Uma frase que não me sai da cabeça desde madrugada, vem do filme "Executive Action": "Gee! You've just told me whom we're gonna kill!"
Profere-a um assassino ["assassin"] profissional a quem, no filme de David Miller, é encomendada a tarefa de organizar o atentado mortal a Kennedy.
Profere-a um assassino ["assassin"] profissional a quem, no filme de David Miller, é encomendada a tarefa de organizar o atentado mortal a Kennedy.
O filme é interessantíssimo, devo dizer.
O argumento é de Dalton Trumbo, um dos proscritos de Hollywood, vítimas do tenebroso [mas não inédito nem de outro modo, excepcional na vida norte-americana, note-se!] período do maccarthyismo e lida de um modo invulgarmente sério e intencional com os "dessous" do[chamemos-lhe...] singularíssimo mundo da "política" norte-americana, sempre, de um modo ou de outro, a meio caminho entre a retórica eufónica mas balofa e o crime, puro e simples. [1]
Creio que ele me ocorre num sentido simbólico pessoal distintamente freudiano em "report" reconhecível a um fundo real que julgo saber qual seja e que não se me afigura, de resto, em última análise, muito difícil de idetificar.
De realizar sim mas isso...
Que é que é, afinal, fácil, na vida?...
De realizar sim mas isso...
Que é que é, afinal, fácil, na vida?...
Evoco aqui a frase---o conteudo latente da ideia---e a probabilidade muito forte de ele se reportar a esse outro conteúdo muito mais estável e profundo porque este tipo de circunstância imediatamente subconsciente atesta o modo como, no fundo, a identidade em abstracto se constrói e define em formas concretas de natureza histórica muito precisa.
No meu caso, é, designadamente, o Cinema que fornece ao substracto psíquico e identitário profundo grande parte das formas concretas pelas quais ele se expressa ou procura subtilmente expressar-se, como no caso em epígrafe.
Neste, com efeito, a ideia de "já descobri quem tenho de matar" [como referi o assassino do filme profere-a quando perante as quantias e o connunto de contrapartidas absolutamente exorbitantes que lhe são oferecidas deduz a identidade da sua própria prospectiva vítima, que até aí nunca lhe é expressamente identificada]; note-se, dizia, como esta frase contém claramente a ideia de uma súbita "revelação" ["realization"], a ideia de algo que se tornou bruscamente claro e até, num certo sentido possível, imperativo, envolvendo uma deliberação mais ou menos expressa ["I'm going to"] [2] induzindo, por seu turno, um estado de espírito de subtil alívio: "percebi!""Finalmente, vejo claro!"
Muito do que Freud afirmou [sobretudo a quase absoluta certeza com quem, por vezes o fez] podem ter de algum modo datado muitas das geniais intuições que produziu.
Não serei eu que não tenho formação académica na área das ciências da psique a pessoa naturalmente indicada para atestá-lo.
Creio, ainda assim, que o essencial de certos mecanismos formacionais senão mesmo "construcionais" associados à emergência de uma "Arquitectura" [e até de uma "engenharia"] específica[s] para o Eu permanecem, no todo, actuais e bastará, por vezes, uma atenta observação da nossa própria erxperiência mental tal como ela surge em casos muito concretos para documentá-lo.
NOTAS
[1] Ainda não há muito, a revista "Tabu" incluía uma reportagem... "domingueira" sobre a vida sexual deste mesmo Kennedy onde, citando Cormac O' Brien e "Secret Lives of U.S. Presidents" se falava na "partilha" de uma amante , Judith Campbell-Exner por Kennedy e... Sam Giancana, um "mobster" de origem italiana que, ainda segundo as mesmas fontes [e cito] "terá sido [ele a] conseguir os votos extra que JFK precisava para vencer no estado do Illinois...
[2] Em boa verdade, ignoro se é essa a formulçação exacta do diálogo de Trumbo.
É, em todo o caso, assim que ela me surge [de uma forma, aliás, quase obsessiva!] na consciência; que ela se me vem formando, há horas [não descarto a possibilidade de ela possuir mesmo origem onírica efectiva] instintivamente na boca.
Literalmente, na boca, quasse sem a mediação das formas de controlo e deliberação conscientes associadas à organização formal do discurso.
De notar, também que não a formulo exactamente para alguém fora de mim, exterior a mim, mas antes atribuindo-lhe [ou vendo-lhe atribuída...] aquela natureza final, terminal e quase... excrementícia que a Maria do Céu Guerra discordava mas que eu ciontinuo cada vez mais persuadido de que possuísse a linguagem em Beckett...
Boa parte dela, em todo o caso.
[Na imagem: fotograma do filme "Executive Action" de David Miller, expressamente citado na presente "entrada" do "Quisto"]
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