A Louise Brooks, a "Lulu" (de "Die Buechse der Pandora") de Pabst!
Uma mulher e um realizador fascinantes!
Em "Die Buechse...", Pabst "apanha" fabulosamente toda a decadência da Alemanha e, de uma forma geral, de uma certa Europa anterior a 1914 que, de algum modo, se pode dizer é ainda a mesma que a Revolução Francesa não enterrara de todo; uma Europa que gera, em termos genéricos, um modo de estar na realidade já conduzido, em larga medida, naturalmente pela burguesia triunfante em 1789, burguesia essa que tomara o controlo da História mas nem por isso deixara de "render homenagem" à classe que viera depor (Cf. "Il Gattopardo" de Lampedusa, "Fu Matia Pascale" de Pirandello ou "Castle Reckrent" de Maria Edgeworth para só citar quase ao acaso três nomes que me ocorrem imediatamente e dos quais, vá-se desde já dizendo, o último citado não é, de modo algum, dos menores...) copiando-lhe uma série de tiques exteriores que caricaturou exaustivamente na sua própria Arte e, genericamente, na sua própria Cultura.
Toda a chamada Arte Nova, por exemplo, antes de Gaudì e sem contar com Gaudì--que é um visionário, que é um místico; que é, goste-se ou não do que fez, um profundo pensador da Arquitectura como Arte e um prodigioso surrealista avant-la-letttre, avant Dali, por exemplo, dela--); toda a chamada Arte Nova, dizia, é, a meu ver, o exemplo acabado do modo como a burguesia passa a ver quando conolida o seu controlo da História e da Cultura o seu próprio papel cultu(r)al naquela como "nova aristocracia" repensada e actualizada: aquilo que a burguesia faz na Arte com a Art Nouveau é emblemático do modo ostentatório, apressado, incrivelmente "nouveau riche" como ela ao apoderar-se dos mecasnismos sociais de re/produção de Arte, mistura uma série de "andares" distintos da História e da Cultura europeias, os descontextualiza completamente--porque, como classe posui a técnica mas não possui "escola" para realmente perspectivar o que vê e copia, sobretudo em matéria de Arte e de Cultura puras--e, por fim, "cola" num "mélange" plástica e conceptualmente, visualmente, apoteótico mas também caótico onde imagina ver a tradição cultu(r)al europeia que objectivamente rompeu por si re-criada e, sobretudo, reinstalada num ou devolvida a um lugar nobre da História.
É todo este processo de "aplastamento" ou de "esmagamento" cultu(r)al; este processo de onde a Cultura emerge, cada vez mais, como um corpo concetivamente em curso de esvaziamento e completa desautonomização crítica e filosófica autónoma ressurgindo, isso sim, cada vez mais como um elemento im/puramente "decorativo" num universo onde o que cultu(r)al e civilizacionalmente em geral conta é um outro processo ligado ao investimento imediato dos paradigmas tópicos de Cultura na exploração exaustiva da realidade e da re/conversão desta, por meia daquela, em "valor" ou mesmo, em última mas verdadeira análise, em Capital tout court; é, dizia, todo este proceso centrado na figura trágica, desesperada de Lulu (Lulu que, sendo uma personagem de Wedekind, podia perfeitamente sê-lo, por exemplo, de Hemingway ou F.S. Fitzgerald...) que o filme retrata e impiedosamente aborda, analisa, desmonta, decompõe, disseca.
Noutro lugar deste "Diário" (já a seguir, de facto!) falo de Tamara Lempicka e das suas relações cultu(r)ais com Pabst (que tinha uma visão da vida muita conservadora: "Aurora" é um--cinematograficamente fabuloso, embora--exemplo do conservadorismo do ralizador alemão para quem a Cidade era sinónimo de perdição) e com esta prodigiosamente fascinante Louise Brooks, ela mesma assemelhando-se muito a uma dessas mulheres arrebatadoramente totais de Lempicka!
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