Escolhi um texto da Fiama (que foi uma das mais interessantes poetisas contemporâneas em Portugal, juntamente com uma Luiza Neto Jorge, por exemplo) porque é de facto uma das vozes mais interessantes e ousadas da moderna Poesia portuguesa que, na década de '70 protagonizou, na sociedade portuguesa, juntamente com Gastão Cruz ou Ruy Belo, por exemplo (tudo gente "de Letras" e meus contemporâneos) ou ainda Teresa Horta uma pequena revolução no gosto leitor.
Numa sociedade onde a Poesia é, cada vez mais (mais ainda!) um hábito (e, sobretudo, um gosto) quase residual, sabe bem relembrar estes e outros nomes (com o grande, o visionário, o 'beckettiano' Herberto Helder à cabeça) e o contributo que todos eles, de um modo ou de outro, deram para uma contemporaneidade inovadora, refinada e esclarecida, num Portugal onde o conformismo, o convencionalismo e a mediania (quando não, a franca mediocridade) eram (e, ao que tudo, infelizmente, indica, não deixaram de ser...) regra geral.
Na Poesia e fora dela...
Uma cidade eleva-se em brancura; sitia, em pureza
[o horizonte
Luz de rigor.
Geometria dúctil.
Veias de mármore, cal no sangue, branca se estende
[na sombra das pálpebras.
Jogo de asfixia luminoso, praças, ruas e árvores para
[aprender a respirar e a morrer.
Uma cidade liberta na tarde, aconchegada no uso, predra
[gasta ornamental, sitiada de azulejos.
O que se ama é sempre fresco como a rosa---rumor
[calmo no sangue, veia abrindo tranquila.
Na cidade se exalta o que, em luz e dureza, adia a morte.
[o horizonte
Luz de rigor.
Geometria dúctil.
Veias de mármore, cal no sangue, branca se estende
[na sombra das pálpebras.
Jogo de asfixia luminoso, praças, ruas e árvores para
[aprender a respirar e a morrer.
Uma cidade liberta na tarde, aconchegada no uso, predra
[gasta ornamental, sitiada de azulejos.
O que se ama é sempre fresco como a rosa---rumor
[calmo no sangue, veia abrindo tranquila.
Na cidade se exalta o que, em luz e dureza, adia a morte.
[Na imagem: "Em Busca de Deus", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado, republicada de http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com/ ]
2 comentários:
" O que se ama é sempre fresco como a rosa"
Magnífico rumor da poesia de Fiama. Bela a colagem que a ilustra. Parabéns!
Um beijo.
Ana!
Só hoje voltei.
Fico feliz por gostar da Fiama.
E da colagem...
Fico à espera que volte.
Volte sempre, "viu"?
Como diz o Malaro: isto sem você não tem graça nenhuma...
Beijinho.
Carlos
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