O Quisto Didáctico: "Paris Canaille..."

...ou o fado..."à francesa".

Criada por Albert Préjean, a canção "Comme de Bien Entendu!" fala, nesse registo meio divertido, meio sério de "fado no jocoso" à... "la Montmartre", eloquentemente de um "Paris canaille" que remete, por exemplo, directamente para Cendrars ou Carco; um Paris "proibido" e algo sórdido que não consta geralmente da imagem que a maior parte de nós faz, à distância, da cidade e que envolve algumas das suas "culturas" mais próprias; um Paris ainda algo Paris-François Villon e "cour des miracles", isto é, o Paris "subterrâneo" de uma espécie de submundo, muito próximo já daquele onde, "mais adiante" na descida vamos já encontrar "la pégre" ou "la cave" de que falam as novelas de Auguste LeBreton, José Giovanni ou San Antonio e filmes como "Razzia Sur La Chnouffe" de Henri Decoin ou, entre inúmeros outros, "Riffifi" de Dassin ou, noutro tom cinematograficamente menor, "La Cave se Rebiffe" de Gilles Grangier, com Jean Gabin e que um grande escritor como Simenon [por acaso, belga...] retratou de uma forma, por vezes comovedoramente, terna e humanizada nos seus "polars", em especial os que envolvem a sua criação máxima que foi o comissário Maigret, magistral ponte entre aquele Paris dos "bas fonds" apenas "canaille" dos "petis voyous minables" e o outro já abertamente marginal e criminoso.

A canção, todavia, apesar de incidir sobre uma zona particularmente "resvaladiça" e "de fronteira" do social [em certos pontos leva a pensar em Brecht e Valentin...] consegue captar alguns dos aspectos, apesar de tudo, mais ligeiros e até possivelmente divertidos dessa realidade social e humanamente abjecta, lançando sobre esta um olhar que a torna quase tolerável e que consegue, em boa parte devido à interpretação caracteristicamente faceta de Préjean, arrancar ao ouvinte um sorriso que, se bem que melancólico e compreensivelmente amargo, não deixa, ainda assim, de ser um sorriso...

COMME DE BIEN ENTENDU

Voici, contée sur une valse musette,

L'histoire en quelques mots

Du beau roman d'une jeune midinette

Et d'un p'tit Parigot

Tous les refrains d'amour

sont un peu bêtes,

Celui là l'est aussi

Mais si vous r'prenez

en chœur ma chansonnette,

Je vous dirai : Merci !

Elle était jeune et belle,

Comm' de bien entendu!