Uma das razões pelas quais, muito mais do que perante um “fim” [que, aliás, o respectivo “descobridor” e proponente, ele mesmo, já renegou] nos achamos, como modelo civilizacional, perante uma “esquina” ou “um vértice” da História, prende-se com aquilo sobre que discorre, por exemplo [é um dos exemplos talvez mais recentes extraído do meu arquivo de recortes pessoal] um articulista chamado Pedro Pontes Falcão, que, na edição de do jornal “Público” fez inscrever um texto com o título “A rigidez mental na rigidez do mercado de trabalho” onde aborda a magna questão da “flexibilização” do mercado de trabalho.
Ora, eu, a quem a dita ideia de “flexibilizar” um mercado de trabalho hoje-por-hoje já indecorosamente frágil, desumanamente quebradiço e disfuncionalmente de todo efemerizado repugna de uma forma extrema e mesmo incondicional, tenho honestamente de reconhecer não ser possível deixar de dar razão a quem assim pensa na condição de me colocar na [para mim, disfuncional e civilizacionalmente retrógrada e aí é que reside a grande diferença!] idêntica perspectiva que consiste, em termos práticos, em conceber a História das sociedades humanas como um mero mecanismo de funcionamento autónomo [autónomo relativamente a considerações de ordem humanista] mas cuja dinâmica in/essencial básica obedeça, pelo contrário, a meros móbeis ou ditames [e a simples estímulos] de ordem desumanizadamente técnica e---chamemos-lhes assim, à falta de melhor designação: primariamente composicional].
Ou seja: se nos for filosófica, ética e, em geral, intelectualmente possível sem escândalo conceber um paradigma civilizacional em que uma monstruosa ideia de “felicidade composicional ou técnica” do modelo económico possa ser concebida como algo de não apenas alienadamente independente da felicidade humana individual e colectiva dos indivíduos que compõem a sociedade onde esse modelo vigore mas, mais ainda até que isso, operando na História e na Política como um verdadeiro pressuposto e uma condição sine qua non desta última, é, tenho de reconhecer, admissível que venhamos hoje, dois ou três séculos após a eclosão da chamada Revolução Industrial e das profundíssimas disfunções que socialmente ela começou por implicar, reclamar mais “flexibilidade” para um, repito, já mais do infixo e débil, inquietantemente “enfermiço”, mercado de trabalho.
Só, todavia, uma visão profundamente distópica e filosoficamente neutral [neutralizada] da História pode admitir nas sua considerações sobre o mundo e sobre a Politica em particular essa figura teórica inexplicavelmente aberrante, dificilmente compreensível no contexto daquela que se pretende uma “sociedade do conhecimento” ou “gnoseotópica” [a “gnoseotopia” perfeita] que consiste em impor às leis da natureza leis que são de índole exclusiva e, neste caso, absurdamente humana.
‘Humana’ no pior sentido da palavra, porém.
Ninguém negará, com efeito, a [em meu entender, apenas?] evidência que consiste em considerar que alimentar-se regularmente ou abrigar-se do frio e proteger-se do calor são imperativos indissociáveis da própria condição biológica dos indivíduos que não podem, em última instância, “negociar-se” [sem profundo retrocesso civilizacional, em todo o caso e mesmo assim, apenas dentro de níveis material e objectivamente toleráveis].
São, dito de outro modo, funções biológicas essenciais que não podem suspender-se arbitrariamente por projecto ou estratégia politica porque se reportam a leis naturais perfeitamente reconhecíveis e inegáveis [e, por isso, objectualmente inegociáveis no contexto de modelos de civilizacionalidade minimamente modernos e humanistas] e a eles se juntam, num outro plano a que deveríamos chamar “civilizacional”, o valorizar-se intelectualmente adquirindo conhecimentos ou integrando entre os “bens” essenciais todo um conjunto de práticas de ordem metabiológica e cultural que consagram o reconhecimento e manutenção dos indivíduos acima do limiar do estrito e estreito primarismo biológico ‘puro’ que consiste em comer, beber, dormir, cobrir-se do frio, proteger-se do calor e/ou reproduzir-se.
Ora, aquilo que fazem os propugnadores do modelo de civilizacionalidade que consiste em fazer decorrer a admissível felicidade dos indivíduos e das sociedades humanas em geral de uma felicidade técnica da infra-estrutura económica ou económico-financeira dessas mesmas sociedades [a base conceptual ou conceptuante da “economocracia” liberal contemporânea] é, num plano teorético informante do modelo ou modelos políticos concretos em geral propostos subsumir o funcionamento pontual dos organismos biológicos ao das máquinas propondo, de forma obviamente disfuncional à ecologia do próprio sistema ou modo de produção que se conforme com “leis” que são da sua exclusiva lavra e que permitem, afinal, pôr em evidência, em toda a sua verdadeira extensão, a natureza estruturalmente disfuncional e absurdamente inversional [uma economia com um “revestimento politiforme”, infixo e meramente instrumental a… “tiracolo”…] do modelo economocrático proposto [imposto].
Ou seja: quando se diz [como faz o articulista que comecei por referir] que só a “rigidez mental” dos indivíduos impede que o mercado de trabalho” idealmente” se… “flexibilize” aquilo que, em termos práticos e reais, se está a dizer é que só por “rigidez mental” os indivíduos comem, só por “rigidez mental” persistem em se vestir e só por “rigidez mental” alguns deles, pelo menos, se obstinam em permanecer acima do nível dos primatas que os antecedem na escala evolutiva…
É claro que, para quem está do lado do absurdo paradigma de “desenvolvimento” que consiste em conceber este como uma categoria a priori da economia ou um “imperativo categórico de “historicidade” este absurdo teórico e epistemológico não apenas faz sentido como representa o sentido mesmo da História.
Mas só para esses, de facto.
E é exactamente por isso que eu penso nos encontramos, como comecei por dizer, perante uma “esquina”, “ângulo” ou “vértice” e não realmente um fim da História: porque obstinando-se alguns em fantasiar o futuro desta como uma simples e cega intensificação do próprio paradigma inversional e politicocêntrico ‘puro’ já hoje em vigor que consiste em pôr uns quantos iluminados “de carreira”a ditar arbitrariamente ordens à própria ordem natural da realidade, parece evidente e previsível que daí só pode resultar uma de duas coisas, sendo que a opção é [ainda] nossa, de todos nós que habitamos [de uma forma preocupantemente conformada e passiva, é preciso dizer!] os sistemas políticos e os modelos civilizacionais que eles suportam e substanciam: ou o afastamento político dos agentes sistémicos que, de dentro do sistema, se obstinam em propor o que, de mais de uma maneira configura a “extinção artificial da realidade” ou esta se revolta, previsivelmente se indigna toma ela própria a incitativa de se extinguir mais ou menos… naturalmente.
Ora, eu, a quem a dita ideia de “flexibilizar” um mercado de trabalho hoje-por-hoje já indecorosamente frágil, desumanamente quebradiço e disfuncionalmente de todo efemerizado repugna de uma forma extrema e mesmo incondicional, tenho honestamente de reconhecer não ser possível deixar de dar razão a quem assim pensa na condição de me colocar na [para mim, disfuncional e civilizacionalmente retrógrada e aí é que reside a grande diferença!] idêntica perspectiva que consiste, em termos práticos, em conceber a História das sociedades humanas como um mero mecanismo de funcionamento autónomo [autónomo relativamente a considerações de ordem humanista] mas cuja dinâmica in/essencial básica obedeça, pelo contrário, a meros móbeis ou ditames [e a simples estímulos] de ordem desumanizadamente técnica e---chamemos-lhes assim, à falta de melhor designação: primariamente composicional].
Ou seja: se nos for filosófica, ética e, em geral, intelectualmente possível sem escândalo conceber um paradigma civilizacional em que uma monstruosa ideia de “felicidade composicional ou técnica” do modelo económico possa ser concebida como algo de não apenas alienadamente independente da felicidade humana individual e colectiva dos indivíduos que compõem a sociedade onde esse modelo vigore mas, mais ainda até que isso, operando na História e na Política como um verdadeiro pressuposto e uma condição sine qua non desta última, é, tenho de reconhecer, admissível que venhamos hoje, dois ou três séculos após a eclosão da chamada Revolução Industrial e das profundíssimas disfunções que socialmente ela começou por implicar, reclamar mais “flexibilidade” para um, repito, já mais do infixo e débil, inquietantemente “enfermiço”, mercado de trabalho.
Só, todavia, uma visão profundamente distópica e filosoficamente neutral [neutralizada] da História pode admitir nas sua considerações sobre o mundo e sobre a Politica em particular essa figura teórica inexplicavelmente aberrante, dificilmente compreensível no contexto daquela que se pretende uma “sociedade do conhecimento” ou “gnoseotópica” [a “gnoseotopia” perfeita] que consiste em impor às leis da natureza leis que são de índole exclusiva e, neste caso, absurdamente humana.
‘Humana’ no pior sentido da palavra, porém.
Ninguém negará, com efeito, a [em meu entender, apenas?] evidência que consiste em considerar que alimentar-se regularmente ou abrigar-se do frio e proteger-se do calor são imperativos indissociáveis da própria condição biológica dos indivíduos que não podem, em última instância, “negociar-se” [sem profundo retrocesso civilizacional, em todo o caso e mesmo assim, apenas dentro de níveis material e objectivamente toleráveis].
São, dito de outro modo, funções biológicas essenciais que não podem suspender-se arbitrariamente por projecto ou estratégia politica porque se reportam a leis naturais perfeitamente reconhecíveis e inegáveis [e, por isso, objectualmente inegociáveis no contexto de modelos de civilizacionalidade minimamente modernos e humanistas] e a eles se juntam, num outro plano a que deveríamos chamar “civilizacional”, o valorizar-se intelectualmente adquirindo conhecimentos ou integrando entre os “bens” essenciais todo um conjunto de práticas de ordem metabiológica e cultural que consagram o reconhecimento e manutenção dos indivíduos acima do limiar do estrito e estreito primarismo biológico ‘puro’ que consiste em comer, beber, dormir, cobrir-se do frio, proteger-se do calor e/ou reproduzir-se.
Ora, aquilo que fazem os propugnadores do modelo de civilizacionalidade que consiste em fazer decorrer a admissível felicidade dos indivíduos e das sociedades humanas em geral de uma felicidade técnica da infra-estrutura económica ou económico-financeira dessas mesmas sociedades [a base conceptual ou conceptuante da “economocracia” liberal contemporânea] é, num plano teorético informante do modelo ou modelos políticos concretos em geral propostos subsumir o funcionamento pontual dos organismos biológicos ao das máquinas propondo, de forma obviamente disfuncional à ecologia do próprio sistema ou modo de produção que se conforme com “leis” que são da sua exclusiva lavra e que permitem, afinal, pôr em evidência, em toda a sua verdadeira extensão, a natureza estruturalmente disfuncional e absurdamente inversional [uma economia com um “revestimento politiforme”, infixo e meramente instrumental a… “tiracolo”…] do modelo economocrático proposto [imposto].
Ou seja: quando se diz [como faz o articulista que comecei por referir] que só a “rigidez mental” dos indivíduos impede que o mercado de trabalho” idealmente” se… “flexibilize” aquilo que, em termos práticos e reais, se está a dizer é que só por “rigidez mental” os indivíduos comem, só por “rigidez mental” persistem em se vestir e só por “rigidez mental” alguns deles, pelo menos, se obstinam em permanecer acima do nível dos primatas que os antecedem na escala evolutiva…
É claro que, para quem está do lado do absurdo paradigma de “desenvolvimento” que consiste em conceber este como uma categoria a priori da economia ou um “imperativo categórico de “historicidade” este absurdo teórico e epistemológico não apenas faz sentido como representa o sentido mesmo da História.
Mas só para esses, de facto.
E é exactamente por isso que eu penso nos encontramos, como comecei por dizer, perante uma “esquina”, “ângulo” ou “vértice” e não realmente um fim da História: porque obstinando-se alguns em fantasiar o futuro desta como uma simples e cega intensificação do próprio paradigma inversional e politicocêntrico ‘puro’ já hoje em vigor que consiste em pôr uns quantos iluminados “de carreira”a ditar arbitrariamente ordens à própria ordem natural da realidade, parece evidente e previsível que daí só pode resultar uma de duas coisas, sendo que a opção é [ainda] nossa, de todos nós que habitamos [de uma forma preocupantemente conformada e passiva, é preciso dizer!] os sistemas políticos e os modelos civilizacionais que eles suportam e substanciam: ou o afastamento político dos agentes sistémicos que, de dentro do sistema, se obstinam em propor o que, de mais de uma maneira configura a “extinção artificial da realidade” ou esta se revolta, previsivelmente se indigna toma ela própria a incitativa de se extinguir mais ou menos… naturalmente.
[Imagem extraída com a devida vénia de unicam-dot-br]
Sem comentários:
Enviar um comentário