sexta-feira, 1 de maio de 2009

""Soldier Blue" revisitado"


Revi hoje (com o agrado e o encantamento de sempre, aliás!) o "Soldier Blue" de Ralph Nelson.

O pretexto (se pretexto é necessário para rever aquele que é um dos mais estimulantes e generosos filmes que conheço foi o pedido de uma ex-colega para que "volte à escola" com o objectivo de apresentar um ciclo de filmes subordinado ao tema genérico de "questões de género".

Ora, "Soldier Blue" é, entre outras coisas, uma "comédia sexual" também.

Como esse outro inesquecível clássico, "Rio Bravo", de Hawks.

O grande mérito deste Nelson (como o de Hawks, de resto) é o de terem, um e outro, sabido com assinalável embora algo distinta mestria (Hawks foi um génio do Cinema) "encaixar" a "comédia sexual" no contexto de temáticas de evidente seriedade--maior seriedade a de Nelson.

Nelson que faz aqui o filme.

Atrás falei de méritos distintos em Hawks e no realizador deste "Soldier Blue". Quis sobretudo dizer que este foi sempre um realizador desigual em qualidade(s), é aliás isso mesmo que o separa de Hawks que raras vezes terá ao longo da sua notável carreira de ser, ao menos, sólido e cinematograficamente respeitável e consistente.

No caso destes filmes, porém, a diferença nota-se pouco porque Nelson foi, aqui, de facto, brilhante ainda quando as temáticas e o modo como aqui-e-ali as aborda possuam uma marca "de época" imediatamente reconhecível: o modo muito "soissantard" como equaciona o motivo do retorno à natureza, por exemplo.

Se é certo que o filme começa com um massacre praticado por índios, a imagem que Nelson dá da aldeia destes e do modo como se relacionam entre si (quase?) como poderiam fazê-lo os habitantes de uma cidade europeia qualquer remete para uma certa ideia implícita de "bon sauvagisme" segundo a qual as relações entre os seres humanos see degradam na razão inversa do modo como se vão "civilizando".

A maneira como o chefe "Spotted Wolf" renuncia com uma tolerância e um cavalheirismo dificilmente imagináveis à "squaw" branca, Cresta Maribelle Lee, quando a descobre apaixonada por Gant tem, a meu ver, subtilmente inscrita "nos genes" uma cultura de liberalismo e tolerância sexual muito "west coast" de '60 que, vista, porém, de uma certa perspectiva fabular ou apologal que o filme tem, acaba por se aceitar embora persista, a meu ver, um certo admissível desequilíbrio objectual de registo entre a "primeira" (divertidíssima--um verdadeiro achado, no âmbitpo específico da referida "comédia sexual"!) e a "segunda" onde, por vezes, a tentação excessivamente "demonstrativista" (questionar e "descrever significadamente" a guerra do Vietname) conduz Nelson a simplificações e esquematismos um tudo-nada "fora de tom" inteligentemente divertido do início.

Globalmente, porém, insisto, o filme funciona excepcionalmente bem com um Peter Strauss (que nunca foi exactamente uma "estrela") a dar excelente conta do recado mas, sobretudo, uma Candice Bergen explosiva, seminal, prodigiosamente eficaz.


[Na imagem: sequência inicial de "Soldier Blue" de Ralph Nelson]

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