quarta-feira, 30 de setembro de 2009

"Pessoas Como O Pessoa Não Podiam Faltar Aqui..."


[REFLEXÃO IDENTITÁRIA/A QUESTÃO HETERONÍMICA]



O BOM PORTUGUÊS É VÁRIAS PESSOAS


Não sei quem sou, que alma tenho.


Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.


Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.


Como o panteísta se sente árvore e até flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço [...]




[Eu] plural como o universo.




Fernando Pessoa



[Imagem extraída com a devida vénia de rosamuraro.zip.net]

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