domingo, 12 de julho de 2009

"A «Itália à Antonnelli» ou «Oh! Dio! Como sono caduta in basso!..."

Hoje, vamos aqui falar sobretudo de... "Política", de "Política" internacional.

Ou de... "pulhítica", como dizem lá para a Madeira...

Falemos, pois, de "pulhítica"!

Falemos designadamente, desse inominável bufão que é aquele "tipo" que os italianos foram desencantar sabe-se lá onde e acabaram por meter "lá em casa" (numa casa que, volto a dizer, já foi de Gente como Dante, Miguel Ângelo, Rossellini, Pratolini ou Visconti) para (como a própria personagem não se cansa, aliás, de dizer, 'governá-los' e 'representá-los', nacional e (mais grave ainda!) internacionalmente...

É verdade que estamos a falar de um país, a Itália, que também já foi "de" uma certa tópica e persistente vulgaridade muito romana (copiada, em geral, 'à pressa' e quantas vezes 'a traço grosso e em papel de embrulho' do esplendor artístico e intelectual da Grécia) e que o foi, ainda, de resto e para não irmos mais longe, também, "da" Mafia, "da" Camorra napolitana, "da" menos conhecida (mas desgraçadamente, não menos sinistra!) N' Dranghetta, "de" D' Annunzio, "das" palhaçadas textuais" e pseudo-intelectuais (dos espalhafatosos, falsamente "ideomórficos"... "espirros" ou "borrifos verbais" de Marinetti---esse... "António Ferro do Tibre"), do 'equívoco' Malaparte e (claro!) do clownesco Ciano e do impagável, "rigolettiano", Mussolini...

A compensá-los, porém, houve sempre "por lá" Veneza (não a do "Mercador"---ou a "dos mercadores": a de Lean, Thomas Mann e Visconti, sobretudo); Florença (também aqui, não exactamente a dos Medici e a do sangrento "papado" local que a marcou e violou durante séculos mas a do "David" e do Pontevecchio---vistos, um e outro, à distância de, digamos, cem ou duzentos turistas, pelo menos...---da Piazza della Signoria, do Batistério e dos Ufizzi ou das ruas tão 'fecundamente labirínticas' e tão a-geometricamente... subversivas de Sanfredianno; a Florença de Pratolini, de Galileu e Dostoievski---que lá moraram e trabalharam---ou ainda, entre tantas outros objectos possíveis e impossíveis do espírito, do Lungarno, das cerâmicas de Della Robbia e Casa de Dante.

A compensar, ainda, a Itália sempre verdianamente excessiva e fatalmente um pouco trágica, incuravelmente fátua de Pantelleria e do eterno Carnaval fascista em geral, houve, apesar de tudo, sempre a Itália de Vittorini e Buzzatti, de Vicenza, de Verona (uma jóia geralmente menos prezada num país que é todo ele uma jóia!) e até da nublada, provinciana e, no fundo, de um modo ou de outro, demasiado 'geométrica' Ferrara.

Ora, para quem conheceu (e amou!) com o latino coração em permanente exaltação ao percorrê-las, uma a uma, de Bordighera e Ventimiglia para baixo, todas 'estas Itálias', deprime e aterroriza o modo como ela parece ter-se definitivamente rendido a um bufão que nem tenebroso (como, por exemplo, o reptilíneo Andreotti) ou "disfarçadamente ladrão" e "funcionalmente" esquerdóide (como o "padrinho" Craxi) consegue ser.

Berlusconi é á Itália de opereta agravada pelo acrescentamento "estratégico" de uns pózinhos difusos do "Cuore" e/ou de algo do espírito caracteristicamente pegajoso, adocicado, insuportavelmente víscido de uma das execráveis novelas de Guido Da Verona---a Itália no que ela tem de mais steno-moniccelliano, tótóesco ou gassmannesco (lembram-se desse fabuloso personagem de "D. Juan das hortas" feito por Gassmann em "I Solitti Ignoti"?...) pior---no aparentemente impensável (não sei se posso dizer assim:) sentido em que visa trazer toda essa quinquilharia cultural e carnavalescamente pseudo-humana de uma só vez para a realidade.

Berlusconi é o estanhado, insolente, incorrigível e impenitente alicantineiro, o "corajoso" 'caçador de ciganos' indefesos, o "indómito" 'disciplinador de frágeis minorias', o mais que provável cliente de prostitutas (senão, segundo alguma imprensa, de coisa pior ainda...), numa palavra: o vendedor de guias turísticos de Roma ou Pompeia, que alguém, um dia, por acaso, se lembrou de confundir com um Homem de Estado e pôr à frente de um país que não merecia, longe disso, semelhante insulto.

A mim que não sou (como dizer?) 'fisica' mas apenas 'intelectual, cultu(r)al e sentimentalmente italiano' choca-me que esta inimaginavelmente grotesca personagem de ópera buffa possa ter assento no lugar político que foi de Garibaldi e que dela, personagem, se diga (como o britânico "Guardian", segundo o "Público", escrevia, um dia destes, que---impensável, definitiva humilhação!) por sua causa ultimamente muito "se tenha falado da possibilidade de expulsar a Itália do G8" e que dele (assim como, aliás, de toda uma "constelação" de 'homúnculos políticos' em tudo similares tais como---para citar apenas outros dois... "exemplos" de "junk politician" obscenamente coroado às mãos de uma "Europa" que se define tragicamente pelo tipo de "gente" na qual se revê, gente "famosa" pelos piores serviços prestados à causa da Democracia: um tal Barroso e um tal Blair); uma "Europa" que espera (como a inefável Teresa de Sousa não se cansa de sonhar e de cantar em infindáveis "homilias" jornalísticas diárias no martirizado "Público") que "dali" saia a unidade europeia que a "Europa" não consegue (nem manifestamente quer!) sequer fazer com as suas próprias populações e as sociedades que a começam logo por compô-la de dentro ou a partir de dentro---e 'de baixo'.

E que, teimosamente, se recusa a perceber por que precisas, exactas, razões nunca conseguiu saíu do... "armário", isto é, do "laboratório"---ou melhor ainda: dos gabinetes de contabilidade---onde foi (e onde continua, de resto, paulatinamente...) no mais escandalosamente anti-democrático e (im) puro secretismo, a ser, dia a dia, laboriosamente "talhada por medida"...

Sem comentários: