segunda-feira, 31 de maio de 2010

´"Uma Moral e uma Educação [Realmente] do Século XXI?"


Abro o dia "quístico" de hoje com uma citação que faço antes de sobre ela produzir quaisquer comentários ou reflexões quie a leitura do próprio texto, só por si, dispensa, aliás.

Esclareço aspenas que a citação é extraída de uma reportagem de Alexandra Lucas Coelho, inserta na revista "Pública" do "Público" de 30.05.10 intitulada "Há verdade, falta reconciliação" e diz assim:


"Num país [a África do Sul] com tantos desequilíbrios sociais e em que o vírus [HIV] chegou tarde, o próprio Nelson Mandela se penitenciou por não ter actuado mais cedo.

Ele tinha ideia da ameaça. O ex-correspondente do Financial Times Alec Russell recorda-se de um discurso de Mandela em 1994, ainda antes de ser Presidente, em que ele tentou dizer à juventude do ANC que a sida podia "destruir" o país. E avisou: "Temos um problema na nossa sociedade porque não falamos de sexo. Quando uma criança pequena pergunta: 'Mãe, de onde venho?', o que vem a seguir é uma bofetada." Começou um sururu na sala, recorda Russell, mas ainda assim Mandela prosseguiu, falando de sexo seguro e preservativos. No fim vieram ter com ele: "Como pode falar assim? Quer que as nossas raparigas vão dormir com os rapazes?"

É impossível, penso eu, lendo "isto" não "ouvir" toda uma série de "argumentos" em defesa... não se percebe, aliás, exactamente de quê mas enfim [de uma... "moral" qualquer que ninguém entende muito bem]; "argumentos" esses que vão desde o imperativo do "combate ao preservativo" [por "razões" ligeiramente diferentes destas, na forma, é preciso reconhecer] até àquela inimaginável... "tese" ministerial que coloca a "Educação Sexual" nas escolas públicas no âmbito dos... "problemas de consciência" [não será: da in-consciência oficial do poder político?] ou das opções "morais", retirando-o de uma forma escandalosamente aberrante e cientificamente cobarde do da Ciência.

O resultado na prática é o mesmo, aliás---e isso é que conta, aliás.

São problemas na gestão do alastramento da doença---da Sida como, por exemplo, da hepatite---ou da da taxa de gravidezes adolescentes e por aí adiante.

A julgar pela... virginalmente escandalizada atutude de censura feita a Mandela [tão pitorescamente verbalizada naquele "Quer que as nossas raparigas vão dormir com os rapazes?"] poder-se-ia supor que no país de Mandela a contenção sexual prevalecesse.

Continuando, todavia, a ler o artigo de A. Lucas Coelho ficam-se a conhecer coisas como esta que certamente hão-de encher de orgulho os propugnadores da tese da "ignorânciia como indutor da moral" entre os jovens daquele país:

"Compra-se sexo por 20 ou 30 rands [dois ou três euros] [...]"

ou

"As raparigas começam as ter sexo com 14 anos [...]
Mas como é isso dos 20 rands? É uma prática comum?
---Um rapaz vem ter comigo e quer sexo. E tu pedes-lhe que dê algio para ajudar."

Poder-se-ia ser levado a pensar em prostituição---em prostituição formal, profissional, mesmo ainda que muito precocemente iniciada.

A autora da reportagem esclarece, porém, de imediato, para que não nos restem quaisquer dúvidas:

"Nomsa não está a falar de prostituição, está a falar do meio que conhece da towship."

É preciso dizer que aquilo que me move ao reproduzir aqui esta citação não é sequer pôr em causa as práticas sexuais da juventude sul-africana---ainda que, como é evidente, uma visão tão fria e obviamente tão causual e tão desencantada, tão evidentemente desvalorizadora, da sexualidade, para mais iniciada em idades tão precoces tenha inevitavelmente de levantar toda a espécie de reservas tendo em conta pressupostos de natureza estruturalmente humanista e de respeito pela dignidade do ser humano e das respectivas práticas enquanto valor em si---para já não falar noutros aspectos mais concretos e mais pragmáticos como os que envolvem a Educação dos filhos nascidos em condições de tão evidente degradação das relações entre os indivíduos.

Claro que existe um juízo de valor implícito na formulação destas questões mas aquilo que está primariamente aqui em causa são questões de saúde pública que, no âmbito específico da SIDA, atinge no caso sul-africano proporções de calamidade.

Como português, assusta-me que possam, em Portugal, escrever-se artigos descrevendo atitudes relativamente às questões de natureza pedagógica, educacional, especdificamente no caso da Educação Sexual com a gravidade daquelas que acima se referem a propósito de uma intervenção pública de Nelson Mandela; que a ninguém escape o que nessa [singularíssima para não lhe chamar outra coisa] visão da "educação" e da "moral" [da explosiva mistura que, em termos educacionais e, por consequência cívicos e sociais, configura a fusão da responsabilidade política [e técnica!] de educar com toda a espécie de absurdos pudores e supostas moralidades que mais do que genuínas morais não passam de preconceito im/puro e simples gratuitamente travestido de normativo de ordem ética]; como português, dizia, assusta-me que estejamos todos conscientes das consequências de uma "educação" que, na prática, é uma não-educação consistentemente institucionalizada [uma "agnosia por razões morais"]; que a observemos em sociedades onde ela atingiu já um grau e uma dimensão verdadeiramente alarmantes mas, apesar disso, não sejamos capazes de formular uma atitude completamente diferente dessa de brincar à Educação também em áreas e domínios onde a possibilidade de diswfunções é praticamente instantânea nem mesmo com "exemplos" como aquele que pia África do Sul de tradição puritana calvinista oferece à saciedade.

Pelas possíveis consequência deste último tipo, de ordem sobretudo prática ainda que não apenas envolvendo a SIDA [a ignorância, mesmo por razões---ou como [aberrante!] imperativo..."moral" e política de Estado---conhece inúmeras maneiras de reportar sobre as sociedades onde é incentivada e cultivada mas até pelo significado, em termos cultu[r]ais e mentais, que esta [hoje-por-hoje dificilmente explicável] "confusão" entre Ciência e consciência" envolve enquando fundamento de uma verdadeira "sociedade do conhecimento" que, por aí, tanto se ouve apregoar...


[Imagem extraída com a devida vénia de ablogofourown-dot-files-dot-wordpress-dot-com]

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