Um texto muito interessante [sobretudo pelas possibilidades de análise e reflexão que oferece] é o de José Vítor Malheiros, intitulado "A angústia do jornalista perante a Internet", dado à estampa no "Público" de 26.01.10.
Sobre a tal "angústia" do título julgo poder concluir que incide sobre uma certa "prise du pouvoir" [e não utilizo gratuitramente a expressão, note-se!] informativo ou talvez mais exactamente "informacional" pelo... "povo" facilitada ou mesmo induzida pelo aparecimento da Internet e prenunciadora de uma certa previsível morte do mediador cognitivo qwue era o "velho" jornal
Angústia é, também, a dúvida deste sobre "o que fazer" [outra expressão nada gratuita, no contexto e com a intenção com que a utilizo aqui...] relativamente à previsibilidade dessa "morte": como reconverter-se a fim de acompanhar essa circunstância em que a realidade se deforma drástica e sobretudo significadamente e modos completamente novos de lidar com ela se tornam, por isso, imperativos.
Ora, a verdade é que, sem ser de uma perspectiva imediatamente profissional e até corporativa, digamos assim, o que José Vítor Malheiros diz---o conteúdo do seu depoimento, a essência do seu testemunho---ao contrário de angústia parece poder sobretudo despertar esperança e optimismo.
Porque é, aparentemente, de uma "prise du pouvoir" directa que o artigo fala.
Desde há muito que um dos males básicos, primários, das sociedades ditas "de consumo" [a que, eu próprio, por razões que detalho noutros lugares, prefiro designar por expressões como "de endocolonialismo secundário" consiste, precisamente, no modo como as sociedades humanas aceitaram prescindir [negociar conm as formas do respectivo poder económico e político] as modalidades de acesso cognitivo à realidade e, com elas, a possibilidade efectiva de a transformarem, como preconizava Marx.
Há muito que, pondo a questão de outro modo, as sociedades "endocoliniais sdecundárias" tinham aceitado negociar com o poder ou poderes políticos que aceitam e reconhecem a propriedade dos meios de produção de representações estáveis da realidade---a propriedade do próprio Conhecimento e com esta a do Conhecer.
É neste sentido que se pode dizer que a expressão política institucional adequada deste modo de aceder ao real, a chamada democracia representativa, configura, wem si mersma, tal como se apresenta hoje, primariamente um meio de ancorar [para não dizer: acorrentar...] a História a si própria impedindo-a de se deslocar e, por conseguinte, de ser verdadeiramente uma História.
Assim sendo, pareceria mais ou menos claro que um "medium" que elidisse um dos diversos "intermediátrios" ou "revendedores de realidade" dos muitos que o endocolonialismo comporta e de que ele é feito, mais do que qualquer 'angústia'; em vez de angústia, devesse gerar, como atrás digo, optimismop e expectativas risonhas de "libertação da sociedade" de uma das peias institucionais que sobre ela actuam, hoje.
Ora, eu creio, sinceramente, que pensar assim seria aceitar protagionizar um novo equívoco semelhante àquele que consiste em pensar que há democracia numa sociedade [como a portuguesa de hoje, por exemplo] pelo simples facto de nela existirem eleições e um parlamento.
Eleições e um parlamento [como a Internet] constituem "alfaias ou instrumentos de democraticidade", não a própria democraticidade.
Existir uma Internet que compete com as formas tradicionais de "mediaticidade" não significa, só por si, que aquela que é a grande característica [e o principal problema!] das societações pós-modernas---a inorganicidade---seja automaticamente resolvido.
As "societações" de hoje são societações in/essencialmente inorgânicas: tornaram-se inorgânicas quando aceitaram negociar com o poder, consigo mesmas e com a própria História também o conceito de 'Estado consciência' que constituía o suporte e o específico filosófico mesmos da ideia civilizacional de Estado-nação.
Hoje, com efeito, as sociedasdes não apenas se tornaram estável e topicamente incapazes de auto-representar-se reconhecivelmente num Estado [numa... "estaticidade"] que seja o depositário ou a depositária de um conjunto de valores nos quais a comunidade se reveja como, sobretudo, assentaram ou deixaram que passsasse a assentar nessa recusa todo um modelo dito "civilizacional" onde ela passou absurda e disfuncional---suicidariamente, diria eu...---a "valor".
Eu tenho, devo dizer, da "natureza da realidade", em termos filosóficos genéricos, amplos mas também, simultaneamente específicos [não há qualquer contradição ou paradoxo nesta formulação, juro!...]; eu tenho, dizia, dessa possível e filosófica "natureza do real" a ideia de que a sua "explicação" e o fundamento de tudo quanto existe se acha na dissipação de que ele é concretação e o próprio curso.
Tudo no real se explica pelo modo como se acha materialmente forçado a dissipar-se e a des-integrar-se continuamente.
As sociedades pós-modernas e a "Pós-modernidade" em geral mais não são do que expressões organizacionais da dissipação.
O grande problema é que as sociedades de hoje deixaram de ser capazes de transformar a percepção da natureza instável e naturalmente in-fixa da realidade enquanto idea, enquanto imagem filosófica e crítica ou "criticional" de si, num modo de lidar com a própria des-integração, de transformá-la em Conhecimwento e reinvesti-la pontualmente nos paradigmas estáveis e tópicos de vivê-la.
Angústia?
Sim mas dessa natureza [ou desse "estádio"] inorgânico do pensamento a que teremos chegado como "civilização" e que não nos dá grandes esperanças de durabilidade, isto é, de futuro para a própria História...
Sobre a tal "angústia" do título julgo poder concluir que incide sobre uma certa "prise du pouvoir" [e não utilizo gratuitramente a expressão, note-se!] informativo ou talvez mais exactamente "informacional" pelo... "povo" facilitada ou mesmo induzida pelo aparecimento da Internet e prenunciadora de uma certa previsível morte do mediador cognitivo qwue era o "velho" jornal
Angústia é, também, a dúvida deste sobre "o que fazer" [outra expressão nada gratuita, no contexto e com a intenção com que a utilizo aqui...] relativamente à previsibilidade dessa "morte": como reconverter-se a fim de acompanhar essa circunstância em que a realidade se deforma drástica e sobretudo significadamente e modos completamente novos de lidar com ela se tornam, por isso, imperativos.
Ora, a verdade é que, sem ser de uma perspectiva imediatamente profissional e até corporativa, digamos assim, o que José Vítor Malheiros diz---o conteúdo do seu depoimento, a essência do seu testemunho---ao contrário de angústia parece poder sobretudo despertar esperança e optimismo.
Porque é, aparentemente, de uma "prise du pouvoir" directa que o artigo fala.
Desde há muito que um dos males básicos, primários, das sociedades ditas "de consumo" [a que, eu próprio, por razões que detalho noutros lugares, prefiro designar por expressões como "de endocolonialismo secundário" consiste, precisamente, no modo como as sociedades humanas aceitaram prescindir [negociar conm as formas do respectivo poder económico e político] as modalidades de acesso cognitivo à realidade e, com elas, a possibilidade efectiva de a transformarem, como preconizava Marx.
Há muito que, pondo a questão de outro modo, as sociedades "endocoliniais sdecundárias" tinham aceitado negociar com o poder ou poderes políticos que aceitam e reconhecem a propriedade dos meios de produção de representações estáveis da realidade---a propriedade do próprio Conhecimento e com esta a do Conhecer.
É neste sentido que se pode dizer que a expressão política institucional adequada deste modo de aceder ao real, a chamada democracia representativa, configura, wem si mersma, tal como se apresenta hoje, primariamente um meio de ancorar [para não dizer: acorrentar...] a História a si própria impedindo-a de se deslocar e, por conseguinte, de ser verdadeiramente uma História.
Assim sendo, pareceria mais ou menos claro que um "medium" que elidisse um dos diversos "intermediátrios" ou "revendedores de realidade" dos muitos que o endocolonialismo comporta e de que ele é feito, mais do que qualquer 'angústia'; em vez de angústia, devesse gerar, como atrás digo, optimismop e expectativas risonhas de "libertação da sociedade" de uma das peias institucionais que sobre ela actuam, hoje.
Ora, eu creio, sinceramente, que pensar assim seria aceitar protagionizar um novo equívoco semelhante àquele que consiste em pensar que há democracia numa sociedade [como a portuguesa de hoje, por exemplo] pelo simples facto de nela existirem eleições e um parlamento.
Eleições e um parlamento [como a Internet] constituem "alfaias ou instrumentos de democraticidade", não a própria democraticidade.
Existir uma Internet que compete com as formas tradicionais de "mediaticidade" não significa, só por si, que aquela que é a grande característica [e o principal problema!] das societações pós-modernas---a inorganicidade---seja automaticamente resolvido.
As "societações" de hoje são societações in/essencialmente inorgânicas: tornaram-se inorgânicas quando aceitaram negociar com o poder, consigo mesmas e com a própria História também o conceito de 'Estado consciência' que constituía o suporte e o específico filosófico mesmos da ideia civilizacional de Estado-nação.
Hoje, com efeito, as sociedasdes não apenas se tornaram estável e topicamente incapazes de auto-representar-se reconhecivelmente num Estado [numa... "estaticidade"] que seja o depositário ou a depositária de um conjunto de valores nos quais a comunidade se reveja como, sobretudo, assentaram ou deixaram que passsasse a assentar nessa recusa todo um modelo dito "civilizacional" onde ela passou absurda e disfuncional---suicidariamente, diria eu...---a "valor".
Eu tenho, devo dizer, da "natureza da realidade", em termos filosóficos genéricos, amplos mas também, simultaneamente específicos [não há qualquer contradição ou paradoxo nesta formulação, juro!...]; eu tenho, dizia, dessa possível e filosófica "natureza do real" a ideia de que a sua "explicação" e o fundamento de tudo quanto existe se acha na dissipação de que ele é concretação e o próprio curso.
Tudo no real se explica pelo modo como se acha materialmente forçado a dissipar-se e a des-integrar-se continuamente.
As sociedades pós-modernas e a "Pós-modernidade" em geral mais não são do que expressões organizacionais da dissipação.
O grande problema é que as sociedades de hoje deixaram de ser capazes de transformar a percepção da natureza instável e naturalmente in-fixa da realidade enquanto idea, enquanto imagem filosófica e crítica ou "criticional" de si, num modo de lidar com a própria des-integração, de transformá-la em Conhecimwento e reinvesti-la pontualmente nos paradigmas estáveis e tópicos de vivê-la.
Angústia?
Sim mas dessa natureza [ou desse "estádio"] inorgânico do pensamento a que teremos chegado como "civilização" e que não nos dá grandes esperanças de durabilidade, isto é, de futuro para a própria História...
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