originalidade ou lucidez.

Numa palavra, não têm a mínima tolerância para com o mais leve vestígio de génio seja de quem for!...]

Ná! O melhor é fingir que não sei de nada...

Alguma coisa se há-de arranjar!

Lá "Naquele Sítio" [com maiúsculas] arranja-se sempre "qualquer coisa"...

Um cantinho, um divã, sei lá!...

Pior ficámos nós que agora só já temos praticamente a Gabriela Canavilhas, as telenovelas da TVI e os livros do Rodrigues dos Santos!
Quer dizer: os outros é que blasfemam e coiso; fazem filmes e escrevem livros a dizer que "Deus et al" e a gente é que lhes espia as faltas!

'Tá bem, 'tá!

'Tá bonito isto!

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Eh! Pá! Morreu o Rohmer!

Oh Deus! Isso faz-se, porra?!...

4 comentários:

Ezul disse...

Acabei de ler no jornal.Relembrei o tempo em que, no canal 2, assistia a ciclos de cinema verdadeiramente interessantes, Romher era uma referência. Mas,neste dia, à minha volta (apesar do meu escasso conhecimento), nada consigo ouvir. Só este texto!

Carlos Machado Acabado disse...

E como eu gosto do Cinema que ele fazia, meu Deus!
Dele do Truffaut, do Molinaro, do Godard, do Malle, da Varda, do Resnais,do Franju, do Chabrol, eu sei lá!
Num certo sentido, a Nouvelle Vague [que eu conheci, durante muito tempo... "de ouvido"] foi, para mim, durante muito tempo também [até eu perceber o quanto essa visão tinha de redutor, a enorme injustiça que ela pressupunha], O Cinema...
Chueguei a ter uma verdadeira paixão, por exemplo, por um fabuloso "tour-de-force" narrativo feito com uma câmara que era "Ascenseur POur L' Échafaud" [que nem sequer---quão longe disso!---foi o melhor que ela produziu]...
Mas foi dos que cá chagaram, intactos, se bem me lembro, e uma revelação, para mim...
Enfim...
Da paixão [que acabaria por "fixar-se" sobretudo no Godard e no Truffaut] ficou uma memória de emoções, ao que tudo indica, irrepetíveis---de que é impossível dissociar nomes como o deste agora desaparecido Rohmer...
Quando ouvi a notícia, de manhã, levei MESMO "um soco no estômago"...
E o "resto"...

Ana disse...

E assim vamos perdendo aqueles que marcaram a nossa juventude, os anos da utopia. Ficam as memórias, que essas ninguém nos rouba!
Um texto magnífico, Carlos.

Carlos Machado Acabado disse...

Desgraçadamente, acabamos de perder AINDA mais, Ana!...
Obrigado pelas tuas amabilíssimas palavras, Ana!