António Patrício
Termino a "escrita", por hoje, tributando uma homenagem pessoalíssima a dois Autores supostamente "menores" que particularmente admiro: Álvaro do Carvalhal (um dos poucos cultores do fantástico, entre nós, autor de, entre outras, uma novelette absolutamente notável de originalidade e fôlego narrativo "in the bud" mas já perfeitamentre reconhecível intitulada "Os Canibais", poderosa sátira de costumes que Manoel de Oliveira adaptou, como se sabe, ao cinema, a "cinópera") e António Patrício (dramaturgo e poeta da decadência a quem Listopad chamou, um dia, qualquer coisa parecida com 'uma espécie de Beckett avant-la-lettre').
Para quem os não conhece ou conhece menos bem, fica aqui uma sugestão de leitura que vai, seguramente, constituir para alguns uma (dupla) e fascinante revelação.
4 comentários:
Amigo Carlos Acabado acabei de deixar um extenso comentário no post onde fala do Carlos Gomes.
A poesia ou narrativa do fantástico é sem dúvida o meu género preferido, estive a ler o poema do Zeca Afonso e agradou-me bastante. De facto é pena que esta faceta da sua obra seja tão ignorada ou talvez tenha sido demasiado aproveitada politicamente. Encontro semelhanças com outro poeta que aprecio bastante, Camilo Pessanha.
Gonçalo: aproveito a "deixa" para lhe dizer: se puder, leia mesmo a Poesia-poesia do Zeca.
É uma revelação!
Pessoalmente, acho-a daquele 'género' de, primeiro, estranhar-se e, depois, entranhar-se...
Quanto ao Camilo Pessanha, era um notabilíssimo "músico do verbo", sim senhora!
O Debussy da poesia.
Um abraço!
Vou já ler o seu comentário!
Camilo Pessanha é um inovador da poesia portuguesa. É na minha opinião o criador do surrealismo, da poesia do vago, do impreciso, com vários sentidos que exprime nessa tal musicalidade poética.
Sim, concordo: há nele uma espécie de pulsão constante (e instante!) para o vazio, para aquilo que, em pintura, chamamos vulgarmente "abstracção", seguramente para os territórios insondáveis do sonho (ou mesmo, no caso particular, do Pessanha, para o delírio) que é já nitidamente pré-surrealista.
Mas há, por outro lado, uma preocupação muito... "simbolista" com os ritmos, as sonoridades extremamente medidas, precisas, os "jogos" muito "geométricos" de "cores sonoras" que, de alguma forma o ligam ainda a um "passado métrico" e, em geral, poético, chamemos-lhe: 'clássico' cuja transição ele faz de modo, aliás, notabilíssimo.
Eu também gosto muito do Pessanha que era, de facto, um "músico" notável do verbo---e do verso.
É engraçado que o Gonçalo o recordo porque ele geralmente passa, de uma maneira geral, quase despercebido perante 'gigantes da popularidade' com o Pessoa, por exemplo, à frente.
E a verdade-verdadinha é que o Pessoa não existiu sozinho...
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