Prossegue, hoje, a "antologia" com um novo nome proveniente de um novo universo cultural: a Grécia Antiga.
O poema que insiro aqui é um epigrama de Meléagro, poeta nascido na Síria, em Gádaros, por volta de 140 a.C. e autor de uma obra intitulada "Coroa" onde recolheu textos seus e de diversos outros autores que o antecederam.
O que me leva a incluir este seu epigrama nos poemas "da minha vida" é, para além, obviamente, da delicada subjectividade que sobressai do próprio texto enquanto reflexão poética pura, válida em si mesma, sobre a vulnerabilidade humana; sobre a insegurança e o temor da perda, neste caso, por parte de um amante receoso e inseguro; para além disso, dizia, levou-me a inclui-lo o contributo que ele dá para a percepção dos aspectos mais instrinsecamente humanos---o carácter eterno da psique humana, no fundo---por detrás da distância temporal, geográfica, física mas, sobretudo, étnica e cultu(r)al---uma implícita lição de Humanismo, começada a dar a centenas de anos de distância.
Há (espantosamente---ou talvez não...) com efeito, alguma coisa de, por exemplo, Ungaretti ou Eugénio [de Andrade] na melancólica, delicadamente ensimesmada meditação poética que é este notável epigrama.
Tu dormes, Zenófila, jovem flor.
Ah! Pudesse eu,
como o Sono (mas sem asas) descer sobre tuas pálpebras
para que ele---a cujo sortilégio nem o próprio Zeus resiste!
Ah! Pudesse eu,
como o Sono (mas sem asas) descer sobre tuas pálpebras
para que ele---a cujo sortilégio nem o próprio Zeus resiste!
---te não visitasse
e pudesse, desse modo, seguir eu sendo o único a gozar de teus encantos!
Meléagro
Meléagro
[Na imagem: "Vénus" por William-Adolphe Bouguereau, 1825-1905]
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