sexta-feira, 17 de julho de 2009

"[Se eu quiser...] A Minha Democracia É Maior Que A Tua..."


Num recorte do "Público" (acabadinho de sair do meu arquivo pessoal) deparo com uma singularíssima notícia datada de 12.05.09 com o título "Democracia portuguesa avaliada com a nota máxima".

Ora, quando em Portugal se fala de "democracia", já sabemos o que se deve entender por isso, portanto por aí estamos conversados...

Aquilo a que eu acho graça é o modo como, no fundo, todo sistema (é verdadeiramente de um "sistema" de que aqui se trata...) trabalha, de forma consciente ou inconsciente, para veicular esse enorme equívoco de base que pretende que, em países como Portugal (e, estou convicto, na chamada "Europa", de uma maneira geral) se vive, hoje, trinta e tal anos volvidos sobre o 25 de Abril, se vive, de facto (não falo de direito: falo de facto) em DeAdicionar imagemmocracia.

Assim se perpetua, na realidade, o equívoco: tantas vezes e de tantos modos distintos, se repete a inverdade que, de súbito, é quase inelutável que muitos acreditem que, se tanta gente o diz, "tem de" ser verdade...

Não menos curioso é, por outro lado, o que parece ser o critério (ou, no mínimo, um dos critérios) usados para "medir" a democraticidade" do 'regime' ou 'regimes' que por esse nome circulam nas lucubrações e análises do "politólogos": aparentemente (a fazer fé no jornal) os critérios em causa são: (i) liberdade das candidaturas (?), (ii) condições dos recenseamentos eleitorais e (iii) a equidade da votação e os processos de contagem dos votos e liberdade de expressão nas campanhas eleitorais.

Ora, tratando-se no caso de Portugal, da vizinha Espanha ou de França, para só citar estes "vizinhos"; países da Europa (sem aspas...) em pleno século XXI por que cabeça passaria, com efeito, por exemplo, que não houvesse meio tecnológico de contar com um mínimo de precisão os votos de uma eleição?!

Que diabo! Em Portugal, pode haver apenas anti-virais contra a gripe A para menos de um terço dos habitantes e pode-se morrer (literalmente: morrer!) numa lista de espera para cirurgia contra o cancro ou outra patologia qualquer que exija intervenção cirúrgica.

Isso não são, aliás, aparentemente (claro!) escandalosos atentados contra os direitos humanos mais básicos: serão inevitabilidades estatísticas, questões orçamentais, problemas de (ausência de) prioridade investmental "par rapport" a uma dificilmente argumentável terceira travessia do Tejo ou a um tal TGV que, segundo muitos, se justifica, sobretudo, como (juro!) um sinal de integração na "rede" europeia de... vá-se-lá-saber-ao-certo-de-quê ou coisa parecida...

Podemos, então, repito como país deixar, em pleno século XXI, morrer compatriotas em nome de um "sinal" dado não-sei-a-quê-ou-porquê ou de uma terceira ponte e um aeroporto mais ou menos... "dançarino" que, dantes era urgente que "jammais" saísse não sei-de-onde mas que, depois, não só saíu como, em mau grado o "jammais" da urgência, até pôde, nas calmas, ser adiado para o dia-não-sei-quando-à-tarde...

Podemos mas... caramba! Não haver por aí meia dúzia de "Cagalhães" sortidos para recensear, primeiro, uma mão cheioa de portugueses e para contar, em seguida, outros tantos votos deles, seria, de facto, uma proeza única!...

Se isto é critério que sirva exactamente do mesmo modo (como parece, aliás, ser o caso) para o Burkina Faso e para (sei lá!) apesar de tudo, a Alemanha da Merkel eu começo já por ir-ali-e-votar com o rigor da "coisa"...

Há, depois, falando, por exemplo, de liberdades, os funcionários públicos em geral, isto é, todo um sector social e profissional minuciosamente precarizado de alto a baixo por um poder político "pê-ésse", em doses iguais, impiedosamente "pesetero" e boçalmente míope que só vê números e cifrões à frente e há, de um modo muito particular, os professores, a minha classe profissional, que, imolada (é o termo!) como classe à obscena incompetência de meia-dúzia de carreiristas sem talento algum e contabilistas-de-vão de escada apressadamente mascarados de ministros e secretários de estado, viram o pouco que a muitos deles restava de segurança profisional ser entregue de mão beijada ao jogo imoral dos compadrios e do 'cunhadismo' e do 'vizirismo' autárquico---vêm daí, como se sabe, os novos mentores "pedagógicos" da rede escolar segundo os delirantes projectos educativos/organizativos do "sucatismo" no poder---o que (era aqui que eu queria chegar!) diz tudo em matéria de liberdade, por exemplo, de manifestação e, de um modo geral, de consistente e verdadeiramente livre intervenção política... democrática da classe.

E nem falo já no condicionamento perversíssimo centrado nos meios ditos de "comunicação social" objectivamente governamentalizados (leia-se: estrategicamente partidarizados) da televisão aos diários cujas administrações provêem de designação política expressa---que faz com que certos jornais com o famigerado "Diário de Notícias" à cabeça operem, muitas vezes (demasiadas, seguramente!) como "órgão oficioso" do poder político, hoje do "pê-ésse" como antes do "pê-ésse-dê" e amanhã do que vier, seja qual for o que vier...

Sempre falando da consisteência e fiabilidade dos critérios, é preciso dizer ainda (e com isto termino: é um excelente ponto para objecto de reflexão e meditação) "comme par hasard" entre os "últimos classificados" na tabela da organização E-parliament que elaborou este ranking encontram-se (adivinharam!) Cuba, Coreia do Norte e China...

"Quod erat demonstrandum", como dizia "o outro"...



Ah! Já me ia esquecendo: esta 'entrada' do "Quisto" foi-nos oferecida por..."Wise Guy tutoring" (de 'wise' for 'wise' and 'guys' for 'guys'"...)
Pois...

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