quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"Twilight Time/Buck Ram/The Platters"

Reproduzo aqui o texto---o 'libreto'...---de uma das mais famosas canções dos não menos [outrora] famosos "The Platters"---"Twilight Time"---como uma espécie de tributo simbólico a todas aquelas coisas [e pessoas!] pelas quais passamos, não-raro vezes sem conto, ao longo da vida, sem que nelas verdadeiramente reparemos, ignorando, desse modo [sabe Deus com que injusto menosprezo, muitas vezes!] os méritos e as qualidades que, em maior ou menor escala, possam possuir.
Lendo, com atenção e como peça autónoma, o poema de Buck Ram descobre-se, provavelmente com surpresa, que não está [longe disso!] isento de méritos próprios---sonoridades francamente harmoniosas e globalmente cativantes ["falling/calling", "deepening", "setting sun", insistência nas vocalidades nasais criando no discurso "cintilações" ou "revérberos" textuais regulares e trasnsmitindo, assim, a reconhecível sugestão global de suavidade e languidez, de voluptuosidade, até: de 'ausência deliberada de ângulos e cores fortes'---a nasalização do discurso induz, com efeito, por um lado, a presença persistente de "sons escuros" ou de "tons vocálicos significadamente escurecidos" assim como, por outro, a de que a 'acção poética' decorre neste instante mesmo; de que ela está em curso,alongando-se segundo uma ideia muito subtil de "longo presente" que se nos oferece, em tempo real, à atenção e à consideração, potenciando-se, desse modo, um desejável estatuto de "sujeito" da mensagem textual conferido ao hipotético leitor]; metáforas e recursos estilísticos/textuais particularmente impressivos, sugestivos e não isentos de originalidade e força poética própria ["out of the mist, your voice", "purple colored curtains mark[ing] the end of the day", "fingers of night", "the afterglow of the day", são alguns desses exemplos] da textualidade impressiva do poema ou, como lhe chamei, do 'libreto' de uma canção particularmente feliz de um grupo, sem dúvida, comercial e até, em larguíssima medida, convencional mas que teve, ainda assim, o mérito incontestável de ter sido, uma coisa e outra, [pelo menos até um dado momento da sua estrondosa carreira] com inegável dignidade e estilo.

Twilight Time

Heavenly shades of night are falling,
it's Twilight Time
Out of the mist your voice is calling,

"'Tis Twilight Time"

When purple colored curtains mark the end of day
I'll hear you, my dear,

at Twilight Time.

Deepening shadows gather splendor as day is done
Fingers of night
will soon surrender the setting sun
I count the moments, darling,
till you're here with me
Together, at last,

At Twilight Time.

Here in the afterglow of day
We keep our rendezvous beneath the blue
Here in the sweet and same old way
I fall in love again as I did then.
Deep in the dark
your kiss will thrill me like days of old
Lighting the spark of love
that fills me with dreams untold
Each day
I pray
for evening
just to be with you
Together,
at last,

at Twilight Time.

2 comentários:

Ana disse...

Não sei analisar como tu ... mas sei que a música (que fui recordar ao YouTube)e o poema são lindos!

Carlos Machado Acabado disse...

É, de facto!
Esta, melosa e um pouco piegas como muita coisa doss "Platters" é, ainda assim, uma "coisa" extremamente "simpática" musicalmente e nada ignorável até do ponto de vista do próprio texto.
ESta, "Smoke Gets In Your Eyes", "The Great Pretender", "You'll Never Know", "Wagon Wheels", eu sei lá!
Tanta coisa que não é, ainda hoje, vergonha alguma ouvir, não é verdade?...
Olha: oiçamo-las, pois, sempre que possível que daí não vem, seguramente, mal algum ao mundo, não achas?