sábado, 10 de abril de 2010

"Subsídios para uma História Natural da Realidade: algumas reflexões pessoais" [Por rever]


Dizem-nos os fisiologistas, biólogos, médicos ou que quer que seja que não-sei-quantos por cento do nosso corpo é composto por água.

De fisiologia, biologia o que quer que seja pouco mais sei do que aquilo ou do que aquela que uso diariamente no gasto regular.

Mas em termos abstractos e recorrendo à equação fisiológica referida, eu diria que outros tantos por cento da consciência humana são compostos de infixidez---mutação secundária do movimento puramente expansional que está na origem última do que chamamos "realidade".

A minha tese nesse âmbito da génese e fundamento do real é muito clara e podetria ser expressa deste modo sucinto:

a) todo o real é movimento;

b) todo o real é movimento de e explica-se, no limite, pelo seu próprio centro;

c) o real é, por definição, original e, por conseguinte, naturalmente íntegro;

d) todo o real tende, por isso, de forma natural, a reintegrar-se continuamente a si mesmo à medida que se expande;

e) A "consciência" interrompe estrategicamente o real, desdobrando-o [de facto, des-integrando-o criticionalmente] em puras "imagens" teóricas de si;

f) a consciência é a forma "perfeita" de "anisotropia" presidindo ao "reagrupamento anisotrópico" da matéria que está na origem do "segundo real" ou "para-real consciencial" puro que nós próprios somos.

g) o real "está errado" a partir do momento em que "consciencia" ou, como costumo dizer, se "reagrupa ["reassembles itself"] secundariamente numa pura hipótese ou teoria sistémica de hipóteses puramente teóricas e abstracta de si;

h) devido à própria natureza expansional-funcionante do real, a "consciência" não configura, ao contrário daquilo que somos vulgarmente levados a admitir, um objecto contendo o seu próprio fundamento e explicação [o seu próprio "centro" estável e independente] mas uma pura técnica que do ponto de vista estruturacional se explica, ainda e sempre, em última instância, pelo movimento.

i) É, na realidade, apenas a "expressão funcionante" do movimento original.

O seu único limite teórico, a sua "circunferência possibilitacional", digamos assim, é a aptidão própria para mutar-se continuamente em "infixidez funcionante";

j) da natureza estrutural do real, deriva, de igual modo, a conclusão de que o "futuro", tal como vulgarmente o supomos, não existe: o único futuro da realidade situa-se no seu próprio passado.

k) quando digo, não existe, não me refiro ao facto de ele "ainda não ter acontecido": quero dizer algo incomparabvelmente mais profundo e relevante que é que a ideia de um futuro não é naturalmente representável ou naturalmente concebível, nem mesmo como atributo ínsito imediado por qualquer forma de "percepção" ou "reverticialização funcionante" de um tipo análogo, pela própria matéria, como tal.

De facto, a matéria explica-se sempre, em termos composicionais, pelo/a partir do seu próprio "passado" e pelo modo como este é continuamente reintegrado em si pelo impacto da hipótese funcionante-"presente", i.e. pela possibilidade puramente teórica da existência e mesmo da "presença" de um "presente".

l) neste [e em todos os sentidos, de facto] o real, a matéria, "caminham sempre continuamente para o seu próprio passado".

O 'futuro' dos objectos é uma mera forma puramente teórica de integrar contínua e funcionantemente o 'passado'.

m) se ao real retirássemos as anisotropias que o compõem ou 'povoam' obteríamos a "recta perfeita": em si mesma inexistente poréma deslocando-se ininterruptamente a partir de um ponto teórico remoto que é a sua "explicação" e o seu efectivo "futuro".

n) se lográssemos proceder a esse esvaziamento limite do real, libertando-o de todos os acidentes que o compõem, perceberíamos finalmente qual a natureza autêntica da realidade, o "graal" da única ontologia acreditável que é a que se obtém ligando a ciência à filosofia, radicando e disciplinando, assim, idealmente esta de modo a conferir-lhe a possibilidade efectiva de cumprir o seu trabalho que é precisamente "explicar acreditavelmente o real".

o) não podemos esquecer, ainda assim, que as armas de que diospomos nos são fornecidas pela própria realidade e que, por conseguinte, com ou sem ciência, elas estão semptre, por definição, muito mais disponíveis para se porem ao serviço da própria matéria do que da "consciência" que não passa, como vimos [e devemos ter sempre presente!] de uma mera projecção ou "especularização funcionante" puramente teóricas da própria matéria.

Num certo sentido muito limitado, de um simples 'atributo funcionante' desta.

p) a causalidade, por exemplo, não passa de uma mera hipótese teorética ligada enquanto ideia incomparavelmentre mais à conscviência que temos ou fazemos das coisas do que às coisas propriamente ditas.

De facto, se não houvesse movimento, a causalidade não existiria ela própria porque ela é movimento.

Não uma ordem mas um movimento.

É claro que havendo objectos "ao alcance do" movimento estes tendem a dispor-se por uma certa ordem ou sequência.

A ordem porém não representa ela mesma um "dever", naquele sentido impositivo e quase "moral" que muitas vezes quando nela pensamos, lhe atribuimos; tal como eu a concebo, a "ordem" no real [e a "causalidade" dentro dela e como forma por ela pontualmente assumida] uma mera disposição, na in/essência, puramente espacial dos objectos; uma simples geometria animada, movida do exterior pela conjunto do real em contínua expansão/desintegração [e des-integração] em caso algum, um "dever" de natureza abstractamente, mesmo de uma forma muito remota, "moral".

p) eu defendo, asliás, que é necessário rever radicalmente a nossa ideia de "moral".

É esencial que reportemos sempre qualquer modelo ou qualquer paradigma de 'moralicidade' à matéria e à sua deslocação contínua no espaço, que é como quem diz: à sua deslocção através de si mesma.

A 'moral' não passa, em meu entender, de uma secundarização ou terciarização puras de informação funcionante vinda da matéria que se abstractizou, acompanhando a desintegração do conjunto do real, a tal ponto que parece autónoma relativamente aos seus própruios fundamentos materiais.

Se queremos perceber a natureza da moral, temos, assim, de proceder quase como Platão---mas exactamente ao contrário, isto é, concebendo o mundo dos "arquétipos" [ou, como poderímos também designá-lo: das puras "idealidades"] como situando-se, enquanto "abstractização residuante" do funcionamento tópico e natural do real, inertemente depois deste e/ou para além ["jenseits"] deste.

A moral, tal como eu próprio a vejo, configura, de facto, uma mera "descarga crítica ou criticional" puramente residuante da acção da consciência.

Não é um código substantivo, é um mero "resíduo sobre-funcional" de "conhecimento" que renucleou numa meta- ou numa a-ciencialidade autónoma [lá está!] por mera residuação inertizada da acção primária, efectivamente relevante, do próprio real.

Há, pois, numa palavra, uma "ecologia" e uma "filobiologia" da "moral" que tem de ser, sempre e em todos os casos, considerada.

Tomemos a ideia de "solidariedade", por exemplo.

Eu diria que a esmagadora maioria dos indivíduos que compõem a humanidade e que pregam a "solidariedade" não possuem uma noção minimamente apropriada e excacta da "coisa-solidariedade".

Na verdade, ela não passa de uma expressão do que chamo o "princípio continuacional de toda a matéria" que tem que ver, em tese, por sua vez, com leis físicas tanto quanto sei ainda incompletamente entendidas mas que presidem à propriedade ou à acção coesiva da matéria sobre si própria que impede as formas demasiado imediatas de desintegração da mesma.

A minha tese é que este princípio sofre uma mutação [insisto: "todo o real é, em última instância, rigorosamente concêntrico" o que explica a sua vocação natural para conservar-se "orgânico"---é um dos princípios que defendo para tentar descrever e explicar a natureza última do próprio real]; a minha tese, dizia, é que este princípio sofre uma mutação quando o real passa pelas primeiras formas de "individuação funcionante" que caracterizam o seu curso global e passa a operar entre os indivíduos mediadores da espécie no mesmo exacto sentido em que actuavam as forças coesivas originas.

É preciso, porém, entender que, na lógica natural, os indivíduos não respondem, de facto, uns perante os outros senão num sentido meramente prático e/ou funcionante: eles respondem realmente perante a matéria que os compõem e da qual eles ooperam como simples mediadores ou "agentes".

Trata-se, pois, não de uma exo-funcionalicidade mas, exactamente ao contrário, de uma endo-funcionalidade que tem tudo a ver com aquela ideia de o "futuro" da matéria se achar, de facto, "atrás", não "à frente", dela e de o real tender sempre para reencontrar a organicidade perdida [e achar sempre formas sucessivamente secundarizadas, terciarizadas, etc. de expressar essa "vocação"] mesmo quando separado dela pelo seu próprio movimento ou pelas dinamias funcionantes que gera, digamos assim.

Interrogo-me mesmo sobre se um certo folclore cultural ligado a ideias como as de "âge d'or", "paraíso perdido" ou até a algum platonismo e neo-platonismo não devem poder ser explicadas por esta espécie de "nostalgia molecular" que tivesse encontrado o caminho para as formas já conscienciais e conscienciadas de a matéria se expressar, aí tendo ficado abstracta mas, também e sobretudo: naturalmente, retidas.

É seguramente uma hipótese teórica de aprofundar o nosso conhecimento dos fundamentos da realidade.


[Na imagem: René Magritte, "Le Double Secret", 1972]

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