sexta-feira, 12 de março de 2010

"Moi Aussi, J' Accuse!"


Há uma frase e um conceito que lhe anda associado que não pára de me acorrer ao espírito quando penso nos "casos" do colega e do jovem que puseram recentemente termo à vida alegadamente em consequência de violência moral e/ou física sobre ambos sistematicamente perpetrada na escola ao que parece [e aqui é que entram a tal frase e o tal conceito que me têm acudido com particular insistência ao espírito, nestes últimos dias] sem que, com rarass excepções [por sinal, aqueles que mais de perto privavam com as vítimas...] quem quer que fosse se tivesse apercebido do sofrimento a estas imposto [leia-se, por exemplo, o que o colega deixou escrito no computador e se isso não bastar para documentar cabalmente a verdade francamente não sei o que poderá, alguma vez, fazê-lo!...].

A frase em causa diz directamente respeito a um conjunto de barbaridades inomináveis cometidas pelos nazis por onde quer que passaram enquanto estiveram no poder mas envolve, sobretudo a atitude de cobarde hipocrisia das sociedades que com ele, de um modo ou de outro, pactuaram [algumas, de forma francamente comprometedora, como a francesa "vichysarde"] quando foram pela História ou simplesmente pela própria consciência chamadas a responder por tal cumplicidade; a frase, dizia [profundamente sarcástica!] é "Hitler? Connaît pas"!

"Hitler? Mas... eu nem sequer o conheço nem sei quem é!

Ora, foi precisamente desse modo hipócrita, farisaico, surdo e cobarde que foram, um a um, apodrecendo gradualmente largos sectores das sociedades do Ocidente onde foi, por isso mesmo, possível que se alojasse e germinasse, para vergonha dos implicados, o "ovo da serpente" que mais vítimas---físicas, materiais mas também éticas e morais!---acabaria por fazer naquele mesmo Ocidente que, durante demasiado tempo [da Inglaterra de Chamberlain aos Estados Unidos onde um tal Henry Ford, por exemplo, escreveria um famosíssimo "O Judeu Internacional" que, embora mais tarde renegado pelo seu autor, vale a pena ainda hoje ler para se perceber como cresce a infecção do fascismo] assobiou para o ar enquanto este se ia tornando fétido com a contaminação originária da besta.

Exagero?

Sinceramente, não creio!

Tal como sucede nos organismos biológicos, com efeito, também nas sociedades, as infeccções começam, frequentemente, por um pequeníssimo golpe mal sarado e consistentemente ignorado pelos próprios.

A prova é que, de hipocrisia em hipocrisia e de cobardia em cobardia; de branqueamento irresponsável e criminoso em branqueamento irresponsável e criminoso, de camuflagem em camuflagem, já se chegou, no caso do bullying em Portugal, ao momento em que se deu início à sempre trágica contagem dos mortos---dos mortos verdadeiros, dos que não voltam ou apenas voltam para atormentar a consciência das sociedades que nada fizeram para evitá-los...

2 comentários:

Ezul disse...

Só que, no caso da nossa sociedade e da nossa mentalidade, ainda continuamos a tapar essas feridas infectadas com pensos rápidos e a desanuviar o espiríto com espectáculos de circo.

Carlos Machado Acabado disse...

Pois e, por isso, a pergunta a fazer me parece ser a que faço noutro ponto: Até quando?...
Até quando vai ser possível tapar o sol com a peneira?...