sábado, 9 de maio de 2009

"Balthus"

Balthus, o inquietante Balthus!
Como ele me faz pensar em Paula Rego, definitivamente uma das minhas paixões intelectuais e estéticas!
Balthus é uma espécie de Dali com imaginação (Dali era completamente desprovido dela: substituía-a regularmente por mise-en-scène puramente mecânica que, nos seus melhores momentos a sugeria razoavelmente...) e um sentido do mistério que estava, de igual modo, completamente ausente da obra do espanhol.
Em Balthus tudo é inquietação, convulsão e uma prodigiosa solidão sob a qual se ocultam tragédias pessoais imensas.
É o pintor do sacrifício e da dor: repare-se, por exemplo, no modo como a luz e a sombra se excluem mutuamente (trata-se, de forma óbvia, de duas inimigas inconciliáveis); como uma linha (que é, também, um corte, um rasgão) oblíquo (e a obliquidade não representa aqui, a meu ver, um acidente) fere o quadro de um extremo a outro ou pouco menos, potenciando a sugestão subliminar de Queda e de Morte que a figura jazente à direita pode, por seu turno, claramente veicular.
Acrescem a isto os abismos insondáveis a toda volta, a sugestão velada da vigilância (as figuras que, de pé) observam, vigiam, espiam (ou que talvez estejam simplesmente isoladas destas em primeiro plano, apanhadas, por acaso, num quadro de solidões coincidentes num espaço que, assim, não é, realmente, "de" ninguém, sendo que, nesse caso, o próprio quadro, tão pouco o é: é apenas uma "crónica do acaso", sugerindo que toda a vida, todas as existências, toda a existência podem, de igual modo, em si mesmas, sê-lo).
É isto que falta a Dali--que era tecnicamente fabuloso, porém.
Mas da obra dele (que, diria eu, à falta de uma genuina imaginação por parte do pintor, se "agarra" desesperadamente para sugeri-la a todos os 'tiques' de escola do surrealismo, de algum modo, canónico, ortodoxo, um pouco mecânico mesmo); da obra de Dali, dizia repetindo uma ideia atrás enuncciada já, este sentido da profundidade e do enigma estão, de facto, invariavelmente ausentes, cedendo, pois, o lugar ao expediente não-raro fácil do exótico, do bizarro e/ou de um certo "exótico" artificial optido não pela subversão mas pela mera desarrumação circunstancial dos elementos mais superficiais e anódinos existentes à superfície exterior do real.

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