quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Profissão: Filho..."


Escrevo hoje para abordar uma questão muito... pós-moderna: a dos comentadores especialistas em... tudo.

Ora um desses peritos em "Tudologia Teórica" é o Dr. Saraiva.

Sim! Esse mesmo, o filho do António José e sobrinho do Hermano (sobrinho do... hermano?! Que confusão!).

Mas pronto! Deixemos de laxdo os dramas familiares (um desses dramas é o Dr. José António ser de profissão... filho.)

Filho é, como se sabe, das mais ingratas profissões (ou indústrias) conhecidas.

É uma chatice danada, a gente pergunta "O que é que fazes na vida?" e o pobre interpelado, para não ter de confessar: "Trabalho como filho--ou de filho--das nove às cinco" (como filho de um daquele quer chegou a ser um dos mais lúcidos ensaístas portugueses ou de uma das mais brilhantes poetisas nacionais, por exemplo) a ver se arranja uma profissão gira para dizer: "Sei lá! Digo coisas estúpidas, as mais estúpidas que me ocorrerem na altura, na televisão" ou "meto-me a comentar coisas de que não entendo um boi" e por aí fora.

É triste!

Não se coloca um homem numa situação ingrata, como essa!

É só por isso que eu não faço aqui nova referência a um deses filhos de carreira" que, agora, se meteu a comentar futebol e que, no futebol, é contra os penalties.

Que são injustos, imorais, eu sei lá!

A criatura tem para aí, não sei, cinquenta anos, os penalties uns cem, assinalam-se, marcam-se e falham-se onde quer que se jogue futebol no mundo mas ao homem deu-lhe para embirrar agora com eles e pronto!

Não há nada a fazer!

Deve ser a única pessoa no mundo que não percebeu ainda que só há penalties porque há jogadores que jogam e outros que, incapazes de opor-se-lhes com mero recurso à linguagem específica do jogo, não têm mais remédio senão recorrer a formas exteriores a essa linguagem (como recordo noutro lugar) e originar as tais penalizações ou penalidades com as quais o senhor tanto engalinha e que são a forma acada pelo jogo desde muito cedo a fim de repor a justiça neste e/ou voltar a trazê-lo para o domínio da sua semântica própria e particular.

No fundo, é como se dissessemos assim: duas pessoas civilizadas trocam acaloradamente pontos de vista, tentando mutuamente persuadir-se da bondade ínsita aos respectivos argumentos e posições.

Nada a dizer: trata-se de pessoas, como disse, civilizadas, falam a mesma língua ou as mesmas línguas (o mesmo idioma e, ao mesmo tempo, com exclusivo recurso aos argumentos ou às palavras em defesa das respectivas posições, tudo normal.

De súbito, um, porque lhe faltam exactamente esses argumentos e essa civilizada convicção de que as pessoas educadas o são também porque (ou, simplesmente, porque) acreditam que a força dos argumentos em caso algum deve substituir-se ao argumento da força) incapaz de convencer o interlocutor, desata à chapada a este.

E é, então, como se, perante essa deriva... meta-linguística tentássemos, ainda, argumentar a "imoralidade" de recorrer à Justiça para penalizar aquele que mandou o código civiliizado às urtigas e escolheu, em desespero e na falta de mais soluções, volto a dizer: civilizadas, recorresse, de repente, a "soluções" que ninguém duvidará são tudo menos precisamente civilizadas.

Ou seja: se ser civilizado tem regras e deveres--tem, se quisermos uma ética e até uma semântica próprias, jogar à bola também e quem não sabe tem de aprender ou... mudar de profissão.

De resto, o debate é completamene idiota.

Só há debate porque o articulista é do Belenenses e o seu clube terá sido, segundo ele, prejudicado por um penalty que não terá existido, correndo, agora, seriíssimo risco de baixar de divisão.


Sucede, todavia, que o articulista e militante anti-penalty articulista deve ser o único adepto a confundir uma prova de regularidade como um campeonato com uma prova a eliminar como as Taças e a julgar, em conformidade, que um clube que organiza um plantel racionalmente, que lhe dá condições e o prepara de forma criteriosa, que lhe paga a tempo e horas, que escolhe a equipa técnica adequada e por aí adiante desce de divisão apenas porque um árbitro se equivocou e assinalou um penalty que não devia ter assinalado.

É caso para dizer, como um velho professor de Latim meu do liceu quando nós, seus alunos, confundíamos o tenebroso genitivo latino com o não menos sinistro dativo ou vice versa: "Olhe! Sabe que mais--e com isto digo tudo: Xebolório, Acabado, cebolório!" (Que ele, que era beirão de gema, pronunciava adequadamente: "Xebolório, Acabado, xebolório".

Agora, é a minha vez de devolver o mimo (embora não ao seu autor original) sem pronúncia beirã mas com idêntico sentido e intenção críticos, dizendo (e com isto digo tudo...):

"Sabe que mais?

Cebolório, Dr. Saraiva, cebolório!"


[Na imagem: o grande Matateu, um ídolo, hoje esquecido, do velho "Belém", quando o "Belém" era um dos grandes e Matateu o maior, num daqueles saudosos cromos "de época" que fizeram as delícias da minha meninice!...]

2 comentários:

Alexandre Júlio disse...

É compadre Xebolório Acadado!

Como vão esses ossos, fixe!

Desculpem lá, tamanha ausência da Blogoesfera, mas na vida nem sempre temos tempo para tudo o que amamos, e as opções ás vezes levam-nos a adiar, coisas que gostaríamos de já ter realizado, desta calhou ao Blog.

Ao ti Carlos más a Tia, que trilharam tantas vezes, o caminho para o meu colmeal, abraços e beijinhos.

Alexandre.

Carlos Machado Acabado disse...

Devolvido com juros, "compadri"!
Que alegria "vê-lo" por aqui, homem!
O compadri é cum' àqueles aviões supersónicos que ainda mal a gente os viu já nos começou a doer o pescoço só de pensar na brasa aque vai ser preciso virá-lo para acompanhar a trajectória da "mánica"!...
Mas oh! Compadri, ainda , heim?...
Foi só pr'a meter combustível ou ainda por cá fica umas horaspara para a Comadrinha Catarica--e "inté le mandava" um outro para cada uma das suas abelhinhas se as maganas nã fossem tantas...