sexta-feira, 7 de maio de 2010

"Fernando Nobre À Presidência!" [Incompl.]


Porquê?

Vejamos: sempre foi contenção do titular do blogue que a democracia são também os partidos e toda a estrutura institucional que em torno deles gira mas, em caso algum, apenas e só os partidos ou até principalmente os partidos.

Estes são, se quisermos usar um tipo de imagem muito corrente e comum, o "chassis" da democracia mas, em caso algum o seu "motor".

O motor da democracia é incontornavelmente a Opinião, a Cidadania.

O contrato social democrático básico, primário, determina que esta, por meras razões de funcionalidade e operatividade sistémicas, negoceie periodicamente com um corpo maior ou menos de representantes ou "representativos" seus o exercício do poder político---por isso mesmo chamado sempre de "representativo" ele próprio assim como o próprio sistema, no seu todo.

O 25 de Abril, durante o fecundo embora fugacíssimo período de "laboratório social e político" que vai até 25 de Novembro de '75 trouxe consigo um saudável movimento de "basificação" radical da vida cívica e política da sociedade portuguesa que se configurou nas múltiplas comissões [de moradores, de utentes dos serviços públicos, de inquilinos, de bairro, etc. etc.] que, à época, surgiram ou se aformasram com poderes próprios e que poderiam ter constituido o embrião de uma verdadeira democracia que a "novembrada" de '75, a pretexto de repor a ordem "democrática", cortaria, porém, cerce.

Do "laboratório social" que foi o período que medeia entre Abril de '74 e Novembro de '75 e do impulso---e do espírito---de saudável "cooperativização" do próprio poder político como tal que animou as respectivas dinnâmicas internas poderia, todavia, ter surgido o verdadeiro corpus institucional capaz de constituir-se a prazo, se o tivessem deixado crescer e consolidar-se, como o interlocutor ideal do sistema de partidos, permitindo, desse modo, que aquilo a que nos obstinamos apesar de tudo, em chamar, hoje, 'democracia', possuísse não apenas, como hoje sucede, um corpo mas, de igual modo, uma alma e um espírito que animassem continuamente, em tempo real ou tão próximo do real quanto possível, esse mesno corpo.

De facto, como tantas vezes tenho dito, aquilo que hoje-por-hoje existe em Portugal com esse nome não é Democracia: é um sistema demoformal estrutural---nuclearmente!---corrompido por si próprio em que, por falta de marcadores efectivamente populares e actuantes em tempo real, aquilo que é periodicamente "negociado" entre a a sociedade e os agentes políticos [não já verdadeiros representantes] não é o exercício funcional e instrumental do poder mas o próprio poder como tal.

Na verdade, aquilo que, entre nós, passa comumente por eleições são já, em consequência dessa deformação primária objectual do 'regime'---desse pecado original seu---meras... "des-eleições" por meio das quais a sociedade portuguesa descarta sucessivamente maus políticos e más políticas através de algo que muito mais, pois, do que um voto político é, na realidade a simples expressão de um posicionamento ou des-voto apenas e somente platónico e in/essencialmente "moral".

Se, na definição clássica, a Democracia é a institucionalização e, por via dela, a concretização do direito de os povos de escolherem livremente as formas concretas, materiais, do seu próprio futuro, aquilo que, em Portugal, hoje-por-hoje, passa correntemente por democracia, representa, sim, a "liberdade" de optar pelas modalidades ideiais mas do nosso próprio passado como sociedade o que mostra bem o carácter completamente disfuncional de assistema que o... sistema democrático sofreu entre nós já.

Tudo à nossa volta o evidencia---e permite demonstrar essa deriva anti-sistémica da democracia cujos re/inícios em '74 pareciam, porém, tão auspiciosos e tão prometedores.

Eu não creio nas "democracias apartidárias" ou "suprapartidárias" mais ou menos providencialistas e ilumindas, musculadas.

Creio, sim, que uma democracia assente numa estrutura de partidos não tem necessariamente de derivar para a partidocracia que é hoje inequivocamente o sistema que vigora em Portugal.

Não creio, obviamente, que seja o Presidente da República [mesmo que não se trate de um mero funcionário e tecnocrata como Cavaco Silva mas de um cidadão e de um Homem bom, um Humanista, como acredito ser o Dr. Fernando Nobre] quem, da Presidência da República, vá sanear o sistema político recuperando as saudavelmente activas dinamias sociais e políticas que o 25 de Abril trouxe.

Nem creio, aliás, que Fernando Nobre ganhe as próximas eleições.

Não estão reunidas as condições objectivas e subjectivas de agudização da vida económica, social e política [ou geopolítica!] nacional que propicie uma vitória do meu candidato sobre os dois ou três candidatos oficiais ou oficiosos do status quo.

Agora, aquilo em que creio é que a candidatura Fernando Nobre possui virtualidades e potencialidades inestimáveis que vão muito claramente no sentido de um desejável e significativo redespertar da consciência dos cidadãos e, de uma forma mais directa, concreta e específica, das dinamias sociais, políticas ou até simplesmente mentais que vieram torrencialmente à superfície da História e da Política em Abril de '74 e que, em breve, se perderam em resultado da re/acção de politicões astutos e ardilosos que muito bem compreenderam precisamente até onde, em termos de verdadeiro saneamento e de efectiva democratização das formas essenciais da nossa existência colectiva, aquelas experiências poderiam ter conduzido.

A pessoa do candidato é ética e civicamente inatacável e até mesmo algumas aparentes fragilidades como as várias mutações que a sua intervenção cívica e política sofreu ao longo dos tempos podem, afinal, constituir não apenas a prova de que é preciso procurar sempre sem complexos e sem pré-juízos, sem docilidades e fidelidades formais acríticas e limitadoras da da própria liberdade individual para escolher as formas mais adequadas de nos reencontrarmos com a Cidadania como, sobretudo, a de que não é já mais possível encontrá-las dentro do sistema, estando, pois, por fim, abertas as portas, políticas, instituionais, mentais, etc. que hão-de levar à renovação senão mesmo à revolução daquele que é já hoje, para todos os efeitos, um sistema político sem vida e sem qualquer hipótese demonstrável de auto-regeneração espontânea e/ou endógena.

4 comentários:

Ezul disse...

Por mim, SIM! Já é tempo de trazer alguma dignidade e humanismo para o mundo da política!
Que seja o tempo das papoilas! Por mim, elas encherão os campos e as cidades!
:)))

Carlos Machado Acabado disse...

Que seja esse---que VOLTE a ser!---esse, pois, que "o outro" já quase não se pode respirar...
:-)))

Ana disse...

Como calculas, concordo absolutamente contigo !
Sublinho : " O motor da democracia é incontornavelmente a Opinião, a Cidadania".
Como diz a Ezul... que seja o tempo das papoilas !
Um abraço grande, meu amigo Carlos.

Carlos Machado Acabado disse...

Que seja esse tempo, sim, Ezul, que já é... tempo e que comecemos todos nós JÁ HOJE a prepará-lo, Ana!
Um grande beijinho e um apertado abraço de cumplicidade activa e militante às duas!