Na edição de 10 de Maio do "Público", leio uma entrevista com o ex-primeiro ministro inglês, Tony Blair, onde este (vamos ser claros: tão claros quanto uma certa postura de urbanidade genericamente exigível a qualquer cidadão que se respeite antes de mais a si próprio o permite); onde este improbabilíssimo estadista britânico, hoje-por-joje "enviado especial do Quarteto (?) para o Médio Oriente", discorre magistralmente ("não tem dúvidas", grafa, por exemplo, o jornal em questão, obsequiosamente) sobre diversos aspectos da geopolítica na (e para a) conturbadíssima região do globo, centro nuclear de conhecidos interesses associados à geo-dominação económico-financeira e política global ligada, por sua vez, ao controlo cada vez mais vital e premente dos recursos energéticos mundiais.
Ora, perante a entrevista em causa--aliás, até antes disso: perante a ideia verdadeiramente extraordinária (para não lhe chamar outra coisa...) de que Blair seja um estadista e possa ainda por cima ser (sem que o faz core imediatamente até aos cabelos de vergonha) enviado seja do que for minimamente respeitável e credível ao que quer que seja a que valha a pena enviar gente); perante a ideia, além disso, de que um órgão de representação política "mais ou menos mundial" (o tal organismo informal com nome de cinema de bolso...) possa rever-se num indivíduo que, como Blair, fez reconhecidamente da conspiração e da mentira, não apenas uma verdadeiramente inqualificável prática de investimento político pessoal como, sobretudo, uma escandalosa (geo) política de consequências humanitárias, políticas, etc. absolutamente calamitosas para o seu próprio país mas sobretudo para uma série reconhecida de outros; um homem que, com um cinismo verdadeiramente arrepiante, sustentou para todos os efeitos práticos, como é sabido (e ainda não há assim tanto tempo como isso...) o "princípio" absolutamente monstruoso de que ela, mentira, pode constituir uma "sólida" base e um "consistente" pretexto--um "argumento político legítimo"--e, como se não bastasse, credível para fundamentar uma mortífera invasão militar cujas consequências, insisto, são, ainda hoje, de dificílima equacionação quanto mais completa e definitiva avaliação; perante, de um modo mais geral, a realidade de um mundo que não hesita em fazer-se representar por indivíduos deste nível ou desta estirpe assim como da de jornais que não hesitam, por sua vez, em ouvi-los reverentemente como se de gente realmente séria e idónea se tratasse, isto é, como se por detrás da ascensão política de indivíduos destes a cargos em que, queiramo-lo ou não, nos envolvem a todos, "representando-nos" também formalmente a todos ("europeus" e europeus...) não estivesse todo um quadro de decadência ética acelerada, dificilmente escondível e impossivelmente ignorável que parece, de resto, a cada dia, inventar novas formas de degradar-se e, mais grave ainda, de degradar-nos a todos como 'civilização' e como 'mundo'; perante isto, dizia, a única coisa que não se percebe realmente é como é que alguém, com um mínimo de lucidez e esclarecimento, pode, por seu turno, não entender por que exactas e precisas razões esta "Europa" (que descarta e... "penaliza" políticos sem dimensão nacional e que as naõçes individualmente, por razões evidentes, não querem, fazendo-os "mega-estrelas" de nível... "europeu") goza hoje-por-hoje do desprestígio de que manifestamente goza e por que igualmente exactos e precisos motivos as pessoas em geral a ignoram (quando não a desprezam abertamente) e os "tratados" visando a sua, por isso escandalosa, consolidação ulterior têm de ser impostos por via política objectivamente autoritária, fugindo assim da democracia (mesmo da que não é senão mecanismo im... puramente formal desta) como o diabo, na voz popular, "foge da cruz"...
[Imagens ilustrativas extraídas, com a devida vénia, respectivamente de allposters.com e ?]
Sem comentários:
Enviar um comentário