terça-feira, 5 de maio de 2009

"O sio-fascismo e o anti-racismo recentemente confundidos"


Vou, agora, falar aqui, no "Quisto" de Ahmedinejad que a propaganda "ocidental" (se não tivesse receio que me começassem já a chamar "anti-semita" diria: que a propaganda "ocidental", fortemente influenciada pela visão que dele, Ahmedinejad, tem especificamente o 'judaísmo institucional' de hoje, por sua vez, alimentado por uma espécie de grande, nebulosa, indistinta, difusa genérica culpa que herdámos, como todo, da 2ª Guerra Mundial e do modo como o povo judeu foi, então, tratado, isto é, quase dizimado); vou, dizia, pois, falar aqui de Ahmedinejad sobretudo integrando a minha abordagem do líder iraniano no contexto de uma recente iniciativa anti-racista global; Ahmedinejad de quem a propaganda "ocidental" adora, como tinha começado a dizer, repetir horrores de cada vez que ele vem a público insurgir-se, bem ou mal (ou seja, com a melhor forma e os melhores argumentos ou não: essa é outra questão que não me interessa, devo desde já dizer, particularmente, retomar aqui) contra uma realidade que, todavia, só não vê quem não quer realmente vê-la e constatá-la: a perverssíssima existência actual de um sio-fascismo (com o brutal, abjecto, apartheid que dele deriva) violentando os Estados árabes em redor e mesmo dentro do próprio estado de Israel.

Esta ideia de que um judeu possa ser, ao mesmo tempo, judeu e fascista era, para muitos de nós, até ainda há bem pouco, literalmente impensável como resultado, precisamente, do modo como projectávamos sempre uma espécie de culpa difusa generalizada (que, na realidade, era de todos apenas na medida em que todos, afinal, foram directa ou indirectamente, cúmplices do genocídio judaico, do Vaticano aos Estados Unidos e à Inglaterra, passando pela igreja protestante alemã, como o "caso Gerstner" tão eloquentemente demonstra); isso, o que atrás refiro, acontecendo pois, porque, como ia dizendo, nos habituámos a projectar sempre a sombra significadora dessa culpa colectiva à frente da lucidez e da objectividade que deveríamos, em todos os casos, pôr sempre que esteja em causa o nosso modo estável, tópico mesmo, de abordar (e representar) a História.

A verdade é que tal ideia corresponde hoje-por-hoje, a uma realidade perfeitamente observável--e demonstrável e, por isso, muito dificilmente escamoteável.

Israel é mesmo, cada vez mais, um Estado fascista e a sua História moderna assemelha-se também cada vez mais a essa tenebrosa África do Sul dos Bothas e dos Voersters de outros tempos que tanta denúncia e revolta, a seu tempo, levantou em todo o mundo.

É, de resto, idiota pretender, como fez o "Ocidente" (ou algum dele) na tal Conferência, em resultado do modo como Ahmedinejad vê o sionismo e as políticas de expansão e opressão de Israel, chamar ao líder do Irão "racista", na realidade, apenas porque se opõe ao expansionismo sio-fascista.

O que está em causa aqui, neste caso, não é, com efeito (é preciso que o entendamos claramente de uma vez por todas!) qualquer aspecto de natureza realmente rácica ou étnica: o que está em causa aqui é a religião como instrumento de dominação: uma dominação que é imediatamente cultu(r)al mas, na realidade, ou seja, num plano mais mediato, de natureza efectivamente económico-financeira e geopolítica.

A mim, pessoalmente, devo dizer, é-me de todo indiferente (e projecto esta imagem na apreciação que faço do comportamento argumentativo, retórico, verbal de Ahmedinejad relativamente a Israel) se "ser-se judeu" envolve, na essência, uma questão de índole étnica ou religiosa.

Não: a mim, o que me interessa, de facto, é a política--a política expansionista, opressora, inimaginavelmente desumana e brutal de um Estado.

A mim o que me interessa é, por outro lado, indo um pouco adinte na equacionação dos aspectos relacionados com o papel de Israel no mundo e especificamente no Médio Oriente, o modo como esse Estado representa localmente os interesses de outros Estados e faz (brutalmente!) a política (a geo-política) que convém a esses outros Estados e à sua sede de controlarem as fontes energéticas mundiais, os quais fecham, por isso mesmo, os olhos ao modo desumano e profundamente in-civilizado como Israel se relaciona com os restantes povos habitantes da região .

A raça não entra, pois, aqui para coisa alguma: nem para argumentar as posições geopolíticas israelitas nem para contradizê-las e a elas nos opormos.

Não é, insisto, a raça: é a brutalidade, a selvajaria, a perda total da dimensão humana e humanista por parte de um povo que já esteve, como se sabe, ele próprio do "outro lado" da História e que tinha, por isso, obrigação de ter aprendido, de uma vez por todas, a lição.

Pode-se, para concluir, censurar tudo a Ahmedinejad: chamar-lhe "racista", porém, só se explica, porém, pela necessidade (im!) puramente propagandística e hipócrita do chamado "Ocidente" de achar as palavras "certas", i.e. mais eficazes no sentido do propósito de desacreditatar o líder iraniano que o anima.

É que há mesmo judeus fascistas: o "pobre" Kafka assim "uniformizado" representa-as e simboliza-as, ele próprio tornado, deste modo, vítima dupla ou triplamente vítima, desta feita, de forma póstuma.
Desculpa lá, oh Franz! Foi a importância de que, como homem e como artista te revestes que te pôs, por uma vez, nesta situação...


[Imagem ilustrativa: "collage" original do titular do blog]

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