quinta-feira, 23 de julho de 2009

"Fatalidades..." (T.i.P, text in progress)


De um "Público" já consideravelmente 'idoso' do meu cada vez mais farto e variado arquivo pessoal, começo, desta vez, por extrair um cabeçalho (cf. "Público" de 10.12.07) que diz: "Portugal falha meta europeia para redução de mortes nas estradas".

Surpresa?

Pelo contrário: pura inevitabilidade para não dizer: absoluta, total fatalidade!

O que seria difícil seria, aliás, o contrário, isto é, que as não falhasse.

Falha essas como falha, de resto, as que dizem respeito aos valores de sucesso educativo real (em Matemática, Português ou... Chinês Aplicado!) como falha as que se reportam às áreas (também essas, porém, democraticamente nucleares!) da Justiça, da Segurança Social e/ou da Saúde.

E falha-as (está condenado a falhá-las) diria eu, exactamente porque se trata de componentes essenciais---de componentes básicas---de uma Democracia orgânica de que Portugal, o Portugal actual, o Portugal dos Cavacos, dos Sócrates que é, também, o Portugal dos Freeports, o Portugal dos "bê-pê-énes", o Portugal dos Loureiros (dos diversos---e ainda são bastantes...); o Portugal dos Oliveira Costas, das "motas-engis" e por aí fora---o Portugal cada vez mais... mera desculpa económica e geográfica para país...; esse Portugal, dizia, falha todas as metas como aquela que o jornal refere por uma razão, afinal, bem vistas as coisas, bem simples: porque, na realidade, dessa democracia de que todos falam sem cessar sem que, na verdade, para aí oito em cada dwez dos que o fazem tenha, no fundo, a mínima noção do que diz, dela apenas conhece, na prática, uns avulsos (e, por isso, completamente inoperantes!) 'arremedos' puramente formais e inorgânicos extraídos "pêle-mêle" do folclore respectivo institucional ordinário (umas eleiçõezinhas de vez em quando, uma Assembleia dita "da República" pontualmente eleita a pretexto de ser necessário que os legítimos interesses da Cidadania possuam expressão operativa real mas da qual, na prática, se espera, todavia, apenas que forneça uma espécie de grande alibi político regular "por avença" aos manejos vulgares do que não passa, na realidade, de uma grande "off-shore... terrestre" «com um regime político a toda a volta»---e pouco mais).

A outro nível, o das elites que, porém, o poder já conseguiu quase completamente "engolir" (eu diria: que o poder logrou já definitivamente pôr, na sua esmagadora maioria... "por conta") o costume é o consumo mais ou menos diário de uns quantos acepipes "pós-ideológicos" sortidos (um Popperzinho com trufas seguido de um suculento "Keynes aux petits avec un soupçon de Tocqueville" com a alternativa de um "Lipovetski aux haricots verts "tudo regado com um bom Habermas tinto 1980) que o mesmo é dizer, como na clássica alegoria platónica, as sombras ou os ecos puramente teóricos constantes dos livros que a maioria, pantagruelicamente alimentada a telenovelas da TVI e a graçolas de Fernando Mendes nem sonha sequer que existem e os que sonham nem em... sonhos gostariam, na realidade, de ver postos em prática.

Este é, como disse, o país dos Cavacos e dos Sócrates---onde os livros (quaisquer livros exceptuando os calhamaços intragáveis do Sousa Tavares vendidos "a peso" a uma audiência que prometeu já aprender a ler para poder degustá-los, talvez, um dia ou as coisas inomináveis que a Sra. D. Rebelo Pinto recopia pacientemente de si mesma, à média de um por mês); os livros, dizia, só atrapalham num país onde o sonho da juventude, devidamente "incentivada, mesmo quando [os seus componentes] ainda são bébés [sic!], pelos pais" passa por "ser a próxima Floribella" (cf. o "Público" de 27.05.07); onde a "Economia viveu em crise durante quatro anos" (cf. "Correio da Manhã" de 11.05.07) mas onde "os lucros cresceram 72,5% nos quatro grandes bancos portugueses (ibid. loc.cit.); onde "a caopitalização bolsista dos três maiores bancos cotados [atingiu] no final de 2006 21,4 mil milhões [sublinhado meu] (ibid. loc. cit.) mas onde, em contrapartida, por exemplo, "só 10 por cento [sublinhado meu] dos idosos e pessoas dependentes têm cuidados adequados (cf. "Público" de 24.05.07) e onde não só a "miséria atinge nove mil pessoas e está a aumentar" (cf. "Correio da Manhã" de 03.02.07) como "metade das famílias portuguesas [metade!---Destaque meu] esteve em situação de pobreza pelo menos um ano entre 1995 e 2000" (cf. "Público" de 27.05.07).

Este é o país onde "cresce [o] número de filhos que batem nos pais (cf. "Correio da Manhã", desta vez a edição de 23.03.07); onde "faltam opções de transporte público para quem quer deixar o carro em casa" (cf. "Público" 26.05.08); onde, segundo "Os Verdes" "o governo vende o ambiente" (cf. "Público" de 18.04.08) e onde, realmente, segundo o "Diário de Notícias" (desta vez a edição de 30.05.00) "empresários atacam a serra" [de Aire e Candeeiros para pedreiras]; onde, segundo o mesmo jornal, agora na edição de 11.05.07, só "as dez maiores empresas nacionais subiram 122%" o que vale por dizer que "enquanto o número de trabalhadores diminuiu" os lucros das empresas em causa cresceram "oito vezes mais [sublinhado meu] que a economia nacional" inteira, sempre segundo o mesmo número do jornal citado; onde (ainda segundo a mesma fonte) a Caixa Geral de Depósitos, o banco "do Estado", "revela lucros consolidados globais de 5,5 mil milhões de euros", ou seja, "mais do dobro do registado [...] em 2002"; onde "o mais comum é ex-políticos fecharem a sua carreira profisional com uma saída em beleza para as empresas" (cf. "Expresso" de 12.04.08 que dá o exemplo da "contratação de Jorge Coelho para a administração da Mota-Emgil---a quem concesionou negócios no valor de 1000 milhões de euros, durante o período em que foi ministro das Obras Públicas" assim como a revista "Sábado" de 17.01.08, dá o de um outro ex-ministro, "Ferreira do Amaral [que] sem vergonha [sic] negociou contratos de um lado e renegociou-os de outro [e] deu benefícios de um lado e recebeu-os do outro"); onde segundo Luís Sousa, "politólogo e mentor do Observatório de Ética para a Vida Pública", "em Portugal não há regulamentação para o lóbi [...] porque nós não somos uma democracia plural e participativa" (ibid. loc. cit.) mas onde o "PS rejeita criação de um observatório da corrupção" (cf. "Público" de 01.02.08).

Este é, ainda e sempre, o país onde "estudo inédito [...] confirma persistência da pobreza" (cf. "Público" de 27.05.07); onde "o problema do desemprego ainda não teve solução" (cf. "Diário de Notícias" de 11.05.07: só a PT, por exemplo, em cinco anos desfez-se---e volto a citar aqui o "Diário de Notícias" de 11.05.07---de 25%, isto é: um quarto (!) dos seus funcionários) mas onde um idiota qualquer "de pena em riste" afirma em título, com a negligente pesporrência que dão a loucura (ou a "simples" estupidez) que... "a tristeza é marxista" (cf. "Dia D", 16.02.07, página 37) o que talvez se explique, aliás, precisamente pela lucidez agudamente estimulada desse mesmo marxismo ao contemplar o inenarrável "espectáculo" social, político e (mais grave ainda!)civilizacional dado, nas múltiplas áreas e domínios citados, pelas sociedades "democráticas" não... marxistas...

É este país que não cumpre as metas--- no caso, como disse, as que se referem à segurança rodoviária, mas lendo todos estes cabeçalhos de jornal percebe-se sem dificuldade porquê.

Como pode, com efeito, um país onde todas estas coisas acontecem (e recolhi a informação que agora presto de apenas meia dúzia de recortes de jornal escolhidos quse aleatoriament de uma pasta titulada "Portugal") cumprir metas, sejam elas de que tipo for?!

A única surpresa (ou até... escândalo!) será mesmo haver algumas que... se cumprem!

É que este é também o país onde (e isto para terminar, para já) um condutor embriegado que atropelou (e matou!) um jovem que seguia com outro (que ficou ferido) na berma de uma recta com boa visibilidade em Leiria---factos que o tribunal que o julgou considerou, naturalmente esegundo o "Correio da Manhã" de 01.06.07---de (e cito) "particular gravidade" apanhou... "três anos de cadeia" (!!) e ainda por cima "com pena suspensa" (!!!) pois, segundo o mesmo tribunal, "é merecedor de um voto de confiança" (!!!)

É incrível como a morte de um jovem "custa" a quem o matou (além de 181 mil euros que é, plos vistos, o valor monetário oficial de uma vida humana) três anos, não na cadeia, mas, na realidade, fora dela?

Não!

Tendo em conta quanto para trás fica dito, não é incrível---longe disso!

É forçoso e natural!

E esse é que é o mal!...


[Imagem extraída com a devida vénia de integras.blogspot.com]

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