segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

"Breves Reflexões Pessoais Em Torno Das Noções De 'Certo' e 'Errado' Em Linguística


No meu ano de estágio, tive o projecto de preencher o tópico envolvendo a feitura de um trabalho investigação na área da Didáctica Específica do Inglês com um pequeno 'ensaio' sobre as noções de "certo" e "errado" em linguística.

Por razões que não vêm ao caso, o trabalho projectado mudou, a dado passo, de tema [esta mudança forçada foi uma das razões por que nunca me decidi a "mestrar-me"...] e passou a centrar-se sobre [é bom não esquecer que se estava em pleno furor ludocrata "estruturalista functional"...] uma recolha de "exercícios lúdicos" para uso de "criancinhas grandes", por uma razão ou por outra [que em regra, tinha muito pouco que ver com verdadeira opção mas essa é outra questão] ocupadas em [não sei se, perante a realidade concreta com quie me deparei, posso, em bom rigor, dizer deste nmodo...] aprender inglês.

É a velha questão do "motivar" e do "induzir objectivamente" [demasiadaas vezes confundidas pelos "pedagogos" oficiais e metidas ambas num mesmo saco onde só por pura ignorância de quem tutela e legisla podem ser ambas metidas e, ainda por cima, caber].

À época, a diferença, na prártica, era irrelevante---para não dizer: pura e simplesmente inexistente.

Era, com efeito, ao professor que estava cometido o "dever" de explicar aos jovens por que razão ali estavam e o que estavam ali verdadeiramente a fazer.

E era, claro, ao professor que eram "pedidas contas" caso, no fim de contas, o aluno chegasse a um ponto "geométrico" do seu percurso escolar sem resposta para uma pergunta que tem muito mais [que tem, de facto, tudo!] a ver com objectivos pessoais de vida; com uma cultura familiar de estreita comunicação e diálogo responsável onde esses objectivos são [?] discutidos [??] e idealmente definidos e, na realidade, pouco ou nada que ver com diversão ou mero "consumo" linear e epidérmico de impressões avulsas via actividades curriculares, entendidos, um e outras, como pressuposto essencial de sucesso escolar...

Enfim, trata-se de uma longa "chetória" a que não me proponho aqui, de todo, regressar.

O meu objectivo aqui é outro.

É o de reequacionar ainda que muito brevemente a tal questão do certo e do errado em linguística lembrando aquele que é, do meu ponto de vista, um pressuposto crucial, angular, da mesma e que é: não existem,de um certo ponto de vista orgânico e estrutural, em última análise, um "certo" e um "errado" em linguística.

O discurso humano situa-se já, para todos os efeitos, tão longe do seu fundamento biomórfico determinante original que a fala humana "pertence à natureza" e configura um dos "objectos orgânicos" dela apenas em abstracto sendo que o respectivo conteúdo circunstancial; o respectivo "teor em circunstância[s]" possui, de facto, como defendia Saussure uma natureza "primariamente aleatória" cuja consistência apenas pode ser determinada e medida não já pela natureza mas apenas, na realidade, pela História.

O discurso é História: todo o discurso humano é 'mera História'.

De natureza contém, simplesmente, o fundo, a possibilidade abstracta de si.

Por outras palavras: o "certo" e o "errado" só possuem fundamento observável---e demonstrável---em função de objectivos historicamente definíveis---e definidos.

Houve, com efeito, uma espécie de "linguística providencial [ou revelada e metafísica"] que pretendeu ter encontrado, fora da História, os arquétipos puros da "correcção" e do "erro".

Essa foi, porém, uma visão, ela mesma estruturalmente errada dos usos do discurso humano: este, com efeito, não reporta perante um conjunto de arquétipos abstractos situados fora da História mas, exactamente ao contrário, perante esta.

Há um "exemplo" que costumo dar e que é o que envolve as ideias de "atelier" e "oficina".

Para a tal referida "linguística metafísica", "atelier" está "errado" e "oficina" "certo".

Tal como "receber" existe e "está certo" e "recepcionar", não---o mesmo acontecendo com "direccionar" e "dirigir".

Para um linguística actuante e histórica [eu prefiro chamar-lhe---nada acidentalmente: linguística "existencialista" por oposição à outra que é, na realidade, uma linguística... "essencialista"] a questão põe-se de modo completamente distinto.

Isto é, o seu modo de abordar a questão começa logo por ir buscar fundamento à História e à necesidade de a consciência achar meios de expressar-se perante esta e na interacção concreta [por que não dizer: política?] com esta e assim, a essa luz não é indiferente nem imaterial distinguir, por exemplo, a "oficina de um pintor" (num duplo sentido, aliás: enquanto lugar e enquanto modo de trabalhar ou valimento técnico específico] de um "atelier de pintor".

Longe de corromper a pureza demasiado estática e... "ariana" de uma meta-língua supra-histórica arquetipicamente ideal, "neo-platonizante", a [bio...] diversidade linguística enriquece desejavelmente a idiomaticidade nuclear das línguas [o seu conteúdo potencial idealmente dialéctico em "expressivicidade" e, desse modo, em fidelidade às múltiplas formas possíveis de "inteligência da realidade" capazes de serem obtidas na relação do indivíduo concreto no seu inevitável "rapport" com o real].

É, por isso, que, no limite, é preciso que existam a tutelar a Educação pessoas que percebam minimamente de... Educação: precisamente porque, voltando ao início destas notas, definir critérios de correcção e sucesso pressupõe a existência prévia de um quadro de objectivos, umas visão específica do real.

Para [sei lá!] um jovem criado [alguns dizem: "educado" mas é discutível que seja rigoroso dizer desse modo] num e, sobretudo, para um universo genericamente cultu(r)al virado para estritas [e não sei deva dizer: também estreitas] "funcionalidades", por sua vez, ligadas a uma realidade---profissional, claro mas, de igual modo, económica, social e política---onde a propriedade do saber assim como, em termos mais latos, da Cultura e dos modos de produzir um e outra não lhe 'pertencem politicamente', como tantas vezes tenho dito, não é, em última instância, essencial distinguir entre o "atelier" e a "oficina" pela simples razão de que, na "parte da História em que vive e habita" muito provavelmente não abundam os "ateliers" e, por conseguinte, a questão de distingui-los conceptual ou conceptivamente das "oficinas" permanece sempre uma [não] questão puramente "académica".

Ou se, nesses "lugares da História onde vive" existem o seu conteúdo e os modos de exprimi-lo se encontram por definição a cargo de "proprietários conceptuais" estritamente políticos da realidade a cujo seio o jovem em causa não pertence.

Infelizmente, entre nós, há muito que não existe quem pense responsavelmente a Educação e a sua expressão objectiva institucional ou institucionalizada.

Os modelos de educatividade vogam "alegremente" ao sabor dos caprichos de indivíduos medíocres, sem formação cultural e especificamente filosófica e sem sensibilidade para interpelar responsavelmente o real e, dele, especificamente "a parte que dele é História" ou "a História".

É isso que explica que o modelo educativo permaneça persistentemente fora da realidade e completamente alheio a ela nem sequer se dando conta de que ela continua a passar, a mudar ou "mutar-se", em qualquer caso, a deslocar-se ["e pur si muove", não é?...] e ele não.

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