"«'Suciedade'» de consumo» («Manifesto visual») [Colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]"
(Para a Maria Estela Guedes)
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"Soldier Blue"
Tributo a um verdadeiro "filme de cabeceira" meu: "Soldier Blue", de Ralph Nelson com uma fabulosa Candice Bergen e um digníssimo Peter Strauss, o "soldier blue" deste tão não-tennysoniano anti-épico, sempre (desgraçadamente!) actual filme...
"25 de Abril, sempre!"
Mais palavras, para quê?! «25 de Abril, sempre» é uma senha perfeita! 25 de Abril, sempre, pois"
O "Público" da discórdia...
Ver 'entrada': "Bonnie & Clyde recontextualizados"
A memória, esse "animalzinho caprichoso"...
Sempre que me assaltam dúvidas do tipo mas "ISTO" aconteceu MESMO? Eu estive lá? Eu guiei eléctricos na terra do Tintin? Um reencontro 'imediato' com a Realidade patrocinado pelo visionamento de "peças" como esta impiedosamente saída do meu (volta-não-volta bem embaraçoso!...) baú de recordações assegura-me da solidez e da consistência geral da(s) memória(s). Sim! Eu estive "lá"! E fiz figuras (bem) tristes como esta!...
Bélgica, o Palais de Justice
Trazê-lo aqui é recordar o interrogatório pela polícia, a aventura, a encenação, a meticulosa "mise-en-scéne" e o "script" cuidadosamente ensaido a fim de evitar a delação, parecendo sempre colaborar... (No fundo) bons tempos de imposta adrenalina e mil aventuras também. Ah, a Bélgica! Como dizia "o outro": tipos burros e cerveja? Não só! Também Magritte; Ernest Mandel (que tem, entre outras coisas diversamente consideráveis mas sempre intelectualmente estimulantes, um ensaio sobre literatura policial, "Cadavres Exquis", que é um livro simplesmente fabuloso); Edgar Jacobs (meu Deus! O que eu tremi de prazer em miúdo com o "Marca Amarela" e o omnipresente e intangível vilão Olrik!...); "Hergé" (que era um "facho" danado mas me deu, também ele, horas de irrepetível prazer em criança com o Tintin, o Milou--um avoengo mais ou menos centro-europeu da "Nocas"--o Professor Tournesol e o Capitão Haddock--que por cá se chegaram a chamar, quando o governo salazarista impôs o condicionalismo de todos os "heróis" infantis terem nomes portugueses, respectivamente, "Professor Pintadinho de Branco" e "Capitão Rosa"...---e algum cinema, sobretudo a técnica. Ah, pois, a cerveja... EU não gostava mas, se tivesse mesmo de escolher, optava pela Maes Pils que tinha o nome mais giro embora "o Benfica das cervejas belgas" fosse a "Stella Artois"...
Sacco e Vanzetti
Que melhor imagem para ilustrar simbolicamente, no texto sobre "a 'alfabetização significada', as "novas formas de sindicalismo" do que este duo de mártires composto no Cinema, no filme do Montaldo (com a canção-tema a ser cantada pela Baez) por esse bravo Niccola Sacco (Riccardo Cucciola) e pelo não menos politicamente exemplar Bartolomeo Vanzetti (Gian Maria Volonté)?...
Também Beethoven...
Também Beethoven (aqui re/visto por Warhol e tal como Mozart mais abaixo) havia de ter das boas para dizer aos "selvagens esclarecidos" que se propõem desta feita... "reformar" o ensino da Música em Portugal
Mozart havia de dar voltas no túmulo...
...com a "política educativa" do liberalismo neo-socrático e "pós-social" no poder
"A Boba"
Sobre "A Boba" da Estela Guedes dou, noutro ponto deste "Diário" as minhas impressões. Algumas delas, em todo o caso.
Gramsci
Outro que eu admiro: Gramsci. Fica aqui a homenagem
O "velho" Karl
A imagem ideal para ilustrar a 'entrada': "Da Política como Ciencialidade Pós-moderna por Excelência"
Este é um bom maroto!...
E não é que é mesmo!... E se eu tenho obrigação de saber!... Conheço-o de gingeira vai para sessenta e três anos!...
Esta senhora...
Adoro esta senhora. É parecida com a Joan Baez? Um pouco, diria eu. Caracteriza-a um vago ar de Madonna renascentista? Sim, também. Assim como um certo modo de ser e de agir tipicamente angélico, quase seráfico? É claro para quem com ela priva. Não conhecem? É a Mia! A mãe dos filhos que não tenho. Que não temos. Querida Mia! É tudo aquilo a que um homem pode aspirar. E muuuuito mais...
"A Loucura é um lugar de Deus"
...como digo noutro lugar... Ou, pondo as coisas, em alternativa, de um outro modo possível: "César Monteiro, Luís Pacheco e o próprio Deus---a mesma redentora loucura e em termos genéricos, o mesmo combate.
"O Sonho"
Como diria a Fernanda Botelho: "Esta noite sonhei com...". Com Modigliani, no céu, no meu caso... No MEU céu...
"O Homem Dividido"
Franz Kafka, claro...
"Alas, poor Yorick!..."
A "citação" de "Hamlet" por Ferreri, de que falo noutro lugar deste "Diário"
"À La Recherche d'Un Langage Commum", a minha própria "citação" do "Hamlet"
Ao "colar" descobri que a célebre imagem de Hamlet empunhando a caveira de Yorick regressava de forma cíclica à minha ideia de "composição" de uma colagem. É uma espécie de "tique composicional" ou de "trans-citação" que partilho com Marco Ferreri, por exemplo, que põe o "Phillipe" de "La Grande Bouffe" a empunhar uma cabeça de porco ou de vitelo em "pose de Hamlet". Aqui tento a ironia, unindo impossivelmente dois mundos literalmente inconciliáveis ou intraduzíveis entre si. A vida e a morte. O animal e o mineral. Como em Beckett...
"Old Geezer" ou "Oldwhatshisname"
É a minha "homenagem" pessoal a um "industrial da Arte", apesar de tudo, por diversos motivos, cultu(r)almente relevante: Andy Warhol. Aqui não se nota muito mas multiplicando, como noutro lugar fiz, a imagem a "ilusão" começa a tornar-se reconhecível. A obsessão de Warhol com as subreferências cultu(r)ais, por outro lado (Monroe, Presley e por aí fora), está, por sua vez (em tese, pelo menos... )presente no título.
"Dançar-Dançar-Dançar"
"Isto" é o "mais próximo que eu consigo chegar" de um dos meus "ídolos estéticos" absolutos, Magritte. Belga "como eu". Como eu acho que os belgas deviam ser. E também como eu corri, um dia, sério risco de me tornar... O Magritte (que tem um museu em Ixelles, onde eu e a Hermínia morámos algum tempo, em casa do Raul) integra-se muito bem no "espírito" do "quartier", "a coisa mais parecida com" um bairro boémio de que a Bélgica foi ou é capaz. Ixelles é, de facto, o Montmartre do Norte---estatuto para o qual a colónia portuguesa de refugiados políticos deu, nas décadas de '60 e '70, um contributo verdadeiramente 'vital' e decisivo...
"Mask"
Mas esta não é do Peter Bogdanovitch Nem a do "Elephant Man" do (muito mais interessante Lynch) ... Esta é uma máscara onde eu pretendi fazer (ou onde vejo, pelo menos...) essa espécie de sugestão de inquietante "mistura" (senão mesmo "fusão") mais ou menos "biónica" que caracteriza a nossa época, obsessivamente centrada na "eficácia" e em tudo o que lhe pareça pôr em relevo a "utilidade da realidade" nos seus múltiplos aspectos.
"Distâncias e Sombras"
Pode parecer curioso que eu (que cultu(r)almente pouco ou nada tenho que ver com África) "viaje" de uma forma que é obviamente recorrente por temas envolvendo aspectos diversos associados, de um modo ou de outro, à "negritutde". É, todavia, preciso perspectivar correctamente este meu posicionamento em matéria estética assim como de "ângulo" de abordagem da realidade "mais ou menos concreta e objectiva", digamos assim. Na verdade, o que realmente é preciso, em meu entender, ver em «objectos» como este (e tantos outros que fui, gradualmente, inserindo neste "Diário") é uma preocupção muito ampla e profunda com as diversas formas de marginalidade e exclusão ou com as minorias de toda a espécie---de que a negritude fornece, porém, uma imagem particularmente reconhecível---emblemática mesmo---e patentemente clara.
"Em busca de Deus"
Quando era muito criança, descobri, um dia, na "Barateira", um pequeno lote de livros de Bernard Shaw: "O Guia do Socialismo para a Mulher Inteligente" e "As Aventuras de uma Negrinha à Procura de Deus". Este último título em particular exerceu sobre mim um profundo fascínio. Como não tinha dinheiro que chegasse, comprei um outro livro (uma belíssima edição, em letra gótica, do Schiller) e tive de abandonar estes. Quando consegui juntar o dinheiro suficiente para comprar os outros e voltei à Barateira, já tinham sido vendidos. Nunca mais voltei a achar o tal "Guia para o Socialismo". Até hoje. O outro, sim, tenho-o. A minha atracção pelo estilo truculento e... "orson-wellsiano" do Shaw, hoje, já não me arrebata como chegou a acontecer. Em memória, porém, da "Negrinha" que "buscava Deus" assim como das fundas emoções que o meu desencontro com o livro em causa me motivou, fiz esta "Cidade" que se eleva magicamente no ar em busca daquilo que todos nós, tanto individual como colectivamente, tão incessante quanto vãmente, buscamos: um Deus no qual possamos, senão acreditar, ao menos (e por muito paradoxal e irrazoável que isto possa soar) confiar...
"As Bruxas de Macbeth"
As bruxas, o horrífico---e o oceano como um grande caldeirão de sortilégios e malefícios...
"Mistaken Identity"
Gosto particularmente da ideia desta "translação identitária" multiracial...
"Testimony"
A minha (aqui, irónica...) paixão pelo preto--branco
"Hamlet Prince"
De regresso, a minha atracção pela re/criação shakespereana do príncipe neurótico e eternamente enigmático.
"Sombra"
Aqui terei sido, sobretudo, ajudado pelo acaso. Dele resultou uma 'outra' sombra que eu próprio não tinha inicialmente previsto mas que liga, com extrema subtileza um passado tenebroso a um presente demasiado idiota e acéfalo para ser seja o que for de uma forma directa e clara.
"Civilização!
Cada vez estaremos mais próximos de uma situção em que esta imagem deixe de ser uma simples «imagem»... Quero eu dizer: cada vez estaremos mais perto de sentir na própria pele que ela já o não é... Simples imagem, quero eu dizer...
Jimbo
Ainda e sempre, o protesto anti-racista em acção! Agora é um negro que se vê obrigado a "usar" sobre a sua uma boca de branco... Simbolicamente doente, para mais. Será com... "herpes cultural"?...
"Todos Somos Hamlet"
Gosto muito de Shakespeare e de "Hamlet". Gostaria de encená-lo um dia assim como a "Macbeth" e "Richard III", usando (para o caso do primeiro, que aqui homenageio) as excitantes "misinterpretations" que Freud dele fez. Elas são, aliás, um excelente exemplo do que chamo a "leituração" de um texto, isto é, de uma abordagem "ampla" e "criativa" que não desdenha (longe disso!) usar o texto como uma espécie de espelho móvel e amplificador, dialéctico ou "dialectizante", onde o... "leiturante" ou "leiturador" procura, em última análise, sempre, realmente, o seu próprio rosto...
"No Man Is An Island"
Na Universidade (com um professor extremamente pedante, aliás, cujo nome não divulgo...) travei contacto com aquele que é, hoje-por-hoje, sem qualquer dúvida, um dos meus poetas "de cabeceira": John Donne, o mais emblemático e poeticamente relevante dos "metafísicos" ingleses do século XVII. É dele a extraordinária "valediction" de onde esta frase inesquecível foi extraída. Foram, pois, Donne e uma ideia lindíssima (assim como um meio, sem dúvida, literariamente arrebatador de apresentá-la) que aqui tentei 'homenagear'.
"Asamblea de los Ausentes"
Nem valerá a pena "explicar", não é?... Desgraçadamernte. Pensei-a como um acto visual de protesto contra as barbaridades e os atentados aos direitos humanos mais primários cometidas sobre os palestinianos na Faixa de Gaza. Não! Cometidas contra todos os "palestianos" deste mundo, onde quer que eles se encontrem. Assim é que está correcto!
"Os Amantes"
Uma das minhas colagens preferidas. Porque é (talvez?) muito beckettiana. Quer dizer: eu gostava de acreditar que o é... O título faz-me (a posteriori) pensar, além disso, num filme que vi do Louis Malle que vi há muitos anos, me impressionou imenso e que tinha exactamente esse título.
"Goddo"
Ainda uma alusão, referência e "citação" de Beckett: "Goddo", "Godot". Deus movimentando-se no seu particular jardim de astros e vazios...
"Georgegloomygeorge"
Noutro lugar, dou pormenores adicionais sobre este "George" que aqui vem, agora, "visitar-nos". É a minha contribuição para a luta anti-racista, através da ironia e do absurdo. "George" é um negro a quem obrigam (simbolicamente...) a ver o mundo com olhos azuis de caucasiano. Uma metáfora do colonialismo? Como diz "o outro": são vocês quem o diz...
"A Loucura é um Lugar de Deus II" ou "Simetria multiôntica"
Aqui se visa confirmar o que, noutro ponto, se disse. A saber: que a loucura é MESMO um lugar de Deus...
"A Loucura é um Lugar de Deus"
Uma a uma, vou aqui dando lugar às minhas colagens. A esta chamei eu: "A Loucura é um Lugar de Deus". Para mim...é!
A capa "fatal"...
Por causa dela, desta capa (e do Sr. Lello, do Porto que a pagou e aceitou publicá-la...) andei eu, anos a fio, "às turras" com o Eça... Design mais horroroso era, com efeito, difícil concebê-lo... Tenho outros livros da Livraria Lello (muitos dos quais 'Eças') mas confesso que, ainda hoje, não fiz por completo as pazes com este senhor livreiro do Porto...
O Granger e a Kerr...
O Granger e a Kerr: "see what I mean"?...
O Stewart Granger!...
Eu falei, noutro dia, no Rock Hudson, não foi? Pois... Mas o meu herói, (herói mesmo, como dizem os brasileiros) foi, durante largos anos, este senhor 'imensa' ou 'intensamente britânico' que fez de Alan Quatermain n' "As Minas de Salomão" (meu Deus, o que aqueles pinhais e charnecas da Vila Nova de Caparica passaram quando eu os promovi unilateralmente a África, uma África privada onde nem faltou uma Deborah Kerr tão imaginária e perfeita quanto o original!!... Tempos houve em que o meu maior dilema era: qual é o filme "absoluto", "definitivo", "completamente perfeito"? Estas "Minas" (que me fizeram, aliás, durante anos a fio, olhar "de lado" para o Eça que traduziu/adaptou o texto original do Rider Haggard mas que, coitado, não teve culpa alguma da edição que a Lello fez da obra em cuja capa o "meu herói" aparecia como eu---com o embaraço que se compreende!----mostro noutro lugar deste "Diário"!...) se "The Prisoner of Zenda" do Richard Thorpe, com... "libreto" original do Anthony Hope!... Em ambos, o Granger era o herói e a Kerr (a absoluta perfeição feminina!) a "rapariga". Nesa altura, para nós, cinéfilos "mirins", os "heróis" eram todos "o rapaz" e as heroínas "a rapariga". Mas eu até tremia só de pensar que chamar rapariga àquela "coisa dourada e angelical" que era, para mim, a Kerr, pudese maculá-la e ofendê-la!... Eu tive uma colega em Almada cujo filho, um dia, na sala dos professores, esteve uma manhâ inteira a olhar para mim, muito sério. A dado momento, chamou a mãe de lado e disse-lhe ao ouvido qualquer coisa que a fez rebentar a rir. O que era? Tão somente isto: pedia ele à mãe que, no Natal ou nos anos, lhe arrranjasse... um bigode igual àquele que eu, na altura, orgulhosamente ostentava!... (Isto é rigorosamente "histórico", ham?...) Pois, a mim pessoalmente só me faltou, com idêntica candura, pedir ao meu próprio Pai ou à minha própria Mãe que, pelo Natal, me dessem um cachimbo, uma espingarda e uma... cara como a Granger para eu poder "pedir namoro à Kerr", quando a visse num qualquer próximo filme, desses que eu ia, sempre que podia, ver ao "Royal" ou ao "Terrasse" (o Lys, para o efeito, era demasiado perto de casa, "too close for comfort"!...) quando me "desenfiava" das aulas do "Gil" e ia ver os Grangers e as Kerr "oficiarem" na escuridão desses "templos absolutos" que eram os velhos cinemas "de bairro"----e "de reprise" (que os 'outros', pelo preço, ficavam todos definitivamente "off limits")...
"Ol' Dan Ruiney"
Esta é uma colagem onde tentei representar a minha visão pessoal do "herói" de "All That Fall", o velho Dan Rooney, aqui (tudo menos por acaso...) rebaptizado de "Dan RUINEY". Ainda e sempre a sombria mas genial "tutela" de Beckett...
"All That See"
Este é o "meu" Beckett. Desde que a fortuna me possibilitou traduzi-lo ("All That Fall") que pensava fazer, em colagem, um Beckett capaz de ver mais do que a esmagadora maioria de nós, dramaturgos ou não, homens de letras ou não. Ele aí está. Talvez...
"Moderato Cantabile ou a minha homenagem à Duras"
A legenda é essa: "Moderato Cantabile". A minha homenagem pessoal à Duras.
O avôzinho "Siggy"
É uma das colagens que incluí na minha "Exposição virtual", "Actos de Colagem" e de que gosto especialmente. Fi-la sobre uma escultura de "?", apondo-lhe um retrato do velho Freud. o nosso "avôzinho Siggy".
"O" Filme
Se me pedissem para "descrever o cinema" com um exemplo prático, eu diria, sem hesitar muito, "Mon Oncle". Poderia também, em alternativa, dizer "Playtime" mas ia, afinal, dar ao mesmo---a esse génio absoluto da ficção que foi Jacques Tati. Por uma razão qualquer, quando se pretende avançar um rosto de referência para o "humanismo estético" ou "narrativo", "ficcional" moderno, designadamente cinematográfico, muitos críticos são tentados a pronunciar imediatamente o nome de Frank Capra, por exemplo. E logo se fala de 'Jimmy' Stewart, do "Sr. Smith" que vai a Washington" (sem esquecer---pois: sem, em caso algum, esquecer!---o clássico "You Can't Take It With You". Não me interpretem mal, como dizia uma personagem (divertidíssima!) de um livro do Peter Cheyney. Eu até gosto (e muito!) do Stewart e não desgosto propriamente do Capra. Do Capra, eu acho, até, que pode ser considerado (e estimado!) como uma espécie de "consciência prática" (por absurdo, pelo menos) da América interesseirona e pagã dos Fords e quejandos. Agora, é preciso ser intelectualmente honesto e reconhecer que, quando se 'descuida' (e 'descuida-se' muito!...) o Capra consegue, sem dificuldade, ser insuportavelmente retórico e simplista. "You Can't Take it With You", até por aquilo que o Capra fez ao Stewart (o grande 'Jimmy' parece, às vezes, uma espécie de remota inspiração transatlântica das caretas e esgares do Rodrigues dos Santos e não é dizer pouco!...) envelheceu por completo e é, hoje-por-hoje, uma coisa arqueológica---senão mesmo... paleontológica... A verdade, porém, é que aquilo que alguns persistem em ver em Capra (em TODO o Capra, pelo menos) está genialmente dito no Tati, em duas/três obras-primas absolutas, definitivas: a impossibilidade romântica de mudar o mundo, a poesia da 'perfeita' in-utilidade (o potencial subversor e até 'revolucionário' dessa mesma in-utilidade ou da vagabundagem e do sonho!), o sentido profundo do humano, numa palavra---não conheço ninguém como o Tati para transmiti-lo. Poesia em cinema tentaram fazê-la os "vanguardistas" e, com raras excepções (Jean Vigo, o visionário e sempre torrencial Buñuel e poucos mais) apenas lograram objectos e "curiosidades cinéticas" sem real significado ou intrínseca dimensão estética---e humana. Foi preciso 'haver Tati' para a gente perceber que é possível (sei lá!) "levar os impressionistas musicais directamente ao Cinema" e fazer deste não apenas Poesia como, sobretudo (mais difícil ainda) Música, pura Música. A perfeita abstracção no mais empolgante concreto que é posível imaginar: um Paris que morre às mãos das suas próprias fragilidades, inconsistências, vacuidades e delírios...
Em Montemor com Álvaro Cunhal...
Não ponho legenda: a imagem é a sua própria legenda. Ah e o Álvaro está vivo, ham? Eu, é que já não digo nada...
O "velho" Rock...
Descobriu-se, depois, que era homossexual. À época a que se reportam as reminescências cinéfilas que aqui aparecem ilustradas com imagens de cinemas para mim 'de culto', o "velho" Rock era um dos paradigmas absolutos da beleza e do charme viris. Não havia quem não sonhasse ser... ele. Vi-o, suponho que pela primeira vez, numa coisa fabulosamente má, deliciosamente kitsch (porque não dizê-lo? Soberbamente pirosa...) tirada do infelicíssimo "Papa Hemingway": "O Adeus Às Armas" ("A Farewell To Arms") na versão do Charles Vidor. O pobre "Papá" sempre teve azar com os filmes que dele se fizeram---dos quais talvez apenas escapem "O Assassinos" ("The Killers") do Robert Siodmak que não era nada mau e, claro, o "Ter e Não Ter" ("To Have And Have Not") do Hawks. Voltando, porém, ao Hudson: para mim, é, ainda hoje, um ícone. Acho, aliás (e faço absoluta questão de dizer isto: é, seguramente, a melhor homenagem que posso prestar à memória do "velho" Rock e à própria memória da minha tão fascinada quanto já distante adolescência) que já ia, com certeza, sendo altura de começarmos todos a "separar de vez as águas" e, primeiro, de não confundirmos as pessoas em si com aquilo que fazem e, depois, de não as julgarmos pelo que, na privacidade das suas vidas, têm todo o direito (e mais algum!...) de fazer. Irrita-me e confunde-me (melhor dizendo: deixa-me profundamente apreensivo!) que, ainda hoje, aquilo que um homem mete no bolso (aquilo que ele mete AO bolso!) conte menos para a imagem que dele, em geral, temos e projectamos do que aquilo que ele mete num orifício qualquer de um corpo que apenas a ele pertence... Não ligues, pá! Eras 'o maior' e continuas a sê-lo para os tipos como eu que abominam os preconceitos e as pacóvias superstições!... E, se lá no "assento etéreo onde subiste" te apetecer "abafar a costeleta" com o próprio S. Pedro, quem sou eu para te dizer que não deves fazê-lo?... Um abraço, pá! Em nome das horas de deslumbramento que tu e esse facholas abominável do John Wayne mais o mafioso do Sinatra e o bêbedo genial que foi o Dean Martin me proporcionaram. Manda-os lixar a todos, pá!
Blood Diamond: dois excelentes actores, Djimon Hounsou e Leonado Di Caprio
Um' "A Desaparecida" do milénio
O Imperial!...
Está-se mesmo a ver, não é? Só se ouvia falar de "Fé" e de "Império", já havia um, um cinema "Império" na Alameda, este, coitado, como era mais pequenino teve de contentar-se com o ser "Imperial". Como a cerveja! Mas era lindo. Antes de ele se transformar em "Pathé", funcionou lá, durante algum tempo, o Cine-clube Universitário (cuja sede era, aliás, bem pertinho). Um dia, deixaram-me fazer o texto do programa. Passavam o "Salvatore Giuliano" do Rosi. Eu fiz o programa e quando fui ver as provas, mostraram-me uma folha que dizia: "Salvatore Giuliano-espaço em branco-Carlos Machado Acabado". Era o que sobejava da passagem da Censura por aquele "belo naco" de adolescente "prosa crítica" que eu tinha espremido com um carinho infindo das púberes meninges brilhantemente inspiradas! Só eu sei o cagaço que tive nas semanas, meses e até anos que se seguiram, sempre à espera que me viessem buscar para uma animada "discussão crítica" da parte omissa do texto, com uma moca qualquer das muitas que havia naquela tenebrosa António Maria Cardoso da época... Nunca mais me esqueci do filme! Também lá passaram (mas foi mais pacificamente!...) "O Mundo A Seus Pés" do Wells e "A Grande Guerra" do Moniccelli. Ah e também lá vi, deste último, uma coisa verdadeiramente fabulosa chamada "I Solitti Ignotti" (que se chamou por cá "Gangsters Falhados" e em Espanha---juro que é verdade!---"Rufufu", numa "piada" foleiríssima ao "Rififi" do Dassin de que este era uma paródia, aliás seriíssima e tudo menos "social e até politicamente inocente"!
Outra do "velho" Lys (que, depois de morto, foi "Roxy"...)
Aqui o temos, de novo... Cada bilhete custava, no "meu tempo", cinco escudos (que, depois, passaram a seis...). Mas tínhamos direito a dois filmes de cada vez. Como era um cinema de gente "benzinho" e, dentro desta, "de senhoras" (sobretudo, à tarde e à semana) passávamos a vida a "levar com" a "Sissy" e uns dramalhões terríveis de mulheres "seduzidas e abandonadas" e coisas no género. Não "descia" tanto como o "Royal" (mais à frente, já na Graça) ou o Odeon (onde só estavam "autorizados" os dramas de grande e hispânico dramatismo com a Montiel, o Pedro Infante e por aí fora) mas quase!... Era a ingenuidade da época que escolhia os filmes e ditava as emoções que devíamos ter ao vê-los! Mas, atenção, não me arrependo de nada daquilo que vi, ham? Se ia ao Império e ao Estúdio ver o Bergman (todo cortadinho "às tiras" pela Censura mas enfim, houvesse saúde, não é?!...) e o Hawks ao Olympia e ao Rex, também vinha aqui ver o Sirk e o King Vidor, no Lys. E gostava, na mesma!...Era um "gostar diferente" mas era gostar... Assim como quando a gente gosta dos filhos mesmo ceguinhos e das filhas mesmo desavergonhadinhas e tudo!...
O Velhinho Lys da minha infância! Que saudades!...
Ficou assim, coitadinho!... Vi aqui os meus primeiros John Fords, os meus primeiros Douglas Sirks (Sim! Também os vi, pois! E que saudades da fervente ingenuidade com que via o Hudson beijar a Cornell Borchers e a Doris Day ou a Jennifer Jones!... Até lá vi um filme absolutamente tenebroso de terror com o Peter Lorre e uma mão que andava por "ali" sozinha e que, durante anos, fez parte integrante dos meus "melhores" pesadelos!...) Em frente, havia a "velha" Escola Luís de Camões, por cima da Policlínica. Às cinco da tarde, saía-se dos empregos e ia-se ler o "Popular" para a Delta ou para o Jardim dos Anjos, com as cagadelas das pombas a cairem como miríades de 'granadinhas' e 'obuzes' "ecológicos", cheios de encanto e ternura"... Bons tempos! Bons [pré-socráticos] tempos de porrada da polícia e outras abjecções "sortidas"!... Mas, ao menos, ainda não havia as crónicas do Pulido Valente nem as carantonhas do Rodrigues dos Santos... Só por isso, já valeu a pena!
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