sábado, 9 de maio de 2009

"The Moon And Sixpence"

Baseado na obra homónima de Maugham, eis um filme que nunca tive (que me lembre) ocasião de ver.
Não vou, por isso, falar aqui do filme ou sequer do livro mas sim recordar o actor que, na película (dirigida por Albert Levin) desempenha o principal papel.
Trata-se de George Sanders.
Sanders que foi, no cinema, um vilão muito britânico (noutro lugar deste "Diário", a propósito de "The Silence of the Lamb" de Jonathn Demme, abordo a questão de uma certa tendência cultu(r)al natural de, no cinema amricano, os vilões terem pronúncia inglesa e serem, de uma maneira geral, figuras cínicas, maquiavélicas, dissimuladas, etc.); Sanders, dizia, teve "confrades" famosos, actores naturalmente dotados (ou que aprenderam a agir como se o fossem) para papéis de características muito análogas às de Sanders, vilões famosos como Basil Rathbone (que faria, aliás, também um Sherlock Holmes clássico) ou James Mason, entre diversos outros exemplos.
Havia, porém, matizes diversos, nestes vilões: onde Rathbone (em "The Mark Of The Zorro" de Mamoulian ou "Robin Hood" de Curtiz, faz dois dos seus melhores "vilões") era "sério" e até um pouco monolítico, um tudo-nada estereotipado--a figura, a persona do "mau" já, de resto, o era, ela própria, um pouco em si mesma--Sanders era o antecessor natural de Hopkins, o homem demasiado sofisticado para o mundo que o rodeava e que, por esse motivo, atravessava sempre o écrã (e as "estórias") com aquele ar "blasé" profundamente enfastiado.
De algum modo, ele (a sua persona cinematográfica, pelo menos) era um anti-herói existencialista que carregava sobre si todo o desencanto, todo o cepticismo e até todo o cinismo do homem que, percebemos perfeitamente já viveu e descobriu tudo e nada mais tem, no fundo, que fazer entre nós.
É (ou era--transmitia a impressão vaga de ser) um homem imensamente desencantado e mesmo desesperado (embora se tratasse de um desespero calmo, contido, resignado) que ocultava, todavia, o imenso desespero existencial que parecia transpirar sob uma capa de frio e amargo cinismo--uma espécie de Séneca transplantado para o século XX--algo que a trágica morte física do próprio actor parece, de resto, de algum modo, confirmar.
uas s

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