domingo, 20 de setembro de 2009

"Onde, Pelas Várias Estações" de Fima Hasse Pais Brandão

Hoje, ainda, após Meléagro, um poema da Fiama---da Fiama Hasse Pais Brandão.

Escolhi um texto da Fiama (que foi uma das mais interessantes poetisas contemporâneas em Portugal, juntamente com uma Luiza Neto Jorge, por exemplo) porque é de facto uma das vozes mais interessantes e ousadas da moderna Poesia portuguesa que, na década de '70 protagonizou, na sociedade portuguesa, juntamente com Gastão Cruz ou Ruy Belo, por exemplo (tudo gente "de Letras" e meus contemporâneos) ou ainda Teresa Horta uma pequena revolução no gosto leitor.

Numa sociedade onde a Poesia é, cada vez mais (mais ainda!) um hábito (e, sobretudo, um gosto) quase residual, sabe bem relembrar estes e outros nomes (com o grande, o visionário, o 'beckettiano' Herberto Helder à cabeça) e o contributo que todos eles, de um modo ou de outro, deram para uma contemporaneidade inovadora, refinada e esclarecida, num Portugal onde o conformismo, o convencionalismo e a mediania (quando não, a franca mediocridade) eram (e, ao que tudo, infelizmente, indica, não deixaram de ser...) regra geral.


Na Poesia e fora dela...


Uma cidade eleva-se em brancura; sitia, em pureza
[
o horizonte
Luz de rigor.
Geometria dúctil.
Veias de mármore, cal no sangue, branca se estende

[
na sombra das pálpebras.
Jogo de asfixia luminoso, praças, ruas e árvores para

[
aprender a respirar e a morrer.
Uma cidade liberta na tarde, aconchegada no uso, predra

[
gasta ornamental, sitiada de azulejos.
O que se ama é sempre fresco como a rosa---rumor
[
calmo no sangue, veia abrindo tranquila.
Na cidade se exalta o que, em luz e dureza, adia a morte.


[Na imagem: "Em Busca de Deus", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado, republicada de http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com/ ]

2 comentários:

Ana disse...

" O que se ama é sempre fresco como a rosa"

Magnífico rumor da poesia de Fiama. Bela a colagem que a ilustra. Parabéns!
Um beijo.

Carlos Machado Acabado disse...

Ana!
Só hoje voltei.
Fico feliz por gostar da Fiama.
E da colagem...
Fico à espera que volte.
Volte sempre, "viu"?
Como diz o Malaro: isto sem você não tem graça nenhuma...
Beijinho.
Carlos