Há nela um eco persistente e profundamente convulso de decadência e transgressão que me fascina pelo que sugere.
Em Lempicka, estão uma série de coisas cultu(r)almente fascinantes de Wedekind a Pabst, passando pela sensualidade oblíqua, subversora e subversiva de "Lulu".
Estão lá Grosz e os seus horríveis burgueses vomitando); está lá o cabaret berlinense e está, de uma forma mais genérica e abstracta, todo o mundo excitantemente suicida que terminou com a I Guerra Mundial ou, se assim se preferir dizer, que foi, por ela, definitivamente executado e ficou sepultado no Marne, em Verdun, na Flandres ou em Gallipoli.
É o eco dessa nota freneticamente inquieta, angustiada, de uma sociedade que sabe que vai morrer e não o evita (antes o deseja) e que celebra a sua própria morte próxima em orgias de arrebatadoramente inconvencional lascívia que são outros tantos suicídios colectivos rituais preparatórios que Lempicka tão magnificamente capta numa obra onde o prazer se confunde inextricávelmente com a morte (onde ele se traduz, a cada passo, pelo tentador prazer de morrer) e a sensualidade se confunde com apoteótico, libertador suicídio colectivo.
[Na ilustração: tela de Lempicka, Quatro Nus Femininos]
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