Retomo hoje, aqui, um assunto que me é, aliás, pessoal e profissionalmente, muito caro--aquele que envolve aspectos relevantes da «questão» educativa em Portugal, hoje--a partir de uma notícia do inevitável "Público".
Refiro-me ao artigo intitulado "Afinal as provas contam pr'a nota ou não, se'tora?!", da autoria de Graça Barbosa Ribeiro e divulgado na edição de hoje, dia 19 de Maio.
É, diga-se desde já, um daqueles textos que se lê, relê e vota a ler, tentando desesperadamente iludir as próprias evidências e acreditar que o fizemos incorrectamente das dez ou quinze vezes anteriores...
E, contudo...
...Contudo, para nossa desgraça colectiva nacional, o texto em causa é bem real e, pior ainda, constitui mesmo um retrato (ainda por cima, infelizmente bem fiel...) do estado verdadeiramente inimaginável e surrealista a que chegou a Educação entre nós, nestes últimos anos!
Imaginem (mas alguém pode, honestamente e no seu perfeito juízo, imaginar?...
Aliás, para quê imaginar?
Não o temos nós aí, mesmo diante dos olhos e do nariz"...); bom mas pronto, faz de conta que estamos no século XXI e que vivemos num país já civilizado...) imaginemos, então, um sistema... "educativo" (?) que "avalia" (??) alunos (sujeitos? Objectos? Objeitos?...) os quais estão, na realidade, no contexto (im?) preciso processo, porém, apenas a ser passivamente usados (é o termo!) embora (surpresa das surpresas!) ninguém pareça em bom rigor saber realmente porquê e para quê.
Embora nem eles próprios, os principas protagonistas do processo, o saibam minimamente, em qualquer caso--e isso diz, seguramente, logo para começar, alguma coisa sobre o papel desempenhado pela responsabilidade individual dos cidadãos (dos cidadãos-estudantes, neste caso: dos aprendizes de cidadania!) e, concretamente, do modo como esses valores inteleccionais e cívicos básicos que são a consciência e a responsabilidade efectiva do que se faz (aquilo a que poderíamos justificadamente chamar a 'propriedade integral dos nossos actos'--que configura, na realidade, um direito essencial da própria condição humana como tal) (não!) são considerados e educados na "Escola" ironicamente chamável de... "socrática" em Portugal hoje...
Numa realidade social, política e, especificamente... "educativa" marcada, como se sabe--como ainda há bem pouco, descobrimos--pela presença (e pela actuação, aliás, completamente impune, ao que se sabe...) de empresas-fantasma que vão às escolas invocando o patrocínio directo, senão mesmo a identidade objectiva, do poder tutelar e, para substanciá-lo, digníssimos imperativos de ordem técnico-pedagógica e de investigação científica genuína, interrogar, ouvir, registar, filmar, gravar depoimentos que, todavia, afinal, parece que eram apenas destinados a mera propaganda partidária, em ano de eleições; numa realidade assim (completamente des) estruturada, dizia, admira, porém, que se submetam alunos e professores a brumosos processos de... "avaliação" cujo objectivo real de todo todos ignoram, limitando-se, mais uma vez, assim, a funcionar, neste sombrio jogo manipulativo, como simples peões passivos de um 'jogo' que, todavia, por completo os ultrapassa e transcende, nele sendo com todo o à-vontade "encaixados" e manipulados como se de objectos ou coisas, em última análise, se tratasse?
Não é esta a "Escola" em que os jovens estudantes são alegremente chamados pela polícia a denunciar os próprios professores?
Em que a polícia os convoca e intima sem o mínimo rebuço ou respeito pela sua juventude e imaturidade para, na ausência dos pais, denunciarem?
Que fundamentos técnicos, acreditavelmente didácticos e demonstravelmente pedagógicos, substanciarão, nas brilhantes cabecinhas que o patrocinam e impõem, este tipo de "[totally!] blind assessment", copiado talvez dos famosos "blind dates", consagrados, sim, mas noutro plano completamente distinto, bem mais ligeiro e... sentimental?...
Dúvida--dúvida capital, esta: haverá, para esta gente que nos governa e desde a mais tenra idade assim alegremente e a seu bel-prazer, desde essa mais tenra idade manipula, diferença entre uma coisa e outra?...
E já agora: seria demais exigir que, ao menos os professores, estivessem convenientemente informados sobre o verdadeiro alcance da... "coisa"?
É que, segundo o jornal, nem sequer a estes terá sido dito se "aquilo", também para eles... "conta para nota".
Leia-se: para a respectiva "avaliação profisional"...
É que nem esses parecem saber exactamente o que andam "ali" a fazer ao certo, no meio "daquilo" tudo...
Escola "moderna"?
Sociedade "do conhecimento"?
Pois...
Muito lindo e muito engraçado!
Muito... "tecnológico", não é?...
[Imagens ilustrativas extraídas com a devida vénia respectivamente de mackaycartoons.blogdrive.com e cartoonstock.com]
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