sábado, 6 de fevereiro de 2010

«Chto Delat?»


Há muito que das mais diversas maneiras e nos mais variados locais venho defendendo a tese do que poderíamos chamar a "finitude teoricamente demonstrável" do Estado capitalista.

Que entendo eu por tão pomposa expressão?

Mau grado a "pompa" da designação, é algo de muito simples, na realidade.

O estado moderno---o estado-nação contendo no seu interior aquilo que durante muitos anos se chamou [sem grande cuidado ou rigor crítico e terminológico, aliás] o estado "social"---nascido com a consolidação gradual de um conjunto de filosofias globalmente triunfantes com a Revolução Francesa; o estado moderno, dizia, partiu sempre de um dogma [que Marx foi dos poucos a questionar e a atacar, como se sabe] envolvendo uma suposta "sacralidade" ou "condição absoluta" da propriedade.

Mais: o estado moderno fez-se em última análise, precisamente para assegurar essa "sacralidade" e essa "condição" supostamente "absoluta" da propriedade.

É verdade que, desde a Revolução até ao século XIX, a propriedade, perdida definitivamente pela aristocracia, permaneceu, em boa medida, aberta e livre.

Não é menos verdade que essa perda da "propriedade histórica da propriedade" por parte da aristocracia forçou a que simbolicamente, a partir daí, a "propriedade da propriedade" tivesse de passar a ser 'politicamente justificada' e historicamente 'fundamentada' assim como é, de igual modo, verdade que, se uma nova classe a ela, "propriedade da propriedade" foi gradualmente podendo aceder, foi precisamente porque trouxe para a História, sobretudo no século XIX, o argumento supremo que envolvia, na base, uma outra forma, mais subtil e abstracta [mas não menos determinante: longe disso!] de "proprietação" que era a do Conhecimento.

A do Conhecimento capaz de funcionalizar e de agilizar ulteriormente, muito para além do que até aí se havia tornado possível, os mecanismos de apropriação e transformação sistemática da realidade em valor que a aristoc racia havia deixado de poder objectivamente assegurar.

Não é menos verdade, porém, que, uma vez ocupado na História o lugar da classe deposta e armada com a propriedade do conhecimento que lhe havia permitido assegurar-se do cobntrolo efectivo da História, afastados que foram deste, por um lado, a própria classe deposta e, por outro, os aliados materiais circunstanciais dessa deposição [o "povo", seu aliado na Revolução que retirou definitivamente o poder---a "propriedade da História"---à aristocracia] tosdo o esgforço, quer teórico [dos intelectuais burgueses, de uma maneira geral] quer práticos [a acção política da própria classe burguesa em muitos pontos e aspectos 'acabadinha de chegar' ao poder]

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