quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Por Que Lhe Chamo «Idade Mídia»..."


Já ontem aqui denunciei, indignado, a prática insolente e boçal da televisão pública de sobrecarregar, de forma tão importuna quanto indiscriminada, impertinente e alarve, o écrã com todo o tipo de informações, apelos, etc. a qualquer hora e sem qualquer critério que não os não-critérios que impõe a inteligência escandalosamente rudimentar de quem por ali anda disfarçado de prestador de um serviço público cultural [!] para desempenhar o qual não está, todavia, minimamente habilitado.

Trata-se de uma demonstração de [im] puro analfabetismo tecnológico e cultural [estético, no caso de situações como a que ontem ocorreu durante a passagem do filme "A Promessa" de António Macedo e que, insisto, deixa a S.P.A., a quem compete zelar pela integridade da criação inlectual e pelo respeito que lhe é devido, inexplicavelmente indidferente] e que tem como consequência inevitável [só não o vêem, aliás, os novos ricos da comunicação---e da própria inteligência---que, por uma razão qualquer, ali foram dar e que por ali erram, insusceptíveis de evolução, culturalmente primários, tão primários e saloios como quando para lá entraram, completamente impermeáveis ao gosto para já não dizer: à simples lucidez mais elementar e mais primária]; trata-se, dizia, de uma demonstração de incultura e de estupidez [não há outro termo! "Aquilo" é estupidez "em estado puro"!] que tem como inevitável consequência a completa destruição final da própria mensagem comunicacional [e será que é, afinal, isso o que verdadeiramente se pretende?] saturada como vem, a cada passo, de interrupções disparatadas, de registos estranhos uns aos outros acumulados, de forma alarvemente caótica, em cima uns dos outros, no écrã, sem rei nem roque; de patacoadas debilóides e sem interesse, tipo "records" desse inominável "Guinness", misturadas [literalmente] a granel com dramas pessoais que ali, para o tipo de gente que gere "aquela coisa" e para a que a leva até ao público sem se envergonhar, se convertem, de imediato, em "furo jornalístico" e "rigoroso exclusivo"; um "blur" informacional cacofónico absurdo, monstruosamente amoral e orgulhosamente terceiro-mundista, que é de forma e que é de fundo; que não respeita inteligências nem exigências ou critérios de verdadeira qualidade; que desacta impunemente filmes e autores; que se está insolentemente borrifando para a formação do público e para a cultura em geral mas que, para as luminárias que por lá vagueiam como para as caricaturas e paródias de "político" que, mal chegam ao poder, imediatamente ali plantam e infiltram os seus agentes [basta ler os jornais destes últimos dias para se perceber até onde chega a pouca vergonha] e que dali só esperam "câmaras de ressonância" dóceis e facilmente manipuláveis [volto a dizer: basta ler a imprensa escrita ainda bem recente!] da sua própria mediocridade, novos S.N.I.s [senis?!] hipocritamente "democráticos" e calhordamente populistas; feiras populares [ou feiras da ladra?] do berro, da boçalidade e da cretinice pomposa mas lerda e néscia que, para toda a inimaginável "quinquilharia da inteligência" que passa hoje, entre nós, por "elites", culturais [?] e "políticas [!] imita, satifatoriamente, um serviço público [ou mesmo, no caso dos privados] um universo global perfeitamente digno e civilizado [!!] de... informação.

Passam-se anos [Anos?! Vidas inteiras!!] sem que os cidadãos que não têm meios para aceder ao serviço de televisão por cabo [ou os que não podem dar-se ao luxo de ficar a pé até às quatro ou cinco horas da madrugada, depois de atravessar um interminável deserto de cretinice "à la carte"] tenham acesso a um filme que vá além do bacorejar bronco de um Eddie Murphy qualquer reexibido até à exaustão e ao vómito ou de outra patacoada qualquer do mesmo género, vejam um bailado, oiçam uma ópera ou uma sinfonia [ou até uma mera ária ou tenham acesso à visão de dois passos de dansa que não sejam uma palhaçada qualquer protagonizda por um magote de insignificantes "de profissão" retorcendo-se mais ou menos grotescamente em cima uma pista de gelo para gáudio de uns quantos "pacóvios de carreira" a quem outros alarves iguais chamam pomposamente "espectador médio nacional"]---e ninguém entre nós parece espantar-se e muito menos escandalizar-se!

Nem sequer quando como ontem um filme é tranquilamente "assassinado" em público [algo que se repetiria, aliás, na mais escandalosa impunidade, hoje mesmo, com uma tal "Fátima", meio portuguesa, meio italiana integrada no mês do cinema nacional e que, nem o facto de vir oficialmente "protegida pela Virgem" salvou de levar em cima com o tal nastro insolente que, em nome da clássica caridadezinha estrondosamente alardeada em público [pois não!] já ontem se tinha lembrado de ir implicar com um filme que não lhe tinha feito, aliás, que se saiba, mal nenhum e tinha acabado de chegar ali, sem sonhar sequer tudo o que estava para lhe acontecer, como na altura denunciei].

A repetição da cavalidade insolente que consiste em passar continuamente com uma coisa qualquer à frente de quem está a tentar ver um filme [antigamente, nos cinemas dava direito a chamar o arrrumador e exigir a expulsão do cabeçudo ou cabeçuda que se atrevesse a repetir a gracinha com a frequência com que o faz o exibidor televisivo público de hoje...]; a repetição da cavalidade insolente, dizia, faz-me, porém, começar a pensar se seria "só" ignorância e "cultura pedal"...

Pensando bem e observando o conteúdo da mensagem [trata-se, no caso do tal nastro que, pelos vistos, "sonha ser actor e não sabe como", de apelar ao contributo dos telespectadores para as vítimas das recentes cheias na Madeira] assim como a repetição do "fenómeno", é, talvez, altura de começarmos a interrogar-nos sobre se não estaremos perante uma situação em tudo análoga à do senhor ou senhora muito bem postos e "generosos" que, na missa, fazem absoluta questão de tilintar sonoramente as moedas no bolso uns bons cinco minutos antes de deixá-las cair com idêntica... "discrição" no cestinho dos óbolos para toda a gente ficar a saber que ele ou ela "são bons e deram"...

E dão!

Ainda que isso signifique interromper a missa, desrespeitar a ocasião e fazer virar para si todas as cabeças no templo.


Pois, se, em boa [ou má...] verdade, é exactamente isso que se pretende!


[Imagem extraída com a devida vénia de mockable.com]

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