Morreu, com efeito, a que segue sendo (para mim, pelo menos) a mais inteligente, esclarecida, intelectual e esteticamente estimulante e também a mais beckettiana das coreógrafas contemporâneas.
Das coreógrafas contemporâneas vivas.
Desapareceu a Artista que melhor terá casado a pesquisa com a genuína inspiração, o cálculo e a geometria com a mais explosiva mas também lúcida e penetrante das emotividades, a ordem e o caos, a inquietação e a angústia com o mais puro e, não-raro, triunfal e esplendoroso dos êxtases!
A transgressora por excelência foi, também, o mais esplandecente e sensual dos "animais clássicos da harmonia" no exacto sentido em que nela, nos seus grandes momentos de Criação, se fundem, em última instância ("en fin de partie", como diria Beckett) de forma absolutamente perfeita, o Tempo e a sua torturada negação, a disconformidade e a harmonia, a Eternidade e o Nada, a existência e os seus arquétipos, o Agora e o mais exacto, apoteótico e definitivo ("definitivivo", poderia dizer, por sua vez, Mia Couto...) dos Sempres.
Foi como se uma das mais puras e ousadas asas de vidro ou de cintilante e luminoso cristal da própria Dança se tivesse inexplicavelmente, de súbito, rendido, definitivamente exausta, à monstruosa, inominável abjecção dos limites!...
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