A forma como consegue, todavia, atingir, tocar, a própria "alma da solidão contemporânea" faz com que ciclicamente acabe sempre, invariavelmente, procurando-me a mim próprio, um pouco mais, na sua profundamente inquietante obra plástica.
O modo como (ao contrário de Bacon que dela arranca gemidos e gritos lancinantes de puro horror) Hopper usa "apenas" a realidade "objectiva" ou objectual para afrontá-la e questioná-la, colocando-a sempre, de um modo ou e outro, inquietantemente muda diante de si mesma numa espécie de posição angustiada (acusatoriamente?) silenciosa e terrivelmente desafiadora (como os olhos das crianças africanas dos "países da fome" cujo olhar neutro possui, muitas vezes, o vigor e a força de uma condenação ainda mais terrível por dispensar por completo as palavras).
Não sendo, como comecei por dizer, o meu pintor "de cabeceira", Hopper é, todavia, um artista que por quem nutro um profundo respeito e que genuinamente admiro.
[Imagem ilustrativa reproduzindo a obra "Western Motel" de Edward Hopper]
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