... toda a doença une-se com [o] um brusco
punho de espuma
que me cinge
reconsolida
alimenta
---e abre na voz suspensa
uma dor única compacta
que derramo toda inteira num vaso
de leituras
e de cinza
a dor por folhas ou
praticada num pão alto
vertiginoso e doente
que não alimenta mas injecta
o remorso todo inteiro
nas aves completamente líquidas de que é
a partir de hoje todo imóvel
feito o sonho e
feita a álgebra gelada
do abraço
o pão a galope
o pão hermético
o pão fechado
o pão em cruz
o pão em crise
o pão em merda
e tu, dor que
ensinaste a lua ao mar
e o verão à terra;
o outono ao chão e
ensinaste a solidão à massa funda
punho de espuma
que me cinge
reconsolida
alimenta
---e abre na voz suspensa
uma dor única compacta
que derramo toda inteira num vaso
de leituras
e de cinza
a dor por folhas ou
praticada num pão alto
vertiginoso e doente
que não alimenta mas injecta
o remorso todo inteiro
nas aves completamente líquidas de que é
a partir de hoje todo imóvel
feito o sonho e
feita a álgebra gelada
do abraço
o pão a galope
o pão hermético
o pão fechado
o pão em cruz
o pão em crise
o pão em merda
e tu, dor que
ensinaste a lua ao mar
e o verão à terra;
o outono ao chão e
ensinaste a solidão à massa funda
do sangue
ensina-me a regressar em dias de esperança e
ramos
ensina-me a regressar em dias de esperança e
ramos
demasiados
o crâneo ardido e independente
o volume da dor
o desenho da voz
o inquérito do sangue
a geometria da morte
o episódio da solidão
outra vez, o volume da tristeza
e do pânico
recobrado a golpes de vida desconhecida
à luz do mar
o leito das pedras onde corre a primavera
de regresso
o crâneo ardido e independente
o volume da dor
o desenho da voz
o inquérito do sangue
a geometria da morte
o episódio da solidão
outra vez, o volume da tristeza
e do pânico
recobrado a golpes de vida desconhecida
à luz do mar
o leito das pedras onde corre a primavera
de regresso
ao veneno que de esperança infecta
o olhar apodrece a liberdade
a primavera de regresso
à chuva às raizes às fezes
a cascata das canções
à chuva às raizes às fezes
a cascata das canções
da noite a primavera
de regresso à noite
o patamar ferido do horizonte
o pedal do sentido
a branca memória
a memória a memória
tu oh dor onde se oculta toda a casa
ensina-me a regressar de puro vento
sangue e pão no bolso
camisa madura de luz
esperança de palavras
nervos por palavras
sem dizer
meu nome
sem reunir
meus ossos a minha vida corrompida
o alimento
o patamar ferido do horizonte
o pedal do sentido
a branca memória
a memória a memória
tu oh dor onde se oculta toda a casa
ensina-me a regressar de puro vento
sangue e pão no bolso
camisa madura de luz
esperança de palavras
nervos por palavras
sem dizer
meu nome
sem reunir
meus ossos a minha vida corrompida
o alimento
a esperança até ser noite...
firme crua flor de suor oh frágil noite
firme crua flor de suor oh frágil noite
dos sentidos
devassados
conta-me de um só
ininterrupta voz toda a história
da matéria que cegou.
Fundo e exausto concluo aqui o inventário
aberto da dúvida o trémulo fulgor
o relâmpago sumptuoso da cabeça que crepita
de saudade
e pura pasmosa
espumosa ignorância:
não há que procurar mais
perguntar mais
querer saber mais
[de hoje em diante vou viver só de poesia
Em poesia]
Carlos Machado Acabado
[Na imagem: "Full Face", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado, a partir de uma fotografia de Jorge Molder]
3 comentários:
Querido amigo Carlos, que tristeza e desespero sinto nas suas palavras, palavras feito poema, poema triste e doloroso.
Um beijinho muito grande com cheiro a planície, Ava.
Felizmente, há doenças que... curam, Ava!
É reconfortante sabê-lo!
Um beijinho para si também.
[A propósito: que belo cheiro, o da planície!
Obrigado por ele, também!...]
E, já agora: a partir de hoje, não quero outras!...
Não é por nada mas...
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