sábado, 3 de abril de 2010

"Terá a igreja enlouquecido de vez?... Agora deu-lhe para «brincar com coisas sérias»..."

A manhã jornalística inicia-se para mim com a leitura de um título que dificilmente imaginaria ser possível.

É do diário "Público" e diz: "Escândalos de pedofilia: Igreja compara ataques ao anti-semitismo" referindo-se às críticas que, de todos os lados, vão chegando a propósito do encobrimento generalizado e contumaz por parte das várias instâncias que a compõem, desde o clero local aos mais altos extractos da cúpula vaticana relativamente às praticas de abuso pedófilo por parte dos seus membros.

Uma pergunta indignada e perplexa me acode de imediato, irresistível, tão incrédula quanto escandalizada, ao espírito: terá a igreja ensandecido de vez?
Perdido definitivamente o sentido das proporções, a consciência dos limites toleráveis para a tolice [im!] pura e simples---todo o senso do próprio decoro?

Será, com efeito, o desconforto causado pela percepção óbvia da própria culpa tão grande que a fez perder definitivamente o tino?

Ainda mal esclarecido o caso das [apenas admissíveis?...] cumplicidades objectuais com o nazismo por parte do papado de então [que o ocultou, como se sabe, cuidadosamente debaixo da camuflagem muito conveniente mas também moral e ecumenicamente muito discutível do "zelo táctico" e/ou do "humanismo relativo", uma espécie de versão pontifícia da famigerada "Real Politik" a que poderíamos, com certeza, aqui, chamar de "Real Humanismus"---isto para não lhe chamar coisa bem pior---Rolf Hochhuth, por exemplo, chamou e deixou o Vaticano com a cabeça à roda, as orelhas a escaldar e "às aranhas" para "explicar"...]; depois disso, dizia, disso cujas ondas de choque ainda hoje se sentem [e de que maneira as sentem os verdadeiros cristãos, pelo menos!] vem a beatificação de um outro papa cujos posicionamentos escandalosamente anti-semitas se encontram, esses, amplamente registados e eloquentemente documentados; depois, ainda, o "caso" do cardeal britânico negacionista, objecto de silenciamento "táctico" enquanto foi possível fazê-lo e agora esta despropositadíssima "saída" envolvendo uma indesculpável "fuga argumentativa para a frente" num terreno que a igreja nunca deveria, porém, pisar sem mil cuidados e a mais infinita e cirúrgica, decorosa, das prudências dadas as suas constantes e muito próprias, cíclicas, ambiguidades nele...

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É! Só mesmo o desespero e uma certa, recorrente---muito característica, aliás!---'loucura institucional' sempre potencial e sempre potencialmente muito suicidária podem explicar o, de outro modo, dificilmente explicável desvario de uma hierarquia eclesial que, decididamente, nunca mais demonstra ser capaz de aprender o que quer que seja com os seus próprios erros...
E se ela, ainda por cima, é fértil em dá-los, meu Deus!...
[Imagem ilustrativa extraída, com a devida vénia, de twcenter-dot-net]

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