O meu ("prévertiano") antologiado de hoje é relativamente pouco conhecido [tanto que dele não se acham imagens onde é quase impossível não acabar afogado nelas: aqui mesmo, na Net onde mesmo este modestíssimo e anonimíssimo "comentador" não deixa de ter uma ou duas...]
... O que, "all things considered", não chega (longe disso e, se calhar, até pelo contrário!...) aliás, a ser propriamente grave: menos conhecidos são Luísa Neto Jorge, Al Berto e, hoje-por-hoje, a própria Fiama (ou ainda, falando de "prévertianos" e "quasi-prévertianos", Luiz Pacheco ou Mário Henriques Leiria) e nem por isso são, qualquer deles, menos relevantes como intelectuais (sim! Intelectuais!) e como homens de Letras (Sim! Homens de Letras!).
... O que, "all things considered", não chega (longe disso e, se calhar, até pelo contrário!...) aliás, a ser propriamente grave: menos conhecidos são Luísa Neto Jorge, Al Berto e, hoje-por-hoje, a própria Fiama (ou ainda, falando de "prévertianos" e "quasi-prévertianos", Luiz Pacheco ou Mário Henriques Leiria) e nem por isso são, qualquer deles, menos relevantes como intelectuais (sim! Intelectuais!) e como homens de Letras (Sim! Homens de Letras!).
Seja como for, acontece com ele (Mendes de Carvalho) na Poesia o que acontece, por outro "exemplo" ainda, classicamente, com a Comédia no Cinema ou no Teatro: mau grado os Chaplin, os Keaton (pai e filha...) os Renoir ou os Moniccelli, está condenada a ser, para todo o sempre, um género menor à espera do aval de uma certa consagração crítica que, sobretudo, para Chaplin já terá, de algum modo, começado a chegar e a estabelecer-se definitivamente.
Em termos de ainda maior latitude, a questão não é nova: estou a recordar-me, noutro escaninho da 'subcultura' pop, do "caso" do grande Hitch que apenas depois dos "Cahiers" e da respectiva "revisão" crítica exaustiva feita por Chabrol e Truffaut passou a dispor de um lugar próprio ao lado dos grandes e geralmente incontestados "Mestres", de Eisenstein e von Stroheim a Lang passando pelo (sob vários aspectos francamente mais questionável) Griffith.
É ainda o caso do "western" onde Ford é genial e Hawks considerável e, com frequência, imenso mas que só deixou de ser um género que anatemizava quantos o praticavam (e alguns, como Anthony Mann ou Delmer Daves---para já não falar de Fred Zinnemann e Nicholas Ray---com assinalável competência e mesmo inquestionável brilho) após uma longa 'travessia do deserto' que, para muitos---e a minha experiência recente no "Cine-clube na Biblioteca" provou-mo ainda não há muito à saciedade...---ainda não terminou)...
Mas, reparo agora que do próprio Mendes de Carvalho falei até aqui menos do que de uma série de tópicos que, não lhe sendo, pelas razões que citei, completamente estranhos, largamente, apesar disso, de algum modo, afinal, o transcendem.
Volto, por isso e sem mais delongas, a ele.
É, como disse, no texto que escolhi para hoje, claramente "prévertiano": na quase truculenta e, neste caso, visivelmente "mal-disposta" 'insubmissão semântica' manifestada, desde logo, na recusa firme a organizar-se demasiado, isto é, a submeter pela força o texto à obrigação "arquitectónica" de demonstrar e, sobretudo, de demonstrar-se ponto-por-ponto; na revolta (assumida!) contra uma certa elegância textual "bem-comportada" convencional ou convencionada onde alguma, como disse, aqui visivelmente "mal-encarada" mas sempre sanguineamente genuína espontaneidade (senão mesmo seminal vitalidade) pode muito bem correr o risco sério de perder-se; na surpreendente (na inquietante?) técnica envolvendo um contraditório "Verfremdungseffekt" obtido (o 'paradoxo' está exactamente aí!) não por imediatamente confesso "afastamento" da matéria a poetizar mas, precisamente ao contrário, por colagem quase integral ao quotidiano e à resposta infinitamente mais reflexa do que propriamente reflexiva que a este é dada---técnica que, tratando-se de poesia, gera a "educada dissonância" de onde sai, então, inteirinha, a crítica.
Mendes de Carvalho leva quase "à ruína e à perdição" a Senhora D. Poesia?
Digamos que, acima de tudo e antes de mais, a interpela, sonda, testa e... "faz falar".
Num certo sentido muito 'fresco' e curioso, a reflexividade nela vem por via do reflexo, Freud por via de Pavlov, (talvez) Marx por via do telejornal ou do grunhido chateado de quem o vê ao serão, depois de um dia inteiro de trabalho (e de ir buscar os putos à escola) nas "minas-de-sal" de uma repartição ou de um escritório-de-advogado qualquer...
Os problemas escolares
os problemas caseiros
os problemas primários
os problemas primeiros
os problemas de trânsito
os problemas transitórios
os problemas internos
os problemas externos
os problemas à vista
os problemas da vista
os problemas dos outros
os outros sem problemas
os problemas fronteiros
os problemas do lado
os problemas traseiros
os problemas locais
os problemas dos filhos
os problemas dos pais
os problemas de amor
o amor aos problemas
os problemas financeiros
os problemas políticos
os problemas reais
os problemas impingidos
os problemas da vida
os problemas da morte
os problemas por tudo
os problemas por nada
os problemas raciais
os problemas de merda
a merda dos problemas
Mendes de Carvalho, "Satírica"
[Imagem extraída com a devida vénia de goodtoknow.co.uk]
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