Infelizmente os dois (muito) lamentáveis casos recentes ocorridos em escolas apenas vêem confirmar o vazio total em que se encontra a nossa sociedade de alto a baixo.O Estado lava as mãos e tenta manter a todo o custo aquilo em que só os idiotas ainda acreditam: A ideia de que há Educação,Justiça,etc.
Definitivamente o Gonçalo Eusébio disse tudo! O país chegou a um ponto, que eu não sei do que será dele. É desmoralizante ver no que se transformaram os sonhos de um passado não assim tão distante e inquieta-me não só como mãe, mas também como cidadã, qual o futuro que os nossos filhos encontraram pela frente neste Portugal à beira mar plantado.
Se existe uma ERC em Portugal como é possível que à luz do dia ou da noite se transmitam em sinal aberto programas obscenos como "Morangos com Acúcar","Lua Vermelha" ou Wrestling, uma coisa muito americana que representa bem um certo espírito rural e belicista,da América que foi alegremente para o Vietname e continua a ir para o Afeganistão mas que sendo transmitido em Portugal pode ter um efeito perverso retirando-se do contexto? O que há ali de didáctico,de educativo?
Lava as mãos o Estado, lava as mãos a direcção da escola, lava as mãos o resto do corpo docente, lavam as mãos os pais, tudo lava as mãos e o resultado é este! Quem é fraco ou tenta remar contra a maré é engolido, quem é esperto aprende a adaptar-se. Só que... Só que adaptar-se ao que existe é perpetuar os erros e é por isso que estamos onde---e como---estamos. E é pena porque que sofre é o País que se vai continuamente afastando do resto da Europa: da "Europa-com-aspas" e da Europa a sério... Meu caro: cabe, acima de tudo, à SUA geração lutar para que tudo mude. A minha... já deu o que tinha a dar e além disso quem a ouve?...
Estes acontecimentos principalmente o do Leandro,fazem-me lembrar a revolta que senti quando andava na escola porque tal como todos os que lá andaram também sofri na pele de certo modo.Quando haviam aqueles alunos os chamados "problemáticos" ou de famílias carenciadas ou que eram logo rotulados pelos órgãos da escola pelo sítio de onde vinham, esses alunos eram sistematicamente desculpados pelos funcionários e alunos como eu que não sendo um aluno excepcional era um aluno acima da média e que me esforçava não tinham tanto essa tolerância.Mesmo nos casos de violência haviam alunos que eram muito mais (ou quase sempre) desculpados.Era muito mais fácil expulsar um aluno que não fosse do tal grupo de risco do que algum dos outros.Haviam sanções mas não eram aplicadas de igual modo.O problema é que muitos desses alunos agora já são pais e não são responsáveis pela educação dos filhos ou pelo menos alguém lhes fez sentir durante o crescimento de que eles não eram responsáveis.Por isso é que muitos pais querem que os filhos estejam na escola o maior número de tempo possível porque não teem capacidade para os educar.Quanto mais tempo os miúdos não incomodarem os paizinhos melhor.E esta situação vai ter (já tem) consequências desastrosas num futuro próximo.O caso do leandro foi um desses casos não há que estar com meias tintas, os pais e a escola não assumiram as responsabilidades.Este país vive nisto,ninguém é responsável de nada.
Pois o problema das "tê-vê-ices" e coisas semelhantes é uma... pescadinha de rabo na boca: se não há, as pessoas exiigem, e se exigem... há! Quais são as publicações que se vendem? Os canais de televisão que lideram? Os livros que [apesar de tudo!] ainda se lêem ou, pelo menos, compram? E isso acontece por acaso? Alguém é obrigado a ver aqueles mamarrachos inomináveis da TVI ou da SIC? Não! Desgraçadamente, Portugal é MESMO "aquilo" e é por isso que temos os políticos que temos e a sociedade que temos. Que mete medo à Ava que é Mãe e Cidadã e ao Eusébio que, sendo jovem, tem opiniões, tem um ponto de vista sobre a realidade que o rodeia. Mas infelizmente a sociedade não é toda feita de Avas e Gonçalos Eusébios e são precisamente esses outros que o não são mas que são a maioria quem elege os medíocres e os incompetentes [para não dizer outra coisa pior ainda...] e os vai trocando entre si, agora este, depois aquele e, a seguir, volta ao princípio... E quem se insurge é um "chato" e as pessoas acabam por se cansar e baixar os braços e tudo continua como era e... ...e Portugal está como está: sem futuro ou com um futuro que, às vezes, mais valia sei lá o quê!... E, depois, ficamos todos muito admirados se os professores e os alunos se suicidam e quem pode foge, como o Saramago...
Eu sobre a responsabilidade que cabe a cada um, não tenho dúvidas nem deixo de ter! Não me compete a mim tê-las nem sou juíz das responsabilidades de cada um, entendamo-nos, de uma vez! Não sou Deus nem quero ser! Tenho, obviamente, uma opinião sobre o conjunto da sociedade portuguesa mas relativamente a cada um que cada um assuma as que lhe competem: se age bem, tanto melhor! Agora, há, de facto, globalmente, uma sensação de "ausência de movimento na História", de imponderabilidade histórica que arrepia! E aquilo de os alunos serem tratados com pinças, isso é verdade! Imolam-se, por vezes, de um modo ou de outro e das mais diversas maneiras, os fracos porque dá menos trabalho, menos problemas e ainda tem a vantagem adicional de simular para o exterior uma eficácia que, de facto, não existe Eu tive conhecimento directo de casos desses, de alunos que faltavam sistematicamente e cujas faltas eram sistematicamente justificadas [ou ignoradas pura e simplesmente] porque "coitados, têm problemas em casa, o pai é alcoólico e a mãe outra coisa qualquer" numa turma onde um desgraçado faltava uma semana por estar doente e era um cão-e-um- furão para lhe justificarem as faltas. Ou, no primeiro caso, "desapareciam" pura e simplesmente e, no segundo, enchiam as pautas de vermelho, tranasmitindo para o exterior a ideia de que o "aluno-problema" afinal era um exemplo e o desgraçado do outro, um faltista danado... E este era um exemplo menor porque às vezes até as classificações reflectiam injustiças terríveis porque o mau aluno tinha conseguido um "cinco" e, no caso dele, já "revelava progressos assinaláveis" enquanto que o outro aluno "de treze", se tinha o azar de atravessar um período menos bom, era penalizado, os pais [que ATÉ VINHAM À ESCOLA...] chamados e havia, muitas vezes "mosquitos por cordas". O "sistema" funciona assim, não há psicólogos escolares no edifício institucional, cada professor faz "como lhe parece": eu tive um aluno que não fazia rigorosamente nada, faltava que se fartava mas, porque "os pais eram divorciados" nem faltas tinha e quanto a testes só ia se lhe apetecia. Claro que os outros alunos queixavam-se e com razão de que se faltavam eram penalizados e acusados de faltar por medo enquanto que ao F. se faziam testes especiais sempre que se lembrava de faltar. Eu já andava pelos cabelos com aquilo e, um dia, em que o moço faltou a um teste e me apareceu no dia seguinte, perguntando-me com o ar mais trocista deste mundo quando eu é que lhe fazia o teste dele, houve chatice: eu disse-lhe que, pura e simplesmente, não estava para lhe fazer mais um teste especial para ele e o rapaz ameaçou-me que se ia queixar à directora de turma. Eu nem hesitei: disse logo à colega que testes especiais nunca mais e que ia exigir em reunião que todas as faltas do moço passassem a ficar averbadas e que quem assumisse a responsabiluidade de justificá-las fosse identificado e obrigado a explicitar os critérios. Fui chamado de "mau" mas a verdade é que a rebaldaria acabou e o moço não teve mais remédio senão trabalhar e a sério se quis passar... Felizmente o conselho directivo tinha colegas que não se amedrontaram nem cederam a chantagens e o moço até passou a acabaram-se as injustiças... Mas, de facto, a regra geral é outra...
Caro Carlos Acabado,enfiei a carapuça. Porque é que a minha geração tem de se responsabilizar por fazer com que as coisas mudem se as anteriores não o fizeram? Os nossos políticos são da minha geração, têem 30 anos? Não ouviram a sua como não ouvem a minha e muito menos ouvirão as que se irão seguir. E sabe porquê? Porque as melhores "cabeças" da minha geração já saíram daqui há muito e as outras farão o mesmo.
E, já agora, que se faça também referência às benditas provas de recuperação, que apenas serviram para atirar mais uma boa dose de burocracia para cima dos professores e que penalizaram os alunos que faltaram justificadamente. Sim, apenas penalizou quem não merecia porque os que faltaram descaradamente às aulas, com a conivência dos pais, ou com a demissão destes, o que vai dar no mesmo, continuaram a faltar. Quando não faltavam às próprias provas de recuperação, apareciam para as fazer mas com um ar trocista de quem se está a borrifar para aquilo tudo e sem levar sequer uma esferográfica. É bom que se diga que, se há professores que cedem perante certas situações, é porque também são forçados a isso. Afinal de contas, quem é que não se ressente de pressões das hierarquias, sejam as que existem no local onde se trabalha, sejam as de outros organismos superiores, que a toda a hora arranjam formas de controlar, inventando questionários, formulários, preenchimento de estatísticas, organização de painéis, etc,etc,etc (já para não referir a maquiavélica teia da tão falada avaliação de desempenho). Ah, então e os designados "encarregados" da "educação" (que não se tem e que não se dá, em muitos casos)de muitos dos alunos com falta de aproveitamento, que correm a exigir trabalhos mais fáceis, a reclamar da exigência dos professores (imagine-se que até se chega a dizer que um professor de Língua Portuguesa é exigente porque corrige os erros ortográficos...), da marcação de testes, da quantidade de assuntos que têm de ser estudados e de mil uma coisa que não lembra ao diabo. Pedem ao professores que façam o pino em situações em que o aluno não quer, simplesmente, estudar; em situações em que o aluno não leva o livro, em que deita fora as fichas de trabalho, em que não traz os materiais, em que não faz a tarefa indicada, em que não adquire conhecimentos porque não ouve, não lê, não faz um exercício, não estuda! E o que é que se pede, o que é que se exige ao professor? Que justifique, muito bem justificado, por que razão o aluno não sabe rigorosamente nada! Então, senhor professor, não fez joguinhos para motivar o aluno? Então, senhor professor, a matéria não pode ser colorida, e divertida, e leve, e apelativa? Faça-a parecer um jogo de computador que assim ela marcha mais facilmente! Ora bolas! Será que neste país há alguém que conheça o significado da palavra esforço e trabalho? Nem tudo é divertido, nem tudo é fácil!!! Pois bem, se há professores que são levados na onda é porque também os obrigam a isso e porque não querem ir também parar ao Tejo!
Caro Eusébio, eu poderia responder à questão que formula dizendo: cabe à sua EXACTAMENTE POR ISSO: porque a minha e as outras anteriores nada fizeram e se a sua não quer ver-se acusada de uma inércia idêntica, tem, de ser ela a fazer o que as outras não fizeram ... Seria UMA maneira de responder. Outra seria: o que está aqui em causa não é um tira-teimas entre gerações porque o adversário de cada uma delas não são as que a rodeiam temporalmente mas os males da História comum de todas elas---o que projecta qualquer 'luta' para fora do estr[e]ito âmbito dos conflitos generacionais. Ora, sucede que esta é a resposta que prefiro porque me parece também a mais construtiva. Aliás, há uma terceira que seria: "Mas a minha geração até fez: esteve [seria de mais dizer: "fez"]; mas esteve activamente---esteve até, se quiser, romanticamente---no "laboratório social e político" que foi o período entre Abril '74 e Novembro '75 e já antes tinha estado, por exemplo, na diáspora contribuindo para a mudança que Abril de '74 PODERIA ter trazido ao País. O que eu acho é o seguinte: se cada uma das gerações que cada época comporta em simultâneo se dispuser humildemente a aceitar a colaboração das outras no debate sobre cada uma das questões que todas elas entendem ser aquelas sobre as quais devem incidir as alterações de carácter social, político, cultural, etc., então, TALVEZ Portugal ainda "seja possível", como dizia 'o outro'---um outro qualquer que até podia ser este... Este que agora escreve, entenda-se! Não podemos impedir que alguns "cérebros" se "evadam" mas podemos manter a lucidez e a humildade intelectual e, juntando as duas, avançar ideias, construir modelos críticos de desenvolvimento, propor soluções concretas para o que consideramos serem os problemas do País. Nos partidos? Nos partidos e fora deles. Eu vivi muito activa e, como digo, muito romanticamente a vida partidária até há cinco/seis anos mas hoje, confesso e não tenho qualquer reserva em fazê-lo, estou francamente mais perto de uma visão organizativa mais de base, mais coperativa até do que rigidamente partidária. Eu acredito sinceramente nas virtualidades da organização cooperativa: de habitação, de consumo, até de serviços. Sou sócio de várias, tenho uma casa de cooperativa. Concordo com a visão de António Sérgio nesta matéria. Mas sabe uma coisa? Eu caí uma vez na asneira de me deixar eleger para uma junta de freguesia da cidade onde vivo que é uma cidade média, com uma estrutura urbana ainda razoavelmente orgânica. Ultimamente, porém, começou a crescer e a perder essa estrutura orgânica: começou a deixar que se formassem embriões de futuros dormitórios suburbanos, marginais que, ao que tudo indica, acabarão por levar à desintegração final da identidade urbana da cidade. Pois na Junta de freguesia propus que se começasse já a atacar essa tendência dispersiva obrigando à construção estratégica de equipamentos de fixação [sobretudo, cultural] da população assim como de sociabilização: um pequeno clube equipado com uma salinha de convívio, espectáculos, biblioteca, etc. E sabe o que me responderam alguns com o ar mais natural deste mundo? "Pois, é engraçada a ideia mas... e como é que vamos convencer as pessoas das moradias a conviverem num mesmo espaço com as do bairro da cooperativa?..." Quando este entendimento 'tribal' da vida colectiva está já entranhado, de algum modo, na própria visão oficial que fazer?... Desistir, não, claro mas que é um trabalho duro e complexo, ah! Isso, com certeza e, como dizia [outra vez...] 'o outro', todos não seremos de mais se queremos que ele dê frutos...
Bom isso que diz, no fim, Ezul é o verdadeiro cancro do ensino em Portugal! Há anos que assim é! Eu nunca me esqueço da angústia de um grupo de professoras de Matemática de uma escola que não vale a pena identificar [seria desnecessariamente cruel e até injusto porque as pessoas são sempre as vítimas de um processo que cada vez mais as engole e obriga a auto-deformarem-se para acompanharem o ritmo de uma coisa que se encontra ela própria toda deformada]; mas, dizia, eu, recordo-me sempre da angústia das colegas em causa que, na sala dos professores, discutiam o planeamento de várias unidades lectivas da matéria que tinham de dar. E dizia uma delas: "Mas como é que nós vamos dar este ponto da matéria se disto é virtualmente impossível fazer um jogo, uma actividade lúdica, algo que [e lá vinha o chavão horroroso da praxe!] algo «que motive»? E respondia outra: "Podemos dar essa parte mais depressa, mais "a correr" e depois «encaixar» aí a outra parte da matéria com a qual já se podem fazer jogos!" Isto é tão verdade como no meu ano de estágio andarmos a inventar joguinhos para dar o mais pequeno ponto da matéria; joguinhos de chacha, alguns de uma imbecilidade embaraçosa [e valha a verdade que tentámos sempre evitar que o nível daquiolo baixasse até à miséria pura e simples]; joguinhos que nada ensinavam, muitas vezes, que tivesse a mínima utilidade efectiva mas, antes das aulas, íamos juntos dos alunos e explicávamos cuidadosamente aquilo que, dias depois, em aulas assistidas, ia ser dado... pela primeira vez e com um sucesso estrondoso, nas aulas assistidas! Nenhum de nós estagiários [volto a dizer: honra nos seja feita!] fazia "aquilo" por convicção e com convicção assim como nenhum de nós se orgulhou e orgulha ainda hoje de ter sido forçado a embarcar naquela autêntica burla que era, de resto, um verdadeiro 'segredo de polichinelo', dentro e fora da escola... Mas se algum de nós tinha a infelizs ideia de tentar argumentar [e eu, que gosto francamente pouco de brincar com coisas sérias cheguei a estar praticamente incompatibilizado com a orientação do estágio por manifestar abertamente a minha discordância com muito do que lá se passava em matéria pedagógica e didáctica] a resposta invariável era: "Quando os senhores forem efectivos, farão como entenderem mas agora as normas são estas..." Eu que, confesso, não sou exactamente bom de assoar quando me tentam mater os dedos pelos olhos, cheguei a dizer nas aulas assistidfas: "O que vamos fazer a seguir é uma coisa com a qual estou em total desacordo mas tenho instruções formais para fazê-lo e, por isso, rapaziada, vamos a isto que, quanto mais depressa eu despachar o encargo, mais depressa começo a aula..."
[cont.] Eu efectivei-me com uma nota que até nem foi má de todo mas fui claramente penalizado pela minha recusa a "engolir" todos os sapos que, a meu ver, degradavam o meu trabalho e eu não admitia engoli-los sem que se percebesse perfeitamente que eu estava exactamente a engoli-los---e por quê. Porque há, de facto, uma puerocracia instalada para a qual se tenta até achar expressão científica e técnica com a caricatura da ideias como a de motivação identificada com a de "entretenimento" puro e simples. Eu sempre achei que mal do aluno que precisa que lhe expliquem tim-tim-por-tim-tim por que razão anda ali. Mal do aluno que não percebe por que razão vai à escola. E mal do professor que tem de explicar-lho dia após dia. Quando dei aulas numa outra escola, todas as semanas recebia queixas sobre um colega de História que, dizia-me a delegada da turma [do 10º ano], "não motivava os alunos". Eu já estava pelos cabelos com aquela conversa e, um dia, quando a moça me veio pela 'enésima' vez fazer queixinhas do colega, fingindo ostensivamente estar distraído, perguntei-lhe que fumo era aquele que se via à distância [de onde nós estávamos via-se a chaminé de uma fábrica vizinha que era o grande polo de fixação dos quadros formados na escola] pelo que, às tantas, com aquela petulância própria de uma certa juventude, a moça me chamou a atenção: "Oh! Professor! Eu estou aqui a falar-lhe de um assunto sério e o professor a perguntar-me pelo fumo! Com franqueza!..." Era o que eu queria ouvir. A partir dali ferrei-lhe uma descasca que ela nunca mais me veio chatear com aquilo. Disse-lhe: "Sabe! É que eu também lhe estou a falar de um assunto muito sério. E até mais sério para si do que para mim. É que a S. fala-me de motivação mas engana-se no sítio onde ela deve, no seu caso, estar. No seu caso e no da turma é ALI naquele fumo que ela deve estar. No emprego que aquele fumo identifica, que ele referencia e sinaliza. Emprego que só se consegue se vocês aqui tiverem sucesso. Por isso, a medida da V. motivação está ali, no emprego, não aqui, na diversão ou não que as aulas proporcionam. Daqui em diante, quando se sentirem desmotivados, olhem pela janela, pensem um bocadinho no que eu acabo de dizer e, se pensarem bem, vão ver que a motivação aparece logo!..." Porque, de facto, quem reduz a motivação ao mero consumo de sensações de 'usar e deitar fora' [e o próprio sistema, na prática, é isso que faz, como nós bem sabemos!] está, como dizem os moços "a ver o filme todo ao contrário". E o pior é que geralmente até está! Mais: é encorajado a vê-lo assim, que ainda é mais grave!
A polítik é isso mesmo que quer: cidadãos assoberbados de trabalho, invadidos de burocracia,cansando-nos e levando-nos a ausência de massa crítica...ou lançados na precariedade e adormecidos com telelixo. A crise principal é a crise política. Carlos, não sei se sabias, mas o teu blogue tb está no meu Dossiê Educação. Um forte abraço
Não sabia, João, mas agradeço, sensibilizado, a tua generosidade. Infelizmente, tudo "isto", esta nossa "aventura virtual" diária, me parece uma espécie de longo monólogo partilhado por dois ou três Amigos... 'diferentes' [entre os quais tu próprio] do que o embrião do grande [e urgente!] debate colectivo sobre nós próprios como sociedade e como país que eu muito romanticamente sonhei que pudesse, um dia, ser... No fundo, é possível---e legítimo---dizer que a utopia se mudou para aqui e que gente "vai lá dentro" sempre na fagueira esperança de que o inestimável e paciente labor de esclarecimento e a incansável intervenção cultural e cívica dos Joões Soares, das "Ezuis", das Avas e de mais umas quantas vozes que se obstinam em ir, apesar de tudo, clamando incansável e incessantemente no deserto, faça que um milagre possa, afinal, acontecer um dia destes, como pareceu, ainda não há muito, ir acontecer...
Um grande abraço para ti e... "força na Bio", ham?! Afinal de contas, enquanto há Vida, há esperança, não é verdade?!...
"«'Suciedade'» de consumo» («Manifesto visual») [Colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]"
(Para a Maria Estela Guedes)
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"Soldier Blue"
Tributo a um verdadeiro "filme de cabeceira" meu: "Soldier Blue", de Ralph Nelson com uma fabulosa Candice Bergen e um digníssimo Peter Strauss, o "soldier blue" deste tão não-tennysoniano anti-épico, sempre (desgraçadamente!) actual filme...
"25 de Abril, sempre!"
Mais palavras, para quê?! «25 de Abril, sempre» é uma senha perfeita! 25 de Abril, sempre, pois"
O "Público" da discórdia...
Ver 'entrada': "Bonnie & Clyde recontextualizados"
A memória, esse "animalzinho caprichoso"...
Sempre que me assaltam dúvidas do tipo mas "ISTO" aconteceu MESMO? Eu estive lá? Eu guiei eléctricos na terra do Tintin? Um reencontro 'imediato' com a Realidade patrocinado pelo visionamento de "peças" como esta impiedosamente saída do meu (volta-não-volta bem embaraçoso!...) baú de recordações assegura-me da solidez e da consistência geral da(s) memória(s). Sim! Eu estive "lá"! E fiz figuras (bem) tristes como esta!...
Bélgica, o Palais de Justice
Trazê-lo aqui é recordar o interrogatório pela polícia, a aventura, a encenação, a meticulosa "mise-en-scéne" e o "script" cuidadosamente ensaido a fim de evitar a delação, parecendo sempre colaborar... (No fundo) bons tempos de imposta adrenalina e mil aventuras também. Ah, a Bélgica! Como dizia "o outro": tipos burros e cerveja? Não só! Também Magritte; Ernest Mandel (que tem, entre outras coisas diversamente consideráveis mas sempre intelectualmente estimulantes, um ensaio sobre literatura policial, "Cadavres Exquis", que é um livro simplesmente fabuloso); Edgar Jacobs (meu Deus! O que eu tremi de prazer em miúdo com o "Marca Amarela" e o omnipresente e intangível vilão Olrik!...); "Hergé" (que era um "facho" danado mas me deu, também ele, horas de irrepetível prazer em criança com o Tintin, o Milou--um avoengo mais ou menos centro-europeu da "Nocas"--o Professor Tournesol e o Capitão Haddock--que por cá se chegaram a chamar, quando o governo salazarista impôs o condicionalismo de todos os "heróis" infantis terem nomes portugueses, respectivamente, "Professor Pintadinho de Branco" e "Capitão Rosa"...---e algum cinema, sobretudo a técnica. Ah, pois, a cerveja... EU não gostava mas, se tivesse mesmo de escolher, optava pela Maes Pils que tinha o nome mais giro embora "o Benfica das cervejas belgas" fosse a "Stella Artois"...
Sacco e Vanzetti
Que melhor imagem para ilustrar simbolicamente, no texto sobre "a 'alfabetização significada', as "novas formas de sindicalismo" do que este duo de mártires composto no Cinema, no filme do Montaldo (com a canção-tema a ser cantada pela Baez) por esse bravo Niccola Sacco (Riccardo Cucciola) e pelo não menos politicamente exemplar Bartolomeo Vanzetti (Gian Maria Volonté)?...
Também Beethoven...
Também Beethoven (aqui re/visto por Warhol e tal como Mozart mais abaixo) havia de ter das boas para dizer aos "selvagens esclarecidos" que se propõem desta feita... "reformar" o ensino da Música em Portugal
Mozart havia de dar voltas no túmulo...
...com a "política educativa" do liberalismo neo-socrático e "pós-social" no poder
"A Boba"
Sobre "A Boba" da Estela Guedes dou, noutro ponto deste "Diário" as minhas impressões. Algumas delas, em todo o caso.
Gramsci
Outro que eu admiro: Gramsci. Fica aqui a homenagem
O "velho" Karl
A imagem ideal para ilustrar a 'entrada': "Da Política como Ciencialidade Pós-moderna por Excelência"
Este é um bom maroto!...
E não é que é mesmo!... E se eu tenho obrigação de saber!... Conheço-o de gingeira vai para sessenta e três anos!...
Esta senhora...
Adoro esta senhora. É parecida com a Joan Baez? Um pouco, diria eu. Caracteriza-a um vago ar de Madonna renascentista? Sim, também. Assim como um certo modo de ser e de agir tipicamente angélico, quase seráfico? É claro para quem com ela priva. Não conhecem? É a Mia! A mãe dos filhos que não tenho. Que não temos. Querida Mia! É tudo aquilo a que um homem pode aspirar. E muuuuito mais...
"A Loucura é um lugar de Deus"
...como digo noutro lugar... Ou, pondo as coisas, em alternativa, de um outro modo possível: "César Monteiro, Luís Pacheco e o próprio Deus---a mesma redentora loucura e em termos genéricos, o mesmo combate.
"O Sonho"
Como diria a Fernanda Botelho: "Esta noite sonhei com...". Com Modigliani, no céu, no meu caso... No MEU céu...
"O Homem Dividido"
Franz Kafka, claro...
"Alas, poor Yorick!..."
A "citação" de "Hamlet" por Ferreri, de que falo noutro lugar deste "Diário"
"À La Recherche d'Un Langage Commum", a minha própria "citação" do "Hamlet"
Ao "colar" descobri que a célebre imagem de Hamlet empunhando a caveira de Yorick regressava de forma cíclica à minha ideia de "composição" de uma colagem. É uma espécie de "tique composicional" ou de "trans-citação" que partilho com Marco Ferreri, por exemplo, que põe o "Phillipe" de "La Grande Bouffe" a empunhar uma cabeça de porco ou de vitelo em "pose de Hamlet". Aqui tento a ironia, unindo impossivelmente dois mundos literalmente inconciliáveis ou intraduzíveis entre si. A vida e a morte. O animal e o mineral. Como em Beckett...
"Old Geezer" ou "Oldwhatshisname"
É a minha "homenagem" pessoal a um "industrial da Arte", apesar de tudo, por diversos motivos, cultu(r)almente relevante: Andy Warhol. Aqui não se nota muito mas multiplicando, como noutro lugar fiz, a imagem a "ilusão" começa a tornar-se reconhecível. A obsessão de Warhol com as subreferências cultu(r)ais, por outro lado (Monroe, Presley e por aí fora), está, por sua vez (em tese, pelo menos... )presente no título.
"Dançar-Dançar-Dançar"
"Isto" é o "mais próximo que eu consigo chegar" de um dos meus "ídolos estéticos" absolutos, Magritte. Belga "como eu". Como eu acho que os belgas deviam ser. E também como eu corri, um dia, sério risco de me tornar... O Magritte (que tem um museu em Ixelles, onde eu e a Hermínia morámos algum tempo, em casa do Raul) integra-se muito bem no "espírito" do "quartier", "a coisa mais parecida com" um bairro boémio de que a Bélgica foi ou é capaz. Ixelles é, de facto, o Montmartre do Norte---estatuto para o qual a colónia portuguesa de refugiados políticos deu, nas décadas de '60 e '70, um contributo verdadeiramente 'vital' e decisivo...
"Mask"
Mas esta não é do Peter Bogdanovitch Nem a do "Elephant Man" do (muito mais interessante Lynch) ... Esta é uma máscara onde eu pretendi fazer (ou onde vejo, pelo menos...) essa espécie de sugestão de inquietante "mistura" (senão mesmo "fusão") mais ou menos "biónica" que caracteriza a nossa época, obsessivamente centrada na "eficácia" e em tudo o que lhe pareça pôr em relevo a "utilidade da realidade" nos seus múltiplos aspectos.
"Distâncias e Sombras"
Pode parecer curioso que eu (que cultu(r)almente pouco ou nada tenho que ver com África) "viaje" de uma forma que é obviamente recorrente por temas envolvendo aspectos diversos associados, de um modo ou de outro, à "negritutde". É, todavia, preciso perspectivar correctamente este meu posicionamento em matéria estética assim como de "ângulo" de abordagem da realidade "mais ou menos concreta e objectiva", digamos assim. Na verdade, o que realmente é preciso, em meu entender, ver em «objectos» como este (e tantos outros que fui, gradualmente, inserindo neste "Diário") é uma preocupção muito ampla e profunda com as diversas formas de marginalidade e exclusão ou com as minorias de toda a espécie---de que a negritude fornece, porém, uma imagem particularmente reconhecível---emblemática mesmo---e patentemente clara.
"Em busca de Deus"
Quando era muito criança, descobri, um dia, na "Barateira", um pequeno lote de livros de Bernard Shaw: "O Guia do Socialismo para a Mulher Inteligente" e "As Aventuras de uma Negrinha à Procura de Deus". Este último título em particular exerceu sobre mim um profundo fascínio. Como não tinha dinheiro que chegasse, comprei um outro livro (uma belíssima edição, em letra gótica, do Schiller) e tive de abandonar estes. Quando consegui juntar o dinheiro suficiente para comprar os outros e voltei à Barateira, já tinham sido vendidos. Nunca mais voltei a achar o tal "Guia para o Socialismo". Até hoje. O outro, sim, tenho-o. A minha atracção pelo estilo truculento e... "orson-wellsiano" do Shaw, hoje, já não me arrebata como chegou a acontecer. Em memória, porém, da "Negrinha" que "buscava Deus" assim como das fundas emoções que o meu desencontro com o livro em causa me motivou, fiz esta "Cidade" que se eleva magicamente no ar em busca daquilo que todos nós, tanto individual como colectivamente, tão incessante quanto vãmente, buscamos: um Deus no qual possamos, senão acreditar, ao menos (e por muito paradoxal e irrazoável que isto possa soar) confiar...
"As Bruxas de Macbeth"
As bruxas, o horrífico---e o oceano como um grande caldeirão de sortilégios e malefícios...
"Mistaken Identity"
Gosto particularmente da ideia desta "translação identitária" multiracial...
"Testimony"
A minha (aqui, irónica...) paixão pelo preto--branco
"Hamlet Prince"
De regresso, a minha atracção pela re/criação shakespereana do príncipe neurótico e eternamente enigmático.
"Sombra"
Aqui terei sido, sobretudo, ajudado pelo acaso. Dele resultou uma 'outra' sombra que eu próprio não tinha inicialmente previsto mas que liga, com extrema subtileza um passado tenebroso a um presente demasiado idiota e acéfalo para ser seja o que for de uma forma directa e clara.
"Civilização!
Cada vez estaremos mais próximos de uma situção em que esta imagem deixe de ser uma simples «imagem»... Quero eu dizer: cada vez estaremos mais perto de sentir na própria pele que ela já o não é... Simples imagem, quero eu dizer...
Jimbo
Ainda e sempre, o protesto anti-racista em acção! Agora é um negro que se vê obrigado a "usar" sobre a sua uma boca de branco... Simbolicamente doente, para mais. Será com... "herpes cultural"?...
"Todos Somos Hamlet"
Gosto muito de Shakespeare e de "Hamlet". Gostaria de encená-lo um dia assim como a "Macbeth" e "Richard III", usando (para o caso do primeiro, que aqui homenageio) as excitantes "misinterpretations" que Freud dele fez. Elas são, aliás, um excelente exemplo do que chamo a "leituração" de um texto, isto é, de uma abordagem "ampla" e "criativa" que não desdenha (longe disso!) usar o texto como uma espécie de espelho móvel e amplificador, dialéctico ou "dialectizante", onde o... "leiturante" ou "leiturador" procura, em última análise, sempre, realmente, o seu próprio rosto...
"No Man Is An Island"
Na Universidade (com um professor extremamente pedante, aliás, cujo nome não divulgo...) travei contacto com aquele que é, hoje-por-hoje, sem qualquer dúvida, um dos meus poetas "de cabeceira": John Donne, o mais emblemático e poeticamente relevante dos "metafísicos" ingleses do século XVII. É dele a extraordinária "valediction" de onde esta frase inesquecível foi extraída. Foram, pois, Donne e uma ideia lindíssima (assim como um meio, sem dúvida, literariamente arrebatador de apresentá-la) que aqui tentei 'homenagear'.
"Asamblea de los Ausentes"
Nem valerá a pena "explicar", não é?... Desgraçadamernte. Pensei-a como um acto visual de protesto contra as barbaridades e os atentados aos direitos humanos mais primários cometidas sobre os palestinianos na Faixa de Gaza. Não! Cometidas contra todos os "palestianos" deste mundo, onde quer que eles se encontrem. Assim é que está correcto!
"Os Amantes"
Uma das minhas colagens preferidas. Porque é (talvez?) muito beckettiana. Quer dizer: eu gostava de acreditar que o é... O título faz-me (a posteriori) pensar, além disso, num filme que vi do Louis Malle que vi há muitos anos, me impressionou imenso e que tinha exactamente esse título.
"Goddo"
Ainda uma alusão, referência e "citação" de Beckett: "Goddo", "Godot". Deus movimentando-se no seu particular jardim de astros e vazios...
"Georgegloomygeorge"
Noutro lugar, dou pormenores adicionais sobre este "George" que aqui vem, agora, "visitar-nos". É a minha contribuição para a luta anti-racista, através da ironia e do absurdo. "George" é um negro a quem obrigam (simbolicamente...) a ver o mundo com olhos azuis de caucasiano. Uma metáfora do colonialismo? Como diz "o outro": são vocês quem o diz...
"A Loucura é um Lugar de Deus II" ou "Simetria multiôntica"
Aqui se visa confirmar o que, noutro ponto, se disse. A saber: que a loucura é MESMO um lugar de Deus...
"A Loucura é um Lugar de Deus"
Uma a uma, vou aqui dando lugar às minhas colagens. A esta chamei eu: "A Loucura é um Lugar de Deus". Para mim...é!
A capa "fatal"...
Por causa dela, desta capa (e do Sr. Lello, do Porto que a pagou e aceitou publicá-la...) andei eu, anos a fio, "às turras" com o Eça... Design mais horroroso era, com efeito, difícil concebê-lo... Tenho outros livros da Livraria Lello (muitos dos quais 'Eças') mas confesso que, ainda hoje, não fiz por completo as pazes com este senhor livreiro do Porto...
O Granger e a Kerr...
O Granger e a Kerr: "see what I mean"?...
O Stewart Granger!...
Eu falei, noutro dia, no Rock Hudson, não foi? Pois... Mas o meu herói, (herói mesmo, como dizem os brasileiros) foi, durante largos anos, este senhor 'imensa' ou 'intensamente britânico' que fez de Alan Quatermain n' "As Minas de Salomão" (meu Deus, o que aqueles pinhais e charnecas da Vila Nova de Caparica passaram quando eu os promovi unilateralmente a África, uma África privada onde nem faltou uma Deborah Kerr tão imaginária e perfeita quanto o original!!... Tempos houve em que o meu maior dilema era: qual é o filme "absoluto", "definitivo", "completamente perfeito"? Estas "Minas" (que me fizeram, aliás, durante anos a fio, olhar "de lado" para o Eça que traduziu/adaptou o texto original do Rider Haggard mas que, coitado, não teve culpa alguma da edição que a Lello fez da obra em cuja capa o "meu herói" aparecia como eu---com o embaraço que se compreende!----mostro noutro lugar deste "Diário"!...) se "The Prisoner of Zenda" do Richard Thorpe, com... "libreto" original do Anthony Hope!... Em ambos, o Granger era o herói e a Kerr (a absoluta perfeição feminina!) a "rapariga". Nesa altura, para nós, cinéfilos "mirins", os "heróis" eram todos "o rapaz" e as heroínas "a rapariga". Mas eu até tremia só de pensar que chamar rapariga àquela "coisa dourada e angelical" que era, para mim, a Kerr, pudese maculá-la e ofendê-la!... Eu tive uma colega em Almada cujo filho, um dia, na sala dos professores, esteve uma manhâ inteira a olhar para mim, muito sério. A dado momento, chamou a mãe de lado e disse-lhe ao ouvido qualquer coisa que a fez rebentar a rir. O que era? Tão somente isto: pedia ele à mãe que, no Natal ou nos anos, lhe arrranjasse... um bigode igual àquele que eu, na altura, orgulhosamente ostentava!... (Isto é rigorosamente "histórico", ham?...) Pois, a mim pessoalmente só me faltou, com idêntica candura, pedir ao meu próprio Pai ou à minha própria Mãe que, pelo Natal, me dessem um cachimbo, uma espingarda e uma... cara como a Granger para eu poder "pedir namoro à Kerr", quando a visse num qualquer próximo filme, desses que eu ia, sempre que podia, ver ao "Royal" ou ao "Terrasse" (o Lys, para o efeito, era demasiado perto de casa, "too close for comfort"!...) quando me "desenfiava" das aulas do "Gil" e ia ver os Grangers e as Kerr "oficiarem" na escuridão desses "templos absolutos" que eram os velhos cinemas "de bairro"----e "de reprise" (que os 'outros', pelo preço, ficavam todos definitivamente "off limits")...
"Ol' Dan Ruiney"
Esta é uma colagem onde tentei representar a minha visão pessoal do "herói" de "All That Fall", o velho Dan Rooney, aqui (tudo menos por acaso...) rebaptizado de "Dan RUINEY". Ainda e sempre a sombria mas genial "tutela" de Beckett...
"All That See"
Este é o "meu" Beckett. Desde que a fortuna me possibilitou traduzi-lo ("All That Fall") que pensava fazer, em colagem, um Beckett capaz de ver mais do que a esmagadora maioria de nós, dramaturgos ou não, homens de letras ou não. Ele aí está. Talvez...
"Moderato Cantabile ou a minha homenagem à Duras"
A legenda é essa: "Moderato Cantabile". A minha homenagem pessoal à Duras.
O avôzinho "Siggy"
É uma das colagens que incluí na minha "Exposição virtual", "Actos de Colagem" e de que gosto especialmente. Fi-la sobre uma escultura de "?", apondo-lhe um retrato do velho Freud. o nosso "avôzinho Siggy".
"O" Filme
Se me pedissem para "descrever o cinema" com um exemplo prático, eu diria, sem hesitar muito, "Mon Oncle". Poderia também, em alternativa, dizer "Playtime" mas ia, afinal, dar ao mesmo---a esse génio absoluto da ficção que foi Jacques Tati. Por uma razão qualquer, quando se pretende avançar um rosto de referência para o "humanismo estético" ou "narrativo", "ficcional" moderno, designadamente cinematográfico, muitos críticos são tentados a pronunciar imediatamente o nome de Frank Capra, por exemplo. E logo se fala de 'Jimmy' Stewart, do "Sr. Smith" que vai a Washington" (sem esquecer---pois: sem, em caso algum, esquecer!---o clássico "You Can't Take It With You". Não me interpretem mal, como dizia uma personagem (divertidíssima!) de um livro do Peter Cheyney. Eu até gosto (e muito!) do Stewart e não desgosto propriamente do Capra. Do Capra, eu acho, até, que pode ser considerado (e estimado!) como uma espécie de "consciência prática" (por absurdo, pelo menos) da América interesseirona e pagã dos Fords e quejandos. Agora, é preciso ser intelectualmente honesto e reconhecer que, quando se 'descuida' (e 'descuida-se' muito!...) o Capra consegue, sem dificuldade, ser insuportavelmente retórico e simplista. "You Can't Take it With You", até por aquilo que o Capra fez ao Stewart (o grande 'Jimmy' parece, às vezes, uma espécie de remota inspiração transatlântica das caretas e esgares do Rodrigues dos Santos e não é dizer pouco!...) envelheceu por completo e é, hoje-por-hoje, uma coisa arqueológica---senão mesmo... paleontológica... A verdade, porém, é que aquilo que alguns persistem em ver em Capra (em TODO o Capra, pelo menos) está genialmente dito no Tati, em duas/três obras-primas absolutas, definitivas: a impossibilidade romântica de mudar o mundo, a poesia da 'perfeita' in-utilidade (o potencial subversor e até 'revolucionário' dessa mesma in-utilidade ou da vagabundagem e do sonho!), o sentido profundo do humano, numa palavra---não conheço ninguém como o Tati para transmiti-lo. Poesia em cinema tentaram fazê-la os "vanguardistas" e, com raras excepções (Jean Vigo, o visionário e sempre torrencial Buñuel e poucos mais) apenas lograram objectos e "curiosidades cinéticas" sem real significado ou intrínseca dimensão estética---e humana. Foi preciso 'haver Tati' para a gente perceber que é possível (sei lá!) "levar os impressionistas musicais directamente ao Cinema" e fazer deste não apenas Poesia como, sobretudo (mais difícil ainda) Música, pura Música. A perfeita abstracção no mais empolgante concreto que é posível imaginar: um Paris que morre às mãos das suas próprias fragilidades, inconsistências, vacuidades e delírios...
Em Montemor com Álvaro Cunhal...
Não ponho legenda: a imagem é a sua própria legenda. Ah e o Álvaro está vivo, ham? Eu, é que já não digo nada...
O "velho" Rock...
Descobriu-se, depois, que era homossexual. À época a que se reportam as reminescências cinéfilas que aqui aparecem ilustradas com imagens de cinemas para mim 'de culto', o "velho" Rock era um dos paradigmas absolutos da beleza e do charme viris. Não havia quem não sonhasse ser... ele. Vi-o, suponho que pela primeira vez, numa coisa fabulosamente má, deliciosamente kitsch (porque não dizê-lo? Soberbamente pirosa...) tirada do infelicíssimo "Papa Hemingway": "O Adeus Às Armas" ("A Farewell To Arms") na versão do Charles Vidor. O pobre "Papá" sempre teve azar com os filmes que dele se fizeram---dos quais talvez apenas escapem "O Assassinos" ("The Killers") do Robert Siodmak que não era nada mau e, claro, o "Ter e Não Ter" ("To Have And Have Not") do Hawks. Voltando, porém, ao Hudson: para mim, é, ainda hoje, um ícone. Acho, aliás (e faço absoluta questão de dizer isto: é, seguramente, a melhor homenagem que posso prestar à memória do "velho" Rock e à própria memória da minha tão fascinada quanto já distante adolescência) que já ia, com certeza, sendo altura de começarmos todos a "separar de vez as águas" e, primeiro, de não confundirmos as pessoas em si com aquilo que fazem e, depois, de não as julgarmos pelo que, na privacidade das suas vidas, têm todo o direito (e mais algum!...) de fazer. Irrita-me e confunde-me (melhor dizendo: deixa-me profundamente apreensivo!) que, ainda hoje, aquilo que um homem mete no bolso (aquilo que ele mete AO bolso!) conte menos para a imagem que dele, em geral, temos e projectamos do que aquilo que ele mete num orifício qualquer de um corpo que apenas a ele pertence... Não ligues, pá! Eras 'o maior' e continuas a sê-lo para os tipos como eu que abominam os preconceitos e as pacóvias superstições!... E, se lá no "assento etéreo onde subiste" te apetecer "abafar a costeleta" com o próprio S. Pedro, quem sou eu para te dizer que não deves fazê-lo?... Um abraço, pá! Em nome das horas de deslumbramento que tu e esse facholas abominável do John Wayne mais o mafioso do Sinatra e o bêbedo genial que foi o Dean Martin me proporcionaram. Manda-os lixar a todos, pá!
Blood Diamond: dois excelentes actores, Djimon Hounsou e Leonado Di Caprio
Um' "A Desaparecida" do milénio
O Imperial!...
Está-se mesmo a ver, não é? Só se ouvia falar de "Fé" e de "Império", já havia um, um cinema "Império" na Alameda, este, coitado, como era mais pequenino teve de contentar-se com o ser "Imperial". Como a cerveja! Mas era lindo. Antes de ele se transformar em "Pathé", funcionou lá, durante algum tempo, o Cine-clube Universitário (cuja sede era, aliás, bem pertinho). Um dia, deixaram-me fazer o texto do programa. Passavam o "Salvatore Giuliano" do Rosi. Eu fiz o programa e quando fui ver as provas, mostraram-me uma folha que dizia: "Salvatore Giuliano-espaço em branco-Carlos Machado Acabado". Era o que sobejava da passagem da Censura por aquele "belo naco" de adolescente "prosa crítica" que eu tinha espremido com um carinho infindo das púberes meninges brilhantemente inspiradas! Só eu sei o cagaço que tive nas semanas, meses e até anos que se seguiram, sempre à espera que me viessem buscar para uma animada "discussão crítica" da parte omissa do texto, com uma moca qualquer das muitas que havia naquela tenebrosa António Maria Cardoso da época... Nunca mais me esqueci do filme! Também lá passaram (mas foi mais pacificamente!...) "O Mundo A Seus Pés" do Wells e "A Grande Guerra" do Moniccelli. Ah e também lá vi, deste último, uma coisa verdadeiramente fabulosa chamada "I Solitti Ignotti" (que se chamou por cá "Gangsters Falhados" e em Espanha---juro que é verdade!---"Rufufu", numa "piada" foleiríssima ao "Rififi" do Dassin de que este era uma paródia, aliás seriíssima e tudo menos "social e até politicamente inocente"!
Outra do "velho" Lys (que, depois de morto, foi "Roxy"...)
Aqui o temos, de novo... Cada bilhete custava, no "meu tempo", cinco escudos (que, depois, passaram a seis...). Mas tínhamos direito a dois filmes de cada vez. Como era um cinema de gente "benzinho" e, dentro desta, "de senhoras" (sobretudo, à tarde e à semana) passávamos a vida a "levar com" a "Sissy" e uns dramalhões terríveis de mulheres "seduzidas e abandonadas" e coisas no género. Não "descia" tanto como o "Royal" (mais à frente, já na Graça) ou o Odeon (onde só estavam "autorizados" os dramas de grande e hispânico dramatismo com a Montiel, o Pedro Infante e por aí fora) mas quase!... Era a ingenuidade da época que escolhia os filmes e ditava as emoções que devíamos ter ao vê-los! Mas, atenção, não me arrependo de nada daquilo que vi, ham? Se ia ao Império e ao Estúdio ver o Bergman (todo cortadinho "às tiras" pela Censura mas enfim, houvesse saúde, não é?!...) e o Hawks ao Olympia e ao Rex, também vinha aqui ver o Sirk e o King Vidor, no Lys. E gostava, na mesma!...Era um "gostar diferente" mas era gostar... Assim como quando a gente gosta dos filhos mesmo ceguinhos e das filhas mesmo desavergonhadinhas e tudo!...
O Velhinho Lys da minha infância! Que saudades!...
Ficou assim, coitadinho!... Vi aqui os meus primeiros John Fords, os meus primeiros Douglas Sirks (Sim! Também os vi, pois! E que saudades da fervente ingenuidade com que via o Hudson beijar a Cornell Borchers e a Doris Day ou a Jennifer Jones!... Até lá vi um filme absolutamente tenebroso de terror com o Peter Lorre e uma mão que andava por "ali" sozinha e que, durante anos, fez parte integrante dos meus "melhores" pesadelos!...) Em frente, havia a "velha" Escola Luís de Camões, por cima da Policlínica. Às cinco da tarde, saía-se dos empregos e ia-se ler o "Popular" para a Delta ou para o Jardim dos Anjos, com as cagadelas das pombas a cairem como miríades de 'granadinhas' e 'obuzes' "ecológicos", cheios de encanto e ternura"... Bons tempos! Bons [pré-socráticos] tempos de porrada da polícia e outras abjecções "sortidas"!... Mas, ao menos, ainda não havia as crónicas do Pulido Valente nem as carantonhas do Rodrigues dos Santos... Só por isso, já valeu a pena!
15 comentários:
Infelizmente os dois (muito) lamentáveis casos recentes ocorridos em escolas apenas vêem confirmar o vazio total em que se encontra a nossa sociedade de alto a baixo.O Estado lava as mãos e tenta manter a todo o custo aquilo em que só os idiotas ainda acreditam: A ideia de que há Educação,Justiça,etc.
Definitivamente o Gonçalo Eusébio disse tudo! O país chegou a um ponto, que eu não sei do que será dele.
É desmoralizante ver no que se transformaram os sonhos de um passado não assim tão distante e inquieta-me não só como mãe, mas também como cidadã, qual o futuro que os nossos filhos encontraram pela frente neste Portugal à beira mar plantado.
Um beijo, Ava.
Se existe uma ERC em Portugal como é possível que à luz do dia ou da noite se transmitam em sinal aberto programas obscenos como "Morangos com Acúcar","Lua Vermelha" ou Wrestling, uma coisa muito americana que representa bem um certo espírito rural e belicista,da América que foi alegremente para o Vietname e continua a ir para o Afeganistão mas que sendo transmitido em Portugal pode ter um efeito perverso retirando-se do contexto?
O que há ali de didáctico,de educativo?
Lava as mãos o Estado, lava as mãos a direcção da escola, lava as mãos o resto do corpo docente, lavam as mãos os pais, tudo lava as mãos e o resultado é este!
Quem é fraco ou tenta remar contra a maré é engolido, quem é esperto aprende a adaptar-se.
Só que...
Só que adaptar-se ao que existe é perpetuar os erros e é por isso que estamos onde---e como---estamos.
E é pena porque que sofre é o País que se vai continuamente afastando do resto da Europa: da "Europa-com-aspas" e da Europa a sério...
Meu caro: cabe, acima de tudo, à SUA geração lutar para que tudo mude.
A minha... já deu o que tinha a dar e além disso quem a ouve?...
Estes acontecimentos principalmente o do Leandro,fazem-me lembrar a revolta que senti quando andava na escola porque tal como todos os que lá andaram também sofri na pele de certo modo.Quando haviam aqueles alunos os chamados "problemáticos" ou de famílias carenciadas ou que eram logo rotulados pelos órgãos da escola pelo sítio de onde vinham, esses alunos eram sistematicamente desculpados pelos funcionários e alunos como eu que não sendo um aluno excepcional era um aluno acima da média e que me esforçava não tinham tanto essa tolerância.Mesmo nos casos de violência haviam alunos que eram muito mais (ou quase sempre) desculpados.Era muito mais fácil expulsar um aluno que não fosse do tal grupo de risco do que algum dos outros.Haviam sanções mas não eram aplicadas de igual modo.O problema é que muitos desses alunos agora já são pais e não são responsáveis pela educação dos filhos ou pelo menos alguém lhes fez sentir durante o crescimento de que eles não eram responsáveis.Por isso é que muitos pais querem que os filhos estejam na escola o maior número de tempo possível porque não teem capacidade para os educar.Quanto mais tempo os miúdos não incomodarem os paizinhos melhor.E esta situação vai ter (já tem) consequências desastrosas num futuro próximo.O caso do leandro foi um desses casos não há que estar com meias tintas, os pais e a escola não assumiram as responsabilidades.Este país vive nisto,ninguém é responsável de nada.
Eu assumo as responsabilidades do que eu faço não tenha dúvidas disso, não sei se a minha geração ou a sua as assumirá cada um que fale por si.
Pois o problema das "tê-vê-ices" e coisas semelhantes é uma... pescadinha de rabo na boca: se não há, as pessoas exiigem, e se exigem... há!
Quais são as publicações que se vendem?
Os canais de televisão que lideram?
Os livros que [apesar de tudo!] ainda se lêem ou, pelo menos, compram?
E isso acontece por acaso?
Alguém é obrigado a ver aqueles mamarrachos inomináveis da TVI ou da SIC?
Não!
Desgraçadamente, Portugal é MESMO "aquilo" e é por isso que temos os políticos que temos e a sociedade que temos.
Que mete medo à Ava que é Mãe e Cidadã e ao Eusébio que, sendo jovem, tem opiniões, tem um ponto de vista sobre a realidade que o rodeia.
Mas infelizmente a sociedade não é toda feita de Avas e Gonçalos Eusébios e são precisamente esses outros que o não são mas que são a maioria quem elege os medíocres e os incompetentes [para não dizer outra coisa pior ainda...] e os vai trocando entre si, agora este, depois aquele e, a seguir, volta ao princípio...
E quem se insurge é um "chato" e as pessoas acabam por se cansar e baixar os braços e tudo continua como era e...
...e Portugal está como está: sem futuro ou com um futuro que, às vezes, mais valia sei lá o quê!...
E, depois, ficamos todos muito admirados se os professores e os alunos se suicidam e quem pode foge, como o Saramago...
Eu sobre a responsabilidade que cabe a cada um, não tenho dúvidas nem deixo de ter!
Não me compete a mim tê-las nem sou juíz das responsabilidades de cada um, entendamo-nos, de uma vez!
Não sou Deus nem quero ser!
Tenho, obviamente, uma opinião sobre o conjunto da sociedade portuguesa mas relativamente a cada um que cada um assuma as que lhe competem: se age bem, tanto melhor!
Agora, há, de facto, globalmente, uma sensação de "ausência de movimento na História", de imponderabilidade histórica que arrepia!
E aquilo de os alunos serem tratados com pinças, isso é verdade!
Imolam-se, por vezes, de um modo ou de outro e das mais diversas maneiras, os fracos porque dá menos trabalho, menos problemas e ainda tem a vantagem adicional de simular para o exterior uma eficácia que, de facto, não existe
Eu tive conhecimento directo de casos desses, de alunos que faltavam sistematicamente e cujas faltas eram sistematicamente justificadas [ou ignoradas pura e simplesmente] porque "coitados, têm problemas em casa, o pai é alcoólico e a mãe outra coisa qualquer" numa turma onde um desgraçado faltava uma semana por estar doente e era um cão-e-um- furão para lhe justificarem as faltas.
Ou, no primeiro caso, "desapareciam" pura e simplesmente e, no segundo, enchiam as pautas de vermelho, tranasmitindo para o exterior a ideia de que o "aluno-problema" afinal era um exemplo e o desgraçado do outro, um faltista danado...
E este era um exemplo menor porque às vezes até as classificações reflectiam injustiças terríveis porque o mau aluno tinha conseguido um "cinco" e, no caso dele, já "revelava progressos assinaláveis" enquanto que o outro aluno "de treze", se tinha o azar de atravessar um período menos bom, era penalizado, os pais [que ATÉ VINHAM À ESCOLA...] chamados e havia, muitas vezes "mosquitos por cordas".
O "sistema" funciona assim, não há psicólogos escolares no edifício institucional, cada professor faz "como lhe parece": eu tive um aluno que não fazia rigorosamente nada, faltava que se fartava mas, porque "os pais eram divorciados" nem faltas tinha e quanto a testes só ia se lhe apetecia.
Claro que os outros alunos queixavam-se e com razão de que se faltavam eram penalizados e acusados de faltar por medo enquanto que ao F. se faziam testes especiais sempre que se lembrava de faltar.
Eu já andava pelos cabelos com aquilo e, um dia, em que o moço faltou a um teste e me apareceu no dia seguinte, perguntando-me com o ar mais trocista deste mundo quando eu é que lhe fazia o teste dele, houve chatice: eu disse-lhe que, pura e simplesmente, não estava para lhe fazer mais um teste especial para ele e o rapaz ameaçou-me que se ia queixar à directora de turma.
Eu nem hesitei: disse logo à colega que testes especiais nunca mais e que ia exigir em reunião que todas as faltas do moço passassem a ficar averbadas e que quem assumisse a responsabiluidade de justificá-las fosse identificado e obrigado a explicitar os critérios.
Fui chamado de "mau" mas a verdade é que a rebaldaria acabou e o moço não teve mais remédio senão trabalhar e a sério se quis passar...
Felizmente o conselho directivo tinha colegas que não se amedrontaram nem cederam a chantagens e o moço até passou a acabaram-se as injustiças...
Mas, de facto, a regra geral é outra...
Caro Carlos Acabado,enfiei a carapuça. Porque é que a minha geração tem de se responsabilizar por fazer com que as coisas mudem se as anteriores não o fizeram? Os nossos políticos são da minha geração, têem 30 anos? Não ouviram a sua como não ouvem a minha e muito menos ouvirão as que se irão seguir. E sabe porquê? Porque as melhores "cabeças" da minha geração já saíram daqui há muito e as outras farão o mesmo.
E, já agora, que se faça também referência às benditas provas de recuperação, que apenas serviram para atirar mais uma boa dose de burocracia para cima dos professores e que penalizaram os alunos que faltaram justificadamente. Sim, apenas penalizou quem não merecia porque os que faltaram descaradamente às aulas, com a conivência dos pais, ou com a demissão destes, o que vai dar no mesmo, continuaram a faltar. Quando não faltavam às próprias provas de recuperação, apareciam para as fazer mas com um ar trocista de quem se está a borrifar para aquilo tudo e sem levar sequer uma esferográfica.
É bom que se diga que, se há professores que cedem perante certas situações, é porque também são forçados a isso. Afinal de contas, quem é que não se ressente de pressões das hierarquias, sejam as que existem no local onde se trabalha, sejam as de outros organismos superiores, que a toda a hora arranjam formas de controlar, inventando questionários, formulários, preenchimento de estatísticas, organização de painéis, etc,etc,etc (já para não referir a maquiavélica teia da tão falada avaliação de desempenho). Ah, então e os designados "encarregados" da "educação" (que não se tem e que não se dá, em muitos casos)de muitos dos alunos com falta de aproveitamento, que correm a exigir trabalhos mais fáceis, a reclamar da exigência dos professores (imagine-se que até se chega a dizer que um professor de Língua Portuguesa é exigente porque corrige os erros ortográficos...), da marcação de testes, da quantidade de assuntos que têm de ser estudados e de mil uma coisa que não lembra ao diabo.
Pedem ao professores que façam o pino em situações em que o aluno não quer, simplesmente, estudar; em situações em que o aluno não leva o livro, em que deita fora as fichas de trabalho, em que não traz os materiais, em que não faz a tarefa indicada, em que não adquire conhecimentos porque não ouve, não lê, não faz um exercício, não estuda! E o que é que se pede, o que é que se exige ao professor? Que justifique, muito bem justificado, por que razão o aluno não sabe rigorosamente nada! Então, senhor professor, não fez joguinhos para motivar o aluno? Então, senhor professor, a matéria não pode ser colorida, e divertida, e leve, e apelativa? Faça-a parecer um jogo de computador que assim ela marcha mais facilmente!
Ora bolas! Será que neste país há alguém que conheça o significado da palavra esforço e trabalho? Nem tudo é divertido, nem tudo é fácil!!! Pois bem, se há professores que são levados na onda é porque também os obrigam a isso e porque não querem ir também parar ao Tejo!
Caro Eusébio, eu poderia responder à questão que formula dizendo: cabe à sua EXACTAMENTE POR ISSO: porque a minha e as outras anteriores nada fizeram e se a sua não quer ver-se acusada de uma inércia idêntica, tem, de ser ela a fazer o que as outras não fizeram ...
Seria UMA maneira de responder.
Outra seria: o que está aqui em causa não é um tira-teimas entre gerações porque o adversário de cada uma delas não são as que a rodeiam temporalmente mas os males da História comum de todas elas---o que projecta qualquer 'luta' para fora do estr[e]ito âmbito dos conflitos generacionais.
Ora, sucede que esta é a resposta que prefiro porque me parece também a mais construtiva.
Aliás, há uma terceira que seria: "Mas a minha geração até fez: esteve [seria de mais dizer: "fez"]; mas esteve activamente---esteve até, se quiser, romanticamente---no "laboratório social e político" que foi o período entre Abril '74 e Novembro '75 e já antes tinha estado, por exemplo, na diáspora contribuindo para a mudança que Abril de '74 PODERIA ter trazido ao País.
O que eu acho é o seguinte: se cada uma das gerações que cada época comporta em simultâneo se dispuser humildemente a aceitar a colaboração das outras no debate sobre cada uma das questões que todas elas entendem ser aquelas sobre as quais devem incidir as alterações de carácter social, político, cultural, etc., então, TALVEZ Portugal ainda "seja possível", como dizia 'o outro'---um outro qualquer que até podia ser este...
Este que agora escreve, entenda-se!
Não podemos impedir que alguns "cérebros" se "evadam" mas podemos manter a lucidez e a humildade intelectual e, juntando as duas, avançar ideias, construir modelos críticos de desenvolvimento, propor soluções concretas para o que consideramos serem os problemas do País.
Nos partidos?
Nos partidos e fora deles.
Eu vivi muito activa e, como digo, muito romanticamente a vida partidária até há cinco/seis anos mas hoje, confesso e não tenho qualquer reserva em fazê-lo, estou francamente mais perto de uma visão organizativa mais de base, mais coperativa até do que rigidamente partidária.
Eu acredito sinceramente nas virtualidades da organização cooperativa: de habitação, de consumo, até de serviços.
Sou sócio de várias, tenho uma casa de cooperativa.
Concordo com a visão de António Sérgio nesta matéria.
Mas sabe uma coisa?
Eu caí uma vez na asneira de me deixar eleger para uma junta de freguesia da cidade onde vivo que é uma cidade média, com uma estrutura urbana ainda razoavelmente orgânica.
Ultimamente, porém, começou a crescer e a perder essa estrutura orgânica: começou a deixar que se formassem embriões de futuros dormitórios suburbanos, marginais que, ao que tudo indica, acabarão por levar à desintegração final da identidade urbana da cidade.
Pois na Junta de freguesia propus que se começasse já a atacar essa tendência dispersiva obrigando à construção estratégica de equipamentos de fixação [sobretudo, cultural] da população assim como de sociabilização: um pequeno clube equipado com uma salinha de convívio, espectáculos, biblioteca, etc.
E sabe o que me responderam alguns com o ar mais natural deste mundo?
"Pois, é engraçada a ideia mas... e como é que vamos convencer as pessoas das moradias a conviverem num mesmo espaço com as do bairro da cooperativa?..."
Quando este entendimento 'tribal' da vida colectiva está já entranhado, de algum modo, na própria visão oficial que fazer?...
Desistir, não, claro mas que é um trabalho duro e complexo, ah! Isso, com certeza e, como dizia [outra vez...] 'o outro', todos não seremos de mais se queremos que ele dê frutos...
Bom isso que diz, no fim, Ezul é o verdadeiro cancro do ensino em Portugal!
Há anos que assim é!
Eu nunca me esqueço da angústia de um grupo de professoras de Matemática de uma escola que não vale a pena identificar [seria desnecessariamente cruel e até injusto porque as pessoas são sempre as vítimas de um processo que cada vez mais as engole e obriga a auto-deformarem-se para acompanharem o ritmo de uma coisa que se encontra ela própria toda deformada]; mas, dizia, eu, recordo-me sempre da angústia das colegas em causa que, na sala dos professores, discutiam o planeamento de várias unidades lectivas da matéria que tinham de dar.
E dizia uma delas: "Mas como é que nós vamos dar este ponto da matéria se disto é virtualmente impossível fazer um jogo, uma actividade lúdica, algo que [e lá vinha o chavão horroroso da praxe!] algo «que motive»?
E respondia outra: "Podemos dar essa parte mais depressa, mais "a correr" e depois «encaixar» aí a outra parte da matéria com a qual já se podem fazer jogos!"
Isto é tão verdade como no meu ano de estágio andarmos a inventar joguinhos para dar o mais pequeno ponto da matéria; joguinhos de chacha, alguns de uma imbecilidade embaraçosa [e valha a verdade que tentámos sempre evitar que o nível daquiolo baixasse até à miséria pura e simples]; joguinhos que nada ensinavam, muitas vezes, que tivesse a mínima utilidade efectiva mas, antes das aulas, íamos juntos dos alunos e explicávamos cuidadosamente aquilo que, dias depois, em aulas assistidas, ia ser dado... pela primeira vez e com um sucesso estrondoso, nas aulas assistidas!
Nenhum de nós estagiários [volto a dizer: honra nos seja feita!] fazia "aquilo" por convicção e com convicção assim como nenhum de nós se orgulhou e orgulha ainda hoje de ter sido forçado a embarcar naquela autêntica burla que era, de resto, um verdadeiro 'segredo de polichinelo', dentro e fora da escola...
Mas se algum de nós tinha a infelizs ideia de tentar argumentar [e eu, que gosto francamente pouco de brincar com coisas sérias cheguei a estar praticamente incompatibilizado com a orientação do estágio por manifestar abertamente a minha discordância com muito do que lá se passava em matéria pedagógica e didáctica] a resposta invariável era: "Quando os senhores forem efectivos, farão como entenderem mas agora as normas são estas..."
Eu que, confesso, não sou exactamente bom de assoar quando me tentam mater os dedos pelos olhos, cheguei a dizer nas aulas assistidfas: "O que vamos fazer a seguir é uma coisa com a qual estou em total desacordo mas tenho instruções formais para fazê-lo e, por isso, rapaziada, vamos a isto que, quanto mais depressa eu despachar o encargo, mais depressa começo a aula..."
[cont.]
Eu efectivei-me com uma nota que até nem foi má de todo mas fui claramente penalizado pela minha recusa a "engolir" todos os sapos que, a meu ver, degradavam o meu trabalho e eu não admitia engoli-los sem que se percebesse perfeitamente que eu estava exactamente a engoli-los---e por quê.
Porque há, de facto, uma puerocracia instalada para a qual se tenta até achar expressão científica e técnica com a caricatura da ideias como a de motivação identificada com a de "entretenimento" puro e simples.
Eu sempre achei que mal do aluno que precisa que lhe expliquem tim-tim-por-tim-tim por que razão anda ali.
Mal do aluno que não percebe por que razão vai à escola.
E mal do professor que tem de explicar-lho dia após dia.
Quando dei aulas numa outra escola, todas as semanas recebia queixas sobre um colega de História que, dizia-me a delegada da turma [do 10º ano], "não motivava os alunos".
Eu já estava pelos cabelos com aquela conversa e, um dia, quando a moça me veio pela 'enésima' vez fazer queixinhas do colega, fingindo ostensivamente estar distraído, perguntei-lhe que fumo era aquele que se via à distância [de onde nós estávamos via-se a chaminé de uma fábrica vizinha que era o grande polo de fixação dos quadros formados na escola] pelo que, às tantas, com aquela petulância própria de uma certa juventude, a moça me chamou a atenção: "Oh! Professor! Eu estou aqui a falar-lhe de um assunto sério e o professor a perguntar-me pelo fumo! Com franqueza!..."
Era o que eu queria ouvir.
A partir dali ferrei-lhe uma descasca que ela nunca mais me veio chatear com aquilo.
Disse-lhe: "Sabe! É que eu também lhe estou a falar de um assunto muito sério.
E até mais sério para si do que para mim.
É que a S. fala-me de motivação mas engana-se no sítio onde ela deve, no seu caso, estar.
No seu caso e no da turma é ALI naquele fumo que ela deve estar. No emprego que aquele fumo identifica, que ele referencia e sinaliza.
Emprego que só se consegue se vocês aqui tiverem sucesso.
Por isso, a medida da V. motivação está ali, no emprego, não aqui, na diversão ou não que as aulas proporcionam.
Daqui em diante, quando se sentirem desmotivados, olhem pela janela, pensem um bocadinho no que eu acabo de dizer e, se pensarem bem, vão ver que a motivação aparece logo!..."
Porque, de facto, quem reduz a motivação ao mero consumo de sensações de 'usar e deitar fora' [e o próprio sistema, na prática, é isso que faz, como nós bem sabemos!] está, como dizem os moços "a ver o filme todo ao contrário".
E o pior é que geralmente até está!
Mais: é encorajado a vê-lo assim, que ainda é mais grave!
A polítik é isso mesmo que quer: cidadãos assoberbados de trabalho, invadidos de burocracia,cansando-nos e levando-nos a ausência de massa crítica...ou lançados na precariedade e adormecidos com telelixo.
A crise principal é a crise política.
Carlos, não sei se sabias, mas o teu blogue tb está no meu Dossiê Educação.
Um forte abraço
Não sabia, João, mas agradeço, sensibilizado, a tua generosidade.
Infelizmente, tudo "isto", esta nossa "aventura virtual" diária, me parece uma espécie de longo monólogo partilhado por dois ou três Amigos... 'diferentes' [entre os quais tu próprio] do que o embrião do grande [e urgente!] debate colectivo sobre nós próprios como sociedade e como país que eu muito romanticamente sonhei que pudesse, um dia, ser...
No fundo, é possível---e legítimo---dizer que a utopia se mudou para aqui e que gente "vai lá dentro" sempre na fagueira esperança de que o inestimável e paciente labor de esclarecimento e a incansável intervenção cultural e cívica dos Joões Soares, das "Ezuis", das Avas e de mais umas quantas vozes que se obstinam em ir, apesar de tudo, clamando incansável e incessantemente no deserto, faça que um milagre possa, afinal, acontecer um dia destes, como pareceu, ainda não há muito, ir acontecer...
Um grande abraço para ti e... "força na Bio", ham?!
Afinal de contas, enquanto há Vida, há esperança, não é verdade?!...
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