quarta-feira, 5 de maio de 2010

"Marilyn Monroe and How to Marry a Millionaire..."

A propósito de um episódio de "Alfred Hitchcock Presents" com David Wayne fala-se deste clássico do musical norte-americano com um dos ícones absolutos do Cinema, a trágica Marilyn Monroe, aqui no apogeu da sua fabulosa carreira cinematográfica recordada numa sequência muito curiosa, quase... sacrílega do filme de Negulesco, jogando laramente num certo registo muito estudadamente desajeitado q.b. que Monroe, de um modo ou de outro, consistentemente explorou com o sucesso que se conhece, integrando-o mesmo, muito inteligentemente, no "boneco" fascinante e icónico que dela própria criou ou permitiu que fosse criado.

2 comentários:

Ezul disse...

Mas esse foi um “boneco” que a aprisionou! Marilyn, sempre (ou quase sempre) vista como um símbolo sexual, em detrimento da imagem de uma pessoa sensível e inteligente, capaz de representar outros papéis. Recordei-me, a propósito dessa imagem, de um filme em que entra também o Clark Gable: “The Misfits” (esqueci o título português), e que me impressionou, quando o vi, pelo ar frágil e pela bondade da personagem que encarnava. Um filme que nunca mais vi na televisão, apenas o encontrei agora no youtube.
Beijinho.
:)

Carlos Machado Acabado disse...

Era em tradução literal "Os Inadaptados" e tinha argumento e diálogos de Arthur Miller, à época ainda marido da própria Marilyn.
Era um filme terrível, implacavelmente cinzento e crepuscular, doloroso no modo como punha em cena aquilo que americanos e ingleses designam por "the ravages of time", as mutilações ou devastações do Tempo, através dos rostos: envelhecido o de Clark Gable que vivia à época os seus derradeiros dias de vida e morreria de ataque cardíaco durante a pós-produção do filme senão mesmo nos últimos estádios da rodagem do mesmo; irreparavelmente desfigurado o de Monty Clift que fora um dos rostos mais belos de Hollywood mas no qual um acidente rodoviário associado a um período particularmente conturbado da vida pessoal do actor deixara marcas indeléveis; e cansado, profundamente marcado já pelo uso regular de medicamentos de todo o género, o da própria Monroe, cujos últimos dias foram de total desintegração e solidão pessoal que culminaria na completa incapacidade para memorizar o script do últmo filme e ao consequente despedimento.
O próprio Miller, que depois de "The Crucible" ["As Bruxas de Salem"] [1958] e, num certo sentido, sobretudo de "Death of a Salesman" ["A Morte de um Caixeiro-Viajante"] [1949] entrara numa espécie de "writer's block" continuado de que nunca mais recuperaria realmente, foi atacado pelo "script" do filme onde a crítica via uma espécie de peça teatral imperfeita, de modo que, para além da temática do próprio filme [a "estória" de um pequeno grupo de "drifters" ou "vagabundos" que eram pelo deserto, no fundo, à espera de coisa nenhuma ou da morte] este era, todo ele, afinal, o resultado da conjugação de diversas decadências reais que, desse modo, contribuiram para fazer dele um dos filmes mais tristes da História do Cinema.
O próprio John Huston, o realizador, tinha tido diversos problemas com a indústria e estava já claramente longe do apogeu da sua interessantíssima carreira.