domingo, 3 de outubro de 2010

"Brincar O Fogo Tem Custos ou Arlequim, Arlequim aos Molhos..."


Tomo pelo "D.N." de 01.10.10 e em plena tempestade motivada entre nós pelo anúncio das pesadissímas medidas governamentais tomadas [como sempre, "para conter" um défice que a mim pessoalmente se me afigura, cada vez mais, incontível mas enfim!] a meias pelo eixo Bruxelas-Berlim-Estrasburgo [vulgo, União Europeia] e os seus "afranchisados" locais [vulgo, governo português]; tomo, então, dizia, conhecimento pela leitura dos jornais diários de detalhes sobre o que parece ter sido um golpe de estado ocorrido recentemente no Equador, resultante de reivindicações salariais, no caso vertente, por parte dos polícias e de alguns militares daquele país.

Ao que parece [di-lo o jornal pela pena de Susana Salvador, num artigo intitulado "Correa agredido e cercado numa tentativa de golpe de Estado no Equador"] o presidente daquele pequeno país centro-americano [eu acho que é pequeno: se não for no tamanho físico, é-o seguramente pela inteligência do respectivo chefe de estado...] assediado por polícias amotinados, indignados com cortes salariais que consideraram intoleráveis, não achou nada melhor para responder a essa indignação do que "dar uma de caudilho de opereta" e, assim [passo a citar:] foi ter com os manifestantes, "tirou a gravata e abriu a camisa para mostrar que não levava colete à prova de balas e gritou aos cerca de 800 agentes a partir de uma janela: "Senhores, se querem matar o presidente, aqui está. Matem-me se lhes apetece." E recusou ceder: "Se querem destruir a pátria, destruam-na, mas este presidente não dá nem um passo atrás."

Ora, sucede que [para mal dos pecados do... falstaffiano presidente do Equador] aparentemente vontade disso, de chegar a roupa ao [atrevido!] pelo do respectivo presidente, era exactamente o que não faltava aos polícias equatorianos de entre os quais, mal este virou costas ["quando deixava o local", escreve a jornalista] se destacou um que... quase lhe fez a vontade e lhe atirou uma granada de gás lacrimogéneo que, diz ainda o jornal, "o levou ao hospital" onde permaneceria umas horas ainda cercado pelos amotinados.

Há, desde logo, a meu ver, seguramente algo que a todos nós interessará para dizer, especialmente em "tempos de cólera" económica e social como aqueles que, deste lado do Atlântico, vivemos nós próprios, sobre a rábula do tal sr. Correa; sobre o expediente espalhafatoso e perigosamente fanfarrão [roçando, aliás, a provocação pura e simples], o rocambolesco procedimento do tal Correa e a sua ideia de como se lida com as crises económicas e sociais---que é como quem diz: com o desespero das pessoas continuamente esmagadas, lá como cá, pelos vistos, sob o peso de políticas e políticos ineptos e [não sei se era o caso mas todos conhecemos exemplos bem claros e até bem próximos...] mal-disfarçadamente desonestos e mesmo francamente corruptos.

A primeira dessas coisas é que não se pode esticar indefinidamente a corda baixando salários, desarticulando economias inteiras, criando crise social atrás de crise social, papagueando tolices sobre tolices e inventando todos os dias um disparate novo como único recurso para fazer face a situações que apenas a irresponsabilidade crónica pode explicar e sendo sistematicamente "apanhado na curva" pelos efeitos da própria incompetência e incapacidade para governar em nome do interesse público e defendê-lo de forma minimamente idónea, capaz e digna.

Isto é, colocando sempre [como dizia "o outro"] o "ânus" das "políticas" compostas de sucessivos remendos cada vez mais nervosamente avulsos, desconchavadamente aplicados, ao sabor das circunstâncias e por pura ou impura pressão dos acontecimentos, numa realidade da qual se está por sistema fora e que manifestamente não se nasceu para entender como funciona e onde conduz.

Este, o ponto um.

O ponto dois já todos perceberam qual é: é obviamente que não é com fantochadas, bravatas e arlequinadas baratas [a cretinice é atrevida, eu sei, mas tudo tem limites] pessoais ou políticas, gestos farfalhudos de bufão ou pantalão sem ideias e sem soluções para os problemas que estes se resolvem...

O sr. Correa aprendeu-o à sua custa: é caso para dizer, agora, pensando nos muitos Correas, heróis de "pacotilha argumentativa e... exegética" que por aí pululam ainda obscenamente à solta e impunes, saltitando, contentinhos da vida, à nossa [escandalizada...] volta: "Este já está! Podem mandar entrar o próximo!..."


[Na imagem: fotograma de "El Siete Machos"/"O Mata-Sete" filme mexicano de Miguel M. Delgado, realizado em 1950 com Mário Moreno, Cantinflas]

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