sábado, 23 de maio de 2009

"Algumas reflexões pessoais de natureza antropológica e filosófica"


Eis alguns conceitos e reflexões envolvendo e, em alguns casos, precisando o modo particular como 'vejo o mundo'.

A minha visão ou o meu... "sistema" filosóficos--como, neste último caso, titulou classicamente Bertrand Russell, num livro outrora, de facto, famosíssimo.

Há, efectivamente, todo um acervo de ideias e conceitos que considero essenciais para entender, diria eu, o modo particular, específico como está organizada ou estruturada a "realidade".

Creio, para começar, que aquilo que, na essência define (e fundamenta, "explica") a "realicidade" (termo e conceito que, devo desde já dizer, distingo claramente da ideia que pode ser expressa através do termo alternativo "realidade"); creio, para começar, dizia, que aquilo que define essencialmente a "realicidade" genericamente considerada é o facto de ela não integrar naturalmente em caso algum, a ideia ou o conceito de "futuro".

Ou seja: o "futuro" é uma conceituação naturalmente estranha à "realicidade".

É nesse sentido, tendo formulado essa noção, que afirmo, de forma convicta, que o "futuro" possível dessa mesma realicidade se situa por detrás, isto é, antes e não diante, dela.

A própria origem ou génese objectiva da realicidade explica como toda ela se desconstrói e desmodela a partir de um ponto referencial teórico depois do qual ela ao contrário da voz comum não se forma nem, como disse, se constrói : entra, pelo contrário, em crise.

A realicidade, tal como eu a vejo é a expressão matericial ou concretação de uma crise aguda do que apenas podemos designar por "arrealicidade" ou "não-realidade teórica-zero".

Um zero teórico, pois, mas que, do ponto de vista da realicidade que dela configura o "eco inversional" igualmente teórico, tem de ser considerado (para efeitos, desde logo, da reorganização ordenada e "sistemática" ou tão sistemática quanto possível do nosso "olhar teórico e crítico" sobre o "mundo") um zero, em qualquer caso.

A nossa ideia de Tempo", por exemplo; as diversas representações objectuais de "Tempo" estão, diria eu, teoreticamente erradas exactamente porque somos levadas a formulá-las "às avessas", i.e. como se a «realidade» estivesse de facto em formação e não, como suponho teoricamente que está, em des-integração e dissolução naturais.

Dito de outro modo, ainda: a «realidade» não dispõe de modos estruturais e naturais objectivos de (auto)representar-se, quer no plano, chamemos-lhe abstracto ou de "projecto", quer em termos especificamente materiais concretos, a ideia de um "destino" ou "objectivo final" para si.

Do ponto de vista dela, com efeito, o seu "destino" não existe, pura e simplesmente: se hoje podemos representá-lo como ideia ou ideação em si, é porque, devido a um erro nuclear nos processos (eles mesmos, a seu modo, "naturais", é verdade...) de re/produção contínua da própria «realidade» (melhor dizendo: 'de gestão funcionante da expansão e des-integração da própria realicidade') a "consciência" (i.e. o 'fenómeno funcional' ou 'funcionante', puramente secundário, da "filo-bio-conscienciação") se interpôs já, de forma objectivamente disfuncional, entre 'a realidade e ela própria', deformando definitivamente todo o processo de desintegração natural do real.

Quando digo que o nosso modo ou modos de "perceber" e de representar o "Tempo" se encontram completamente invertidos é exactamente naquele sentido preciso em que, do meu ponto de vista, o 'futuro do real' deve ser visto como situando-se atrás de si, sendo que, no limite (exactamente porque o real nunca "se dirige" realmente "para" tendo, sim, de ser visto como "vindo" sempre, em última mas real instância "de"--esse é, de facto, o seu fundamento único, teoricamente demonstrável e efectivo: "vir de") a própria noção de um "Tempo" pode admitir-se como configurando um conceito completamente inútil para a percepção teórica possível da verdadeira estrutura, natureza e desenho concepcional do próprio real.

Quero eu dizer: justifica-se que uma construção integre e use (que ela integre porque usa!) de um modo ou outro, o Tempo como uma dimensão teoricamente referenciante essencial da sua própria natureza intrínseca, específica, de realidade em construção.

Já se torna, pelo contrário, discutível se uma des-integração precisa (ou, até, se é capaz de representar e, em última análise, de formularuma qualquer noção realmente operativa--de perceber) um Tempo ou temporicidade que, na realidade, ele próprio, a existir seria apenas ou configuraria apenas uma dimensão mas da própria desintegração ou desagração da "arrealicidade teórica" entrada em crise na origem do real.

É admissível, é verdade, que uma noção de "Tempo" neste caso pudesse ser usada como "calendário" da des-integração mas seria, sempre, a nmeu ver, algo de, em última instância, inessencial tendo em vista qualquer possível utilização realmente construtiva.

Portanto, voltando ao princípio: a essência ou natureza da realicidade é expandir-se a partir de um ponto teórico situado, diria eu, no centro igualmente teórico de si.

Primeira "lei" do real: o real expande-se. Não procura, afasta-se: de um centro mas também, em resultado do próprio modo como foi admissivelmente gerado, de si próprio.

Advêem daí duas outras hipóteses téticas possíveis:

-primeira: tudo, no real é mutação ou, como também digo: concretação da própria expansionalidade ou essência (essencialidade) expansional e dissipacional do real.

-segunda: essa mesma natureza, estruturalidade ou identidade expansional do real, ao atingir determinados valores quantitativos, gera naturalmente crises locais ou periféricas no tecido da realicidade que, sentidas (na origem materialmente) por esta como ameaças à sua integridade orgânica natural, a forçam a renuclear-se continuamente tendo em vista um mecanismo ou tropismo funcional reintegrador, originando, desse modo, "grãos" , granulosidades ou 'anisotropias' no texto originalmente íntegro e naturalmente uno do real, determinando que eaquela integridade natural se torne a prazo num problema (que a ontologia filosófica estuda) que tem de ser "resolvido".

A verdade é que é difícil não ver como, neste processo, o próprio real como tal se converteu já num problema.

-terceira: em resultado da primeira destas hipóteses, é possível perceber como aquilo que chamamos "razão" nada mais é na realidade do que (a) uma propriedade ou atributo da própria matéria como tal.

Eu diria: uma 'técnica' funcional dela, nada mais.

Uma forma.

Mas uma forma que deriva (b) da própria génese e, em seguida, da própria estruturalidade expansional/dissipacional da realicidade.

A "razão" (como a "causalidade" que é, de facto, uma mera 'representação operativa' dela) nada mais é, em tese, por sua vez, do que a abstractização e a funcionalização autónoma ou autonomizada da estrutura sequencial material resultante da expansão, representada, de um modo ou de outro, em todos os indíviduos e/ou individuações que compõem o real e, de um modo muito específico e particular, nos seres conscienciados na respectiva "consciência".

A "razão", vista desta perspectiva meramente funcionante transformacional ou "mutacional" (a razão é uma mutação da linha ou da linearicidade que, por sua vez, é a expressão abstracva e teórica da expansão) e opera, assim, como uma espécie de ponto geométrico teórico entre o "universal" (o real ou realicidade como todo) e os "indivíduos", i.e. as diversas 'anisotropias funcionantes' que se geraram da própria necessidade sentida pelo real de garantir ulteriormente a consistência e a integridade possível de si mesmo.

-quarta hipótese: resulta daqui que outra "lei teórica" do real possa ser que este tem "horror" não apenas ao "vazio" mas, de igual modo, e por razões teoricamente demonstráveis, ao "demasiado grande".

O "horror ao demasiado grande" é uma medida de disfuncionalidade e/ou "crise" na estrutura do próprio real.

-quinta hipótese: a necessidade de renuclear a fim de assegurar integridade ulterior à sua própria estrutura determina que o real passe naturalmente a descontínuo e tenha recomeçar a cada nova introdução de individuicidade na sua estrutura funcionante global.

Dito de outro modo: quando se consciencia o real passa, de forma natural, a abstracção e a conceito.

Torna-se, de facto, uma ideia ou impressão teórica de si.

A "razão" representa, assim, a expressão limite da "crise".

Outro princípio: por tudo quanto disse e de tudo quanto disse, se pode concluir que a "razão" é, na realidade, apenas a forma teórica de si.

Ele imita a natureza objectiva e material da realicidade sequenciando instintiva e, no fundo mecanicamente, sinais vindos quer do exterior--i.e. da realicidade exterior--quer do interior da própria consciência quando esta se tornou mais um «objecto» entre os diversos objectos que compõem genericamente o real.

A "razão" não tem conteúdo nem pertence realmente aos indivíduos que a medeiam: de facto, estes limitam-se a mediar essa 'propriedade' ou 'atributo' naturais--e materiais--do real que consiste em sequenciar funcionalmente dados que lhe chegam quer de fora quer de dentro da própria razão enquanto coisa ou, ela mesma, 'indivíduo'.

Por que motivo o fazem com a precisa ordem sequencial por que o fazem?

Porque o real lhes imprimiu desde o primeiro instante teórico essa forma de deslocar-se--ou de "ser".

O grande "erro" do real (o que chamo o primeiro grande atentado ecológico conhecido) consistiu na invenção da "consciência".

É certo que ela parte de uma intenção genuinamente funcionante: se o real sofre necessariamente por virtude do movimento expansional/dissipacional que lhe foi originalmente imprimido, crises profundas de estrutura e tem de ser pontualmente reiniciado a fim de conservar genericamente orgânica a suas estrutura houve que atribuir alguma operarividade autónoma aos núcleos ou "grãos" em que ele tende a dividir-se, no contexto da tal "falácia" inevitável de "(de) composição" que sofre.

O problema, podemos hoje reconstitui-lo, é que passou a haver duas lógicas autónomas gerindo o que, à falta de melhor expressão, chamo a "dissipacionalidade realicional": uma "em (não) tempo real" que tende para a continuicidade pura e uma segunda que é a da "consciência" que não consegue integrar nas suas formulaçõers específicas aquela contionuicidade senão como "ideia teórica" e passou a ter de priocurar fundamentos e/ou 'explicações' para a natureza do real fora daqueles que são os que efectivamente operam e que não podem ser "pensados" senão... "sidos".

Para concluir, evitando alongar excessivamente, esta parte das "notas" que tenciono tomar, diria que, quando aqueles começam a ter de ser "pensados" já começaram, também, a condenar-se a si próprios à in-compreensão de si mesmos e de virtualmente tudo no real.

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