Ainda sobre aquela importantíssima questão por mim, aqui, por mais de uma vez levantada do carácter possivelmente "científico" da Economia no contexto de um quadro tipológico que permita "arrumar" pela sua natureza própria enquanto modo estável, hipoteticamente fiável, de abordar mas, sobretudo, de usar, de uma forma tão exacta e tão adequada quanto possível, a realidade, acrescento hoje algumas especificações que me parecem particularmente relevantes.
Eu sempre defendi que, no actual momento civilizacional que vivemos, marcado pelo triunfo histórico do capitalismo genérica [e funcionalmente!] "social", todas as modalidades da nossa existência colectiva, histórica e política, surgem na realidade, no real, na História em concreto, de facto, completamente "ao contrário", i.e. pela ordem errada, deformando fatalmente todo o funcionamento daquela mesma História, no plano individual, como no colectivo das sociedades que constituimos.
Surgem-no sempre inevitavelmente, é muito importante que o percebamos.
Isto é, surgem nesse estado dispolar como efeito necessário do próprio modo como as componentes ou módulos da vida social se dispõem---se organizam e se estruturam mas também como se disponibilizam sistemicamente---no real para funcionar, com a economia, o paradigma económico, a fixar a História a si mesma e o conjunto das ciências usadas para utilizar a realidade a aceitarem inscrever no respectivo código genético, digamos assim, a informação de que devem, em todos os casos, "en fin de partie"... colaborar.
Colaborar explicando entre si e explicando à comunidade humana no seu todo as exactas razões, supostamente "universais" [lá está: "científicas"...] pelas quais a História "com tudo dentro dela", com tudo quanto ela contém, não deve, em caso algum, mudar de conteúdo, podendo exclusivamente alterar a respectiva forma.
De facto, o que define todo o paradigma a manter; o que permite identificar e descrever o funcionamento normal e regular de todo o modelo que as diversas ciências ou saberes estão obrigadas a manter e a argumentar e justificar é a sua natureza disfuncionalmente inversional, i.e. o facto de, neste modelo... ptolomaico de des/estruturar a História e a sociedade ou sociedades, a economia se situar sempre estavelmente no centro de todas as dinâmicas [de facto: de todas as dinâmicas e adinâmicas!] históricas e sociais, servindo, como digo, a "política" de expressão justificativa da suposta necessidade de tudo, assim, exactamente conservar.
Ora, sucede que de facto, esse "revestimento politiforme funcional" não é a única coisa que é artificialmente utilizada para fixar o real à História: as ciência, volto a dizer, acham-se politicamente obrigadas a colaborar.
O papel especificamente da Economia, neste quadro, é o de operar, mas somente de algum modo in/essencialmente descritivo e limitadamente interpretativo, como a Filosofia operou nos anteriores modelos que não estavam ainda obrigados... "por lei" [por 'leis' próprias, em todo o caso...] a justificar sempre a posteriori os quadros epistemeoformes ligados ao funcionamento do real que iam sendo formados e transformados em "cultura",
É por isso que eu entendo que uma nova tipologia dos saberes; qualquer nova tipologia, devidamente actualizada, dos saberes, ao lado da tipificação tradicional envolvendo "ciências excatas" e "humanas", deve constar uma espécie de aviso prévio explicando que, de facto, todos estes saberes constituem simplesmente "cienciações" funcionais [e funcionalizantes] de um modelo político in/essencialmente político que as significa à partida.
Isso é muito claro no caso da Economia que opera hoje como um tipo de "significador descritivo" nuclear de todas as ciências.
Basta olhar para o modo como os países concebem a sua Educação---ainda quando a não praticam, como é o caso do nosso...
Neste âmbito, todas as ciências "que importam" são funcionais.
Porque obedecem à economia, respondem perante ela: "despacham", como se diz em linguagem burocrática, com ela.
Mas não se trata de uma Economia qualquer: é apenas este modelo económico inversional de que atrás volto a falar que está em causa sempre que se trate de "significar" o quadro das ciências, a sua "ciencialidade funcional".
Melhor: que não está em causa.
É aqui que surge a minha ideia de que estamos, quando falamos de "Economia" [e até especificadamente de "economia"] hoje, perante um verdadeiro "saber funcional", de facto, repito, um "significador autónomo de ciencialidade" e/ou/porque, sobretudo, de um simples "manual de instruções" ou "mode d' emploi" da História [e, de um modo mais lato, da realidade teórica, abstracta, no seu todo] assim des/concebidas e assim previamente de/formadas.
Obrigar a "Economia" a justificar a posteriori a História; obrigá-la a tornar uma certa História possível, comprometendo-a com os seus modos próprios de operar não permitindo que ela se liberte e produza espontaneamente as suas próprias imagens e representações naturais, ecológicas ou ecomórficas, do real é o novo papel das ciências qual seja, como comecei por sugerir, o de fornecer uma explicação teorética para o projecto, de um modo ou de outro, civilizacional de "prender a História a si mesma", obrigando-a justificar por que... "científicos", supostamente exactos, pressupostos e motivos não muda.
De facto, o que Fukuyama fez foi apenas "falar demais": exprimir ["to voice"] aquilo que todo o sistema faz a um nível muito profundo e determinante, sem todavia querer que se saiba "cá fora": que a História, para ele... "acabou" e que devemos como modelo civilizacional continuar a eleger sociedades "para a economia" e não, como seria natural e ecologicamente são a definir, de forma autónoma, modelos variáveis de economicidade para se adaptarem às necessidades circunstanciais das sociedades.
É por isso, para concluir, que eu defendo que devíamos hoje consagrar nas nossas reflexões e quadros teóricos envolvendo o mundo em que vivemos [em que temos de viver] os conceitos de "economocracia", de "inversionalidade disfuncionante assistémica", de "saberes funcionais" assim como, falando especificamente de economia de "economia descritiva ou defensiva" para distingui-la da Economia tout court.
Eu sempre defendi que, no actual momento civilizacional que vivemos, marcado pelo triunfo histórico do capitalismo genérica [e funcionalmente!] "social", todas as modalidades da nossa existência colectiva, histórica e política, surgem na realidade, no real, na História em concreto, de facto, completamente "ao contrário", i.e. pela ordem errada, deformando fatalmente todo o funcionamento daquela mesma História, no plano individual, como no colectivo das sociedades que constituimos.
Surgem-no sempre inevitavelmente, é muito importante que o percebamos.
Isto é, surgem nesse estado dispolar como efeito necessário do próprio modo como as componentes ou módulos da vida social se dispõem---se organizam e se estruturam mas também como se disponibilizam sistemicamente---no real para funcionar, com a economia, o paradigma económico, a fixar a História a si mesma e o conjunto das ciências usadas para utilizar a realidade a aceitarem inscrever no respectivo código genético, digamos assim, a informação de que devem, em todos os casos, "en fin de partie"... colaborar.
Colaborar explicando entre si e explicando à comunidade humana no seu todo as exactas razões, supostamente "universais" [lá está: "científicas"...] pelas quais a História "com tudo dentro dela", com tudo quanto ela contém, não deve, em caso algum, mudar de conteúdo, podendo exclusivamente alterar a respectiva forma.
De facto, o que define todo o paradigma a manter; o que permite identificar e descrever o funcionamento normal e regular de todo o modelo que as diversas ciências ou saberes estão obrigadas a manter e a argumentar e justificar é a sua natureza disfuncionalmente inversional, i.e. o facto de, neste modelo... ptolomaico de des/estruturar a História e a sociedade ou sociedades, a economia se situar sempre estavelmente no centro de todas as dinâmicas [de facto: de todas as dinâmicas e adinâmicas!] históricas e sociais, servindo, como digo, a "política" de expressão justificativa da suposta necessidade de tudo, assim, exactamente conservar.
Ora, sucede que de facto, esse "revestimento politiforme funcional" não é a única coisa que é artificialmente utilizada para fixar o real à História: as ciência, volto a dizer, acham-se politicamente obrigadas a colaborar.
O papel especificamente da Economia, neste quadro, é o de operar, mas somente de algum modo in/essencialmente descritivo e limitadamente interpretativo, como a Filosofia operou nos anteriores modelos que não estavam ainda obrigados... "por lei" [por 'leis' próprias, em todo o caso...] a justificar sempre a posteriori os quadros epistemeoformes ligados ao funcionamento do real que iam sendo formados e transformados em "cultura",
É por isso que eu entendo que uma nova tipologia dos saberes; qualquer nova tipologia, devidamente actualizada, dos saberes, ao lado da tipificação tradicional envolvendo "ciências excatas" e "humanas", deve constar uma espécie de aviso prévio explicando que, de facto, todos estes saberes constituem simplesmente "cienciações" funcionais [e funcionalizantes] de um modelo político in/essencialmente político que as significa à partida.
Isso é muito claro no caso da Economia que opera hoje como um tipo de "significador descritivo" nuclear de todas as ciências.
Basta olhar para o modo como os países concebem a sua Educação---ainda quando a não praticam, como é o caso do nosso...
Neste âmbito, todas as ciências "que importam" são funcionais.
Porque obedecem à economia, respondem perante ela: "despacham", como se diz em linguagem burocrática, com ela.
Mas não se trata de uma Economia qualquer: é apenas este modelo económico inversional de que atrás volto a falar que está em causa sempre que se trate de "significar" o quadro das ciências, a sua "ciencialidade funcional".
Melhor: que não está em causa.
É aqui que surge a minha ideia de que estamos, quando falamos de "Economia" [e até especificadamente de "economia"] hoje, perante um verdadeiro "saber funcional", de facto, repito, um "significador autónomo de ciencialidade" e/ou/porque, sobretudo, de um simples "manual de instruções" ou "mode d' emploi" da História [e, de um modo mais lato, da realidade teórica, abstracta, no seu todo] assim des/concebidas e assim previamente de/formadas.
Obrigar a "Economia" a justificar a posteriori a História; obrigá-la a tornar uma certa História possível, comprometendo-a com os seus modos próprios de operar não permitindo que ela se liberte e produza espontaneamente as suas próprias imagens e representações naturais, ecológicas ou ecomórficas, do real é o novo papel das ciências qual seja, como comecei por sugerir, o de fornecer uma explicação teorética para o projecto, de um modo ou de outro, civilizacional de "prender a História a si mesma", obrigando-a justificar por que... "científicos", supostamente exactos, pressupostos e motivos não muda.
De facto, o que Fukuyama fez foi apenas "falar demais": exprimir ["to voice"] aquilo que todo o sistema faz a um nível muito profundo e determinante, sem todavia querer que se saiba "cá fora": que a História, para ele... "acabou" e que devemos como modelo civilizacional continuar a eleger sociedades "para a economia" e não, como seria natural e ecologicamente são a definir, de forma autónoma, modelos variáveis de economicidade para se adaptarem às necessidades circunstanciais das sociedades.
É por isso, para concluir, que eu defendo que devíamos hoje consagrar nas nossas reflexões e quadros teóricos envolvendo o mundo em que vivemos [em que temos de viver] os conceitos de "economocracia", de "inversionalidade disfuncionante assistémica", de "saberes funcionais" assim como, falando especificamente de economia de "economia descritiva ou defensiva" para distingui-la da Economia tout court.
[Na imagem: "Angelus", colagem sobre papel impresso de Carlos Machado Acabado]
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