Já aqui falei deles.
Com eles, construíu Richard Thorpe um dos seus mais competentes "objectos" de "relojoaria narrativa", conseguindo, a partir de uma deliciosamente improvável "estória" de Anthony Hope o que Hitchcock, por exemplo, conseguiu com outra de características em tudo genericamente idênticas de John Buchan ["The 39 Steps"] a saber: um filme dito "de aventuras", num certo sentido, verdadeiramente memorável onde tudo funciona, de facto, na perfeição---senão em matéria de verosimilhança objectual [algo que não é, porém, necessariamente essencial numa certa ficção mais ou menos pop e, ainda por cima, como é o caso, supostamente "juvenil"...] seguramente em termos de puro espectáculo visual e narrativo.
Está "lá" tudo: a beleza física das personagens [absolutamente deslumbrante, no caso de Kerr], o casting perfeito [Granger, o charmoso canastrão de sempre mas, também como sempre, com a argúcia necessária para ir habilmente reinvestindo essa característica no próprio---duplo---papel; James Mason exemplar, à época o vilão perfeito]; a ambiência magicamente indefinida e exótica no seu 'balcanismo' [em mais de um sentido, aliás] de [saudosa!] opereta vienense, o motivo do sacrifício nobre da renúncia cultu(r)almente muito motivador para as audiências da época [e não só das latinas...] em cuja visão do mundo ele estava---de mais de uma maneira, aliás---solidamente implantado via tradição judaico-cristã; enfim, com este segundo "The Prisoner of Zenda" cinematográfico [houve um anterior, de John Cromwell, com Ronald Colman no duplo papel de Rassendyl e do rei da Ruritânia e Madeleine Carroll no da princesa Flavia] Thorpe, que já tinha dirigido, por exemplo, um [neste sentido muito respeitavelmente comercial e pop] quase perfeito "Ivanhoe", "narrativamente geométrico" e competentíssimo no cirúrgico encadeamento da narrativa---de resto, uma das características mais estáveis e mais distintivas do eficaz cinema do realizador---alcança aqui, como disse, um dos seus momentos altos e referenciadores para o que definitivamente muito contribuíu a escolha do elenco, onde se contam ainda, ao lado deste par perfeito que hoje aqui comovidamente recordo, um sempre brilhante Louis Calhern, um actor magnífico [de quem Joseph L. Mankiewicz fez um César inesquecível ao lado de Marlon Brando, John Gielgud e curiosamente de James Mason, na sua versão da tragédia de Shakespeare] e, por exemplo, um discretíssimo mas sempre razoavelmente eficiente actor "de composição", Robert Coote, nos papéis respectivamente do 'Coronel Zapt' e de 'Fritz von Tarlenheim'.
Um filme que revejo regularmente---sempre, aliás, com a emoção e o encantamento com que o vi pela primeira vez [no extinto "Jardim"...]---porque nem só de 'génios puros' vive a genuína paixão pelo Cinema e, estou em crer, pela Arte, de uma maneira geral...
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