sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Recordando [sem Nostalgia ou Saudade] o Último Primeiro-ministro da Ditadura..."


Do que parece ter sido uma "comunicação" para "esclarecer" o País sobre o escabroso "caso" das escutas envolvendo um "esquema" mafioso para condicionar a opinião política em Portugal, retiro [transcrito da imprensa escrita] uum fragmento que diz textualmente: "Temos em Portugal, uma comunicação social livre, onde diariamente se exprimem, sem quaisquer condicionamentos, as mais diferentes e diversas correntes de opinião".

Como é que 'o outro' dizia?

[Cito de cor]

"Temos em Portugal uma imprensa livre e plural com um "Século" que é comunista, um "Diário de Notícias" socialista, um "Diário de Lisboa" maoísta" e por adiante num inimaginável rosário de inanidades que, se não envolvessem a tragédia crónica de um país permanentemente sufocado e mantido regularmente sob assédio por um grupo de "Famílias" económico-políticas firmemente mantidas no poder por um aparelho policial e militar verdadeiramente implacável, dariam ainda hoje, trinta e tal anos volvidos sobre a sua publicação em livro num delirante "Depoimento", editado no Brasil e entrado clandestinamente em Portugal, sobretudo vontade---uma irresistível vontade!---de rir e de troçar.

Porque "o outro" a que me refiro era o último primeiro-ministro do fascismo, Marcelo Caetano, e só uma desfaçatez verdadeiramente incrível ou uma súbita pré-senilidade galopante e devastadora o terão levado a escrever aquelas inanidades e, ainda por cima, o deixá-las registadas em livro, para que sobre elas não restassem, em momento algum, quaisquer dúvidas relativamente quer à forma, quer ao conteúdo das mesmas.

"O outro" era uma figura patética de político fraco, desorientado e, finalmente, deposto, escrevendo para se justificar, talvez mais perante si próprio do que perante um país que o vira, escasas semanas, partir sem deixar saudades nem a sombra sequer de qualquer desejo de que regressasse.


Mas... e este??!!


Que esperará este com aquela declaração?

Não verá ele que sinal se dá implicitamente ao País quando é preciso que alguém [e logo aquele!] tenha de vir a público afirmar aquilo que não deveria, em caso algum, ser necessário que fosse afirmado por ser tão natural que a simples ideia de que não fosse assim deveria deixar-nos a todos inimaginavelmente inquietos e a pensar em correr definitivamente com os responsáveis por assim não ser?

Temos um imprensa livre???

Mas que raio esperava a personagem que nós tivéssemos?

Suspeitará ele que nós possamos pensar [que nós tenhamos motivo e fundamento acreditável para pensar!...] que assim não seja e precisemos, por isso, de ser expressamente tranquilizados a tal propósito?

E que raio de "favor" é esse de um país que supostamente é livre ter uma imprensa igualmente livre [seja lá o que for que isso signifique mas enfim...]?

A imprensa que é verdadeiramente livre é aquela que vigora em países e sociedades onde é preciso que venha alguém regularmente informar de que assim é?...


E [já agora] pensará ele---acreditará ele!---que ficamos mais tranquilizados por ser ele a dizê-lo?...

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