sábado, 1 de maio de 2010

"Da vocação natural da matéria para a dissipação como fundamento último de «Realicidade»"


Muitas vezes tenho aqui falado de "sociedades" e/ou "societações" inorgânicas, umas e outras, associadas à ideia global de "Pós-modernidade".

Devo, talvez, esclarecer que pessoalmente alimento a crença de que as origens ou as raízes do 'social' penetram fundo na própria estrutura mais imediata e mais intrinsecamente material da realidade e aí encontram, afinal, em última mas real instância, a sua 'explicação' e, sobretudo, o seu 'fundamento' último.

Estou, desde logo, muito concretamente persuadido de que, estando na própria base, no próprio núcleo, na génese mesma, da nossa imagem teórica [da minha, seguramente!] de real a ideia [e o princípio] da dissipação e/ou da des-integração contínuas e irreversíveis da matéria no espaço, é teoricamente possível que os paradigmas de "societação" formados na História, pelo menos a partir de um dado ponto dessa mesma desintegração, estejam adequadamente condenados, pela própria natureza a um tempo única e finita do real, a possuir características de inorganicidade em tudo análogas àquelas que marcam o próprio real no seu todo [o real enquanto matéria] gerando-se assim aquela fenomenologia particular a que atribuo a designação muito concreta e precisa de Pós-modernidade.

Acredito, pois, dito de outro modo, numa Biologia [e numa mineralogia e numa astronomia, numa Matemática etc.] do social; acredito que a capacidade do real para permanecer uno reintegrando continuamente em si as anisotropias que a partir da matéria original se foram formando é ela mesma limitada, havendo um ponto teórico a partir do qual a matéria em cada forma particular se desencontra atómica ou molecularmente de si própria e se torna activamente plural---daí derivando, aliás, aquela "lei" ou "princípio" geral da realidade que se encontra na base da inorganicidade enquanto fenómeno natural que diz que, tal como tem "horror ao vazio", a realidade e a matéria da realidade têm "horror ao demasiado grande".

O movimento natural da matéria dobrando-se continuamente sobre si própria e [como dizer?] "puxando atomicamente, em contínuo, para o seu próprio passado" a fim de conservar-se coesa choca, a meu ver, com o modelo por ela paradoxalmente escolhido para "evoluir" ou, como prefiro não-argumentativamente dizer, "voluir" ["voluir" é tornar-se "funcionantemente plural", é reindividuar ou renuclear, é gerir a expansão---e a inevitável dissipação da matéria que a acompanha---ganhando formas que a cada uma delas se adeque].

Reside, a meu ver, aí nesse desencontro [inevitável em face da natureza própria e intrínseca da realidade] entre a vocação ou o 'instinto' naturais da matétria para permanecer coesa e a necessidade de se 'adequar funcionantemente' à própria dissipação a explicação e o fundamernto para a minha asserção da impossibilidade nuclear da matéria.

Muitas vezes tenho afirmado, com efeito, que, em meu entender "a matéria é em última análise, impossível", isto é, que ela é "uma impossibilidade material em si mesma" querendo, com isto dizer, que a pressão de sinais completamente contrários a que está sujeito o real enquanto matéria---pressionado, por um lado, pelo que designei pela sua vocação ou instinto naturais para a coesão e, por outro, pela necessidade estrutural [seria mais adequado dizer: des-estrutural] de acompanhar-se continuamente a si mesmo enquanto movimento expansional puro; muitas vezes, tenho afirmado, dizia, que sujeito a este sistema de pressões de sinal contrário, o real está a prazo condenado à sua própria impossibilidade teoricamente demonstrável a partir do tal ponto teórico em que deixa de ser capaz de reintegrar a rede anisotrópica criada paradoxalmente para possibilitá-lo passando a integrar, sim, a própria dissipação por resolver.

A minha tese, falando especificamente do social é que a expressão justamente social deste fenómeno de irresolucionabilidade é a Pós-modernidade, aquele ponto da História das sociedades em que estas deixam de ser capazes de rever-se num único ponto projeccional das suas aspirações colectivas mais estáveis e tópicas---um ponto que, num determinado plano cultu[r]al foram as elites e, noutro institucionalmente mais concreto e definido que foi o que chamo o "Estado consciências" moderno.

Que a Pós-modernidade tornou o Estado, para todos os efeitos, impossível parece-me evidente; agora, que esse fenómeno se prende com a própria estrutura material da realidade reflectindo-se numa das suas componentes cultu[r]ais maqis representativas---o domínio do social---eis o que pode, em tese, constituir uma novidade que aqui deixo na forma de uma hipótese de epistemologia ou olhar teórico global e, sobretudo, orgânico sobre o próprio real.


[Na imagem: "Plato's Cave", escola flamenga]

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