sábado, 3 de abril de 2010

"John Forsythe 1918-2010"


Aluno do Actor's Studio inicial [como intérprete, radical antítese, porém, da imago assertiva e mesmo sempre em maior ou menor escala truculenta popularizada, a partir do "Método", por um Marlon Brando, por um James Dean, por algum Paul Newman ou até por um comparativamente menos familiar L.J. Cobb]; actor "sério" de teatro ao longo de quase toda a sua vida após um começo relutante registado nas biografias oficiais, Forsythe será, para mim, sempre o sóbrio mas eficacíssimo 'Sam Marlowe' de "The Trouble With Harry", parte integrante do par romântico formado por ele próprio e por uma ainda debutante mas não menos impressiva e brilhante Shirley MacLaine e de que um outro par, notabilíssimo também, aliás, formado por um inesquecível Edmund Gwen e por uma fabulosa Mildred Natwick operava como imorredouro "sidekick" e exemplaríssimo "comedy relief".

As audiências inglesa e norte-americana não parecem ter nutrido pelo filme uma simpatia por aí além mas, visto hoje, "The Trouble With Harry" permanece, a meu ver, pelo menos, como uma comédia negra fabulosamente fresca, invulgarmente "witty" [o 'jogo' subtilíssimo que estabelece com as ideias da percepção individual da culpa e com a dicotomia amoralidade, egoísmo individual/consciência social, noção objectual, exterior do dever é, de facto, notabilíssimo de ironia e de uma ambiguidade e um educadíssimo cinismo muito hitchcockianos, aliás, uma e outro] animada de princípio ao fim por um finíssimo [e, felizmente, sempre um pouco louco...] muito britânico 'humour' [ao nível do que de melhor este produziu, do clássico "Kind Hearts and Coronets" ao não menos clássico "The Ladykillers" passando por um igualmente muito meritório [ainda que consideravelmente menos "negro"] "The Lavender Hill Mob", para citar apenas estes e deixando de fora o tão clássico como os outros embora americano "Arsenic and Old Lace"] onde o trabalho de Forsythe ocupa um lugar verdadeiramente primordial perfeitamente integrado no espírito delirante mas sempre contida, sempre sobriamente "zanny" e, a meu ver, subtilmente escarninho do filme.

Forsythe trabalhou, aliás, mais de uma vez com o mestre, desde o televisivo "Alfred Hitchcock Presents" até "Topaze", definitivamente um dos piores filmes do realizador mas onde Forsythe evoluciona com o seguríssima sobriedade e sólida, eficientíssima, consistência de sempre.

A grande vulgarizadora que é a televisão, celebrizou-o junto do grande público em geral através da participação em "Dynasty" [anos '80 e '90] assim como lhe tornaria a voz icónica nos famosíssimos "Charlie's Angels", primeiro na televisão [com Farrah Fawcet-Majors/Cheryl Ladd, Kate Jackson e Jaclyn Smith] e, numa segunda fase, já no actual milénio, no cinema [onde Drew Barrymore, Cameron Diaz e Lucy Liu substituiram o elenco televisivo original].

Faleceu com 92 anos, de pneumonia mas achava-se já muito debilitado pela idade e pelo cancro de que há algum tempo já padecia.

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