Fecho por hoje a "loja", regressando a um tema que me é afectiva e emocionalmente muito caro: o velho cinema "Olympia" onde, como digo noutro lugar deste "Diário", passei (literalmente) incontáveis horas de puro deslumbramento e completo fascíno.
O "Olympia" era na época em que eu o 'visitava' um cinema já definitivamente 'perdido' para as pessoas de uma certa (pequeníssima! Minúscula, mesmo!) burguesia "respeitável" que definitivamente lhe preferia os incomparavelmente mais "sérios "Lys" ou "Terrasse", por exemplo.
Nós, os mais jovens, podíamos permitir-nos ser vistos a entrar ou as sair do "Olympia" na época m que ele passava umas "cowboyadas" incríveis que se ouviam (outra vez: literalmente!) no exterior!
O bilhete custava "três mil e quinhentos" (três escudos e cinquenta centavos) e não havia lugares marcados: entrava-se (cheirava indescritivelmente mal, a suor---um cheiro adocicado e pegajoso que, também ele, chegava perfeitamente identificável ao exterior...) e, se não se tinham mais cinco ou dez 'tostões' para o indescritível arrumador, às apalpadelas procurava-se lugar nas inconfundíveis cadeiras de pau que, no intervalo, se deixavam marcadas com um lenço para se poder vir cá fora, fumar um "Aviz pequeno" ou um "Suave".
Muito desse adolescente fascínio de que comecei por falar prende-se com um filme visto lá (há já mais de meio século---meu Deus! Já passaram... cinquenta anos!...) com o Gary Cooper e a estonteante Paulette Goddard (a "kid" de "Modern Times" de Chaplin, que viria a casar com o Remarque, do "Arco do Triunfo" e do outrora ultra-famoso e muito generosamente pacifista "A Oeste Nada de Novo"), filme esse intitulado "Northwest Mounted Police" (em português tinha um título simplesmente fabuloso, "Os Sete Cavaleiros da Vitória") que me marcou de tal modo que nunca mais o esqueci.
Ao filme, ao Gary Cooper e à Goddard e ao puro êxtase em que segui as peripécias de um "yank" na corte dos "mounties" (que vim eu próprio a re/viver, de dólmen vermelho e revólver, um e outro imaginários mas tão excitantes---sem esquecer, 'mortíferos'!...---como se realmente existissem, Almirante Reis acima, abatendo índios no Martim Moniz e traficantes de whisky e armas, já ao virar da Rua Maria Andrade, aos Anjos...); a todos eles, dizia, deixo aqui uma sentida homenagem fotográfica, do escassíssimo material que a Net guardou, muito em particular, do filme.
Ah! Já me esquecia... Acho que, nesse mesmo dia, também matei uma "squaw" quando ia já a entrar em casa mas como estava já muito escuro, não tenho a certeza...
[Na imagem: Gary Cooper e Madeleine Carroll em "Northwest Mounted Police" de Cecil B. de Mille]
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