Recordo, hoje aqui, no "Quisto", aquela que foi, sem dúvida, uma das duplas mais invejavelmente sedutoras [e eficazes!] da História do Cinema: a que foi composta por Paul Newman e Robert Redford.
Recordo-a a propósito daquele que foi, por sua vez, indiscutivelmente, o seu grande momento---esse 'objecto visual, narrativo e até musical' absolutamente delicioso, definitivo, que foi "The Sting" de George Roy Hill, uma espécie de homenagem indirecta ao próprio cinema e ao fascinante exercício de mentira-como-Arte que ele, em última instância, é.
Roy Hill experimentara já com razoável sucesso a dupla em "Butch Cassidy and the Sundance Kid", de 1969 onde se atreve a "tocar"---muito ao leve", aliás, como convém...---num tema particularmente 'ousado' [à época, final da década de '60, já nem tanto mas enfim e que já havia sido abordado, antes, no cinema, por exemplo, por Lubitsch em "Design For Living", uma comédia célebre de 1933, com argumento de Ben Hecht baseado numa peça de Noel Coward]; refiro-me ao tema do amor [aqui, um amor trágico e marcado por algum desencanto mais ou menos evidente, ao contrário do que sucede no filme de Lubitsch] a três.
O grande problema do filme [algo que Roy Hill resolve de um modo realmente perfeito em "The Sting"] é o de um certo conflito possível de registos entre o tom marcadamente ligeiro e até abertamente cómico de grande parte da película e o fim, dissonantemente sério e trágico.
Mas o filme tem, de facto, momentos [aqui-e-ali, um tudo-nada... chá-ba-dá-ba-dá é verdade mas enfim...] porém, em regra, extremamente bem conseguidos [a cavalgada quase fantasmagórica dos perseguidores de Newman e Redford tem o seu---evidente e particularmente bem 'esgalhado'!---quê de pesadelo e até de némesis] e o filme comporta mesmo certos momentos de alta comédia, de cómica improbabilidade extremamente bem encenados [um "western" passado na... Bolívia com assaltantes de bancos que não falam uma palavra de espanhol e que assaltam de dicionário em punho...] que fazem dele uma obra, sem dúvida interessante, um razoabilíssimo ensaio para a obra-de-uma-carreira que é indiscutivelmente, insisto [apesar de Hill ter no currículo filmes como "Period of Adjustment", baseado na obra de Tennessee Williams" ou "Slaughterhouse 5", versão do romance de Kurt Voneguth Jr.] no caso de George Roy Hill, "The Sting".
De "Butch Casidy and the Sundance Kid", deixo aqui o celebérrimo "Raindrops Keep Falling on My Head", composição de Burt Bacharach ouvida no filme numa sequência mais ou menos icónica com Katherine Ross sentada no guiador da bicocleta conduzida por um ainda muito jovem Paul Newman.
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